Cenas íntimas e cotidianas são retratadas com simbolismo e naturalidade por Jan Van Eyck
Izabel Duva Rapoport Publicado em 02/05/2021, às 10h00
Um quarto de dormir, um mundo privado, um casamento. Nesta obra, de 1434, o pintor flamengo Jan Van Eyck retrata a união dos italianos Giovanni de Arrigo Arnolfini e Giovanna Cenami, que viveram na cidade de Bruges, na atual Bélgica, entre 1420 e 1472.
Era um tipo de encomenda comum no século 15, porém, esta seria uma análise um tanto superficial. Na obra, mais do que testemunhar o matrimônio de um próspero comerciante burguês, o pintor testemunha a revolução que estava vivendo a arte gótica flamenga naquela época – que se distinguia pelo realismo.
Nos Países Baixos do norte da Europa, os pintores, também chamados de primitivos flamengos, trouxeram o sagrado (influente na arte medieval) para o mundo real: pintaram cenários domésticos, íntimos e cotidianos dentro de salas e quartos.
Em O Casal Arnolfini, ao realismo da arte gótica soma-se o estilo do autor. Além da naturalidade e da riqueza lendária de detalhes (Jan Van Eyck era também miniaturista e iluminador de manuscritos), o artista apresenta simbolismos e conceitos ainda desconhecidos, como o deleite na reprodução de objetos e a acentuação da luz e da perspectiva.
Basta olhar com atenção para o espelho ao fundo para ver a cena invertida, incluindo o reflexo do próprio artista. Características, aliás, que só foram possíveis pela técnica utilizada na obra.
Jan Van Eyck e seu irmão são conhecidos por aperfeiçoar o composto do óleo para pintura, ampliando sua gama cromática e criando cores mais vivas.
Entenda os detalhes da pintura abaixo.
O castiçal de sete braços contém apenas uma vela, provavelmente a que a noiva ofereceu ao noivo segundo tradição flamenga. À luz do dia, acesa, simboliza a presença permanente de Deus.
Este é o item mais misterioso do quadro. Além de mostrar o talento de Van Eyck – o espelho mede apenas 5,5 cm e, ao redor dele, há todas as estações da Via Sacra, cada uma com apenas 1,5 cm de diâmetro –, um olhar atento percebe que não é só o casal Arnolfini que está lá: há o reflexo de outras pessoas, provavelmente o clérigo e o próprio pintor.
Acima do espelho está escrito em latim “Jan Van Eyck esteve aqui 1434”, o que, segundo estudiosos, é uma assinatura que pode ter tido a função de testemunho de um ato solene.
Um presente habitual do noivo à futura esposa. Cristal é sinal de pureza e rosário sugere a virtude da noiva e sua obrigação de ser devota.
O penteado de Giovanna era típico da região e tinha uma armação por dentro para impedir o véu de cair nos olhos. Assim como os tamancos, mostra a adoção dos valores nórdicos pelo casal.
Importadas da Índia, as laranjas serviam como itens de luxo. Eram envernizadas e deixadas pela casa como símbolo de riqueza.
Os tamancos pelo chão (e não nos pés) representam o vínculo do casal com o solo sagrado do lar e indicam uma cerimônia religiosa. Naquele tempo, acreditava-se que pisar no chão descalço assegurava fertilidade.
As cortinas vermelhas da cama simbolizam o ato físico do amor e a união do casal. A cor verde do vestido da noiva sugere a esperança e a fertilidade. E a touca branca, a pureza.
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