Nos anos 1990, Faustão apostou em uma programação apelativa e constrangedora para conseguir obter audiência na competição entre emissoras
Isabela Barreiros Publicado em 18/09/2020, às 06h00
Ao longo dos anos 1990, a televisão brasileira passou a ser um palco de competições entre diversos programas que tinham quase o mesmo princípio. Em 18 de setembro de 1996, a revista Veja estampou a manchete: “Mundo cão na TV: até onde vai a apelação?”.
A crítica dizia respeito a até que ponto os apresentadores poderiam ir para obter audiência. Eles poderiam trazer personagens para humilhá-los e criar muitas situações polêmicas. No ano do título da Veja, Faustão liderava em audiência, mas Gugu crescia a cada semana. Isso fez com que uma competição pelo Ibope se instalasse na TV.
Confira a seguir 5 curiosidades sobre o caso Latininho, o jovem humilhado durante um programa do Faustão:
1. Quem era Latininho?
Em 8 de setembro de 1996, o programa Domingão do Faustão, da Globo, recebeu o jovem Rafael Pereira dos Santos, de apenas 15 anos, que ficou conhecido como o icônico Latininho. Com 87 cm de altura, o adolescente possuía síndrome de Seckel, que fazia com que ele desenvolvesse microcefalia, nanismo, deformações faciais e até mesmo um quadro de deficiência intelectual.
Como é possível perceber por seu apelido, ele foi ao programa vestido como o cantor Latino e chegou até mesmo a dançar junto com o artista no palco do Faustão. No entanto, a situação era extremamente constrangedora para todos os que estavam assistindo. Era claro que aquele era um terrível caso de humilhação, mas Rafael não parecia estar percebendo.
2. Ele foi uma resposta ao programa do Gugu
Mas porquê Faustão decidiu trazer o jovem Latininho para o seu programa? A verdade é que a competição pela audiência com Gugu fez com que ele aceitasse humilhar um adolescente com um distúrbio genético para conseguir vencer. Ele buscava trazer uma resposta ao programa do apresentador do SBT, que havia apresentado uma situação similar dias antes.
Em 25 de agosto, Liberato havia recebido em sua programação um homem mexicano com uma doença chamada Hipertricose. Ela foi responsável por aumentar excessivamente os pelos de seu corpo, o que fez com que ele fosse chamado de “lobisomem mexicano”. A ideia de Gugu era fazer uma espécie de sabatina, questionando-o desde como ele tomava banho até se a família tinha alguma relação com a lenda do lobisomem.
3. Audiência subindo em cima da humilhação
O sensacionalismo acabou trazendo boas pontuações tanto para Gugu quanto para Faustão. No primeiro caso, o show apelativo rendeu 16 pontos de audiência, representando um crescimento de 25% do público. Em relação ao Latininho, ele conseguiu trazer 30 pontos ao programa. A verdade é que tudo isso havia sido alcançado por meio de humilhações feitas ao vivo.
Rafael não conseguia nem ao menos falar sem que o grupo de humor Café com Bobagem e o público que o assistia no estúdio rissem. Ele se tornou a própria piada do programa que recebia uma grande audiência e que não deveria querer crescer em cima de preconceitos com doenças, tratadas como bizarras e hilárias.
4. Repercussão do caso
É possível dizer que o caso Latininho foi o limite para o vale-tudo que estava acontecendo na televisão brasileira. Três dias depois do programa ser exibido, Faustão tentou se retratar. Em entrevista à Folha de S. Paulo, disse que a concorrência o pressionava e que isso o levava a cair no popularesco.
Mas isso não ficou por aí. A imprensa e o próprio público começaram a acusar o programa de ter rompido com o “padrão Globo de qualidade”. Foi nesse momento que a revista Veja decidiu colocar esse cenário em sua capa, com a manchete “Mundo cão na TV: até onde vai a apelação?”. A emissora Globo ainda foi condenada a indenizar a família de Rafael em 1 milhão de reais, acusada de “exploração e humilhação”.
5. Consequências para a Rede Globo
A Globo estava em uma situação muito difícil, e esse foi o contexto de repensar e estabelecer limites para suas programações. Carlos Manga que, na época, era o diretor do Domingão do Faustão, decidiu propor “código de ética” entre as duas emissoras para que elas não exibissem mais “cenas escatológicas e de desgraças humanas". Guilherme Stoliar, então vice-presidente do SBT, foi contra o acordo, mas isso resultou em códigos de ética mais rigorosos.
Em 6 março de 1999, a Folha de S.Paulo publicou uma nota afirmando que a Rede Globo havia desenvolvido um “documento não-oficial” para orientar seus funcionários. Segundo o jornal, ele “veta ‘a transformação em espetáculo do erótico, do pornográfico, do bizarro, da tragédia e da miséria humanas’, estimula o ‘compromisso social com o bom gosto, o bom senso, a clareza e a seriedade’ e repudia o ‘preconceito". São as diretrizes de um ‘programa popular’, que ‘busca sempre a audiência e a liderança com qualidade’”.
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