Os primeiros drones são anteriores aos computadores
Fábio Marton Publicado em 29/10/2018, às 15h00 - Atualizado às 16h11
Na imaginação popular, o zangão é visto como um peso morto. Ele só serve para se reproduzir e não colabora em nada com a colmeia. Nem com a defesa, pois não tem ferrão – o que torna meio misterioso como a palavra inglesa para o bicho, drone, acabou por batizar uma das mais letais máquinas do mundo atual, realizando assassinatos políticos e, em breve, entregando pizzas que entopem as artérias.
Os primeiros drones são mais antigos que o termo. Aviões militares não tripulados foram criados na Primeira Guerra, quando surgiram projetos como o Kettering Bug, dos EUA, e o Hewitt-Sperry Automatic Airplane, do Reino Unido. Ambos eram bombas voadoras, destinadas a tentar derrubar zepelins e atacar posições em solo, o primeiro com um sistema mecânico por giroscópio, o segundo, usando rádio controle. Esses são os tataravós dos mísseis de cruzeiro modernos. Drones suicidas.
Em 1935, o almirante William Standley, dos EUA, foi convidado a assistir a uma demonstração do DH 82B Queen Bee (“abelha rainha”), um avião remoto-controlado para ser usado em treinamento de pilotos de caça e baterias antiaéreas. Era muito mais realista que um alvo estático ou voando em linha reta. Tão impressionado ficou Standley que pediu um clone americano, e Delmer Fahrney, do Laboratório de Pesquisa Naval da Marinha, batizou-o de “drone” em homenagem à inspiração.
Drone seria como, na Segunda Guerra, os americanos chamariam um de seus mais desastrosos experimentos: o Projeto Aphrodite. Um bombardeiro B-17 ou B-44 carregado até o teto com explosivos, tripulado na decolagem. No ar, a tripulação saltava e ele era guiado por controle remoto, até seu alvo. No fim, mataria mais americanos que alemães. Foram 14 missões e nenhum acerto.
Pela mesma época, os alemães criaram o bem-sucedido V-1, uma bomba voadora a jato, que caía quando um hodômetro aéreo indicava que havia voado a distância programada.
Após a guerra, em 1951, o jato controlado por rádio Ryan Firebee surgiu como alvo. Mas a necessidade de espionar os soviéticos atrás de armas acabaria por fazê-lo ser convertido em um veículo de fotografias, o Lightning Bug, usado massivamente na Guerra do Vietnã e só aposentado em 2003.
A reputação dos drones deu outro salto na Guerra do Líbano de 1982. Uma Israel em desvantagem numérica conseguiu aniquilar a Força Aérea Síria com perdas mínimas, usando drones espiões, de bloqueio de comunicações e iscas, fazendo os sírios esgotarem sua munição com eles.
Pela mesma época e do lado oposto, o Irã teria a honra de usar o primeiro drone armado, uma ideia que vinha desde os anos 1960, mas nunca havia saído do protótipo. Na guerra Irã-Iraque, o Ghods Mohajer, um drone de reconhecimento, foi armado com seis foguetes RPG-6.
Não há registro dos resultados, mas provavelmente não foram grande coisa. É preciso mais que um avião a controle remoto para iniciar outra era. Essa nasceu com o aperto de um botão, em 16 de fevereiro de 2001, quando o piloto Curt “Hawg ” Hawes disparou um míssil experimental de um drone Predator – um avião de reconhecimento criado em 1994, usando a nova tecnologia de GPS.
Bem em tempo do evento que inaugurou a era geopolítica em que vivemos. Menos de um mês após o 11 de setembro, os Predators eram enviados ao Afeganistão.
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