O episódio causou um desastre pelas ruas de Londres, mas foi entendido como um "acidente divino"
Giovanna de Matteo Publicado em 17/10/2020, às 00h00
Era 17 de outubro de 1814, quando Londres se viu tomada por ondas de cerveja enchendo suas ruas. De início, parece impossível, no entanto, a onda de cerveja infinita acabou provocando diversos problemas na cidade: desde embriaguez coletiva até mortes.
O dilúvio de cerveja de Londres, na verdade, foi um incidente na casa de Meux & Co Horse Shoe Brewery. Uma das enormes tinas de fermentação da cervejaria Meux estourou, arrastando os outros barris em um efeito dominó. Um verdadeiro caos.
Por volta das 4h30 da tarde, George Crick, o caixeiro do armazém de Meux, se deparou com um problema envolvendo uma das estruturas de ferro ao redor de um tanque, que havia se deslocado. Crick não se preocupou, e ao contar ao seu supervisor, ouviu não haver possíveis riscos de danos. Leve engano.
Uma hora depois, o barril com toneladas de cerveja porter estourou. A força da onda que se formou destruiu a parede do local, vazando diretamente para as ruas. Alguns dos tijolos da parede posterior caíram sobre os telhados das casas ao redor. O resultado? Ondas que chegaram a 4,5 m de altura.
A onda atingiu a New Street, destruindo duas casas e danificando outras duas. Em uma dessas residências, o impacto foi forte o suficiente para levar pelas ruas uma menina de quatro anos, Hannah Bamfield, junto de sua mãe e seu irmão. A criança, infelizmente, foi a primeira morta após o acidente.
Na segunda casa destruída, a onda interrompeu bruscamente um velório que estava sendo realizado por uma família irlandesa em memória a um menino de dois anos. Anne Saville, a mãe, e quatro outras pessoas foram mortas.
A empregada Eleanor Cooper foi pega de surpresa na Great Russell Street enquanto lavava panelas no pátio de um pub, presa sob a parede que se desmoronou da Meux & Co.
Nos porões do local do acidente, a cerveja escoava, e com drenagem insuficiente, ela enchia o local, fazendo com que as pessoas tivessem que subir em cima de móveis para evitar o afogamento. Todos os funcionários da cervejaria sobreviveram, embora alguns deles tenham se machucado, sendo resgatados dos escombros e levados para o hospital.
O historiador Martyn Cornell afirma que a imprensa da época não testemunhou a folia ou a morte posterior; Ao contrário, esconderam as consequências e noticiaram que a população dali se comportara bem.
A área ao redor atingiu um "cenário de desolação [que] apresenta uma aparência das mais horríveis e terríveis, igual àquela que um incêndio ou terremoto podem supostamente ocasionar", conforme relato do Morning Post. Os corpos enlutados foram dispostos em um quintal; o público por si só mostrava condolências às famílias e fazia doações para seus funerais.
A cervejaria até passou por um inquérito, mas o acidente foi dito como "divino", fazendo com que a Meux & Co Horse Shoe Brewery escapasse de pagar indenização.
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