A vida de Elisabeth da Áustria, mais conhecida como Sissi, foi repleta de desafios, especialmente durante seu reinado como imperatriz
Luiza Lopes Publicado em 28/11/2024, às 18h00
A vida de Elisabeth da Áustria, mais conhecida como Sissi, foi repleta de conflitos pessoais e desafios, especialmente durante seu reinado como imperatriz. Casada com Franz Josef, ela logo se viu sobrecarregada pelas rígidas normas da corte vienense e pela presença dominante de sua sogra, a arquiduquesa Sophie.
Sentindo-se emocionalmente isolada e distante do marido, Sissi buscou consolo em seus próprios interesses, como a literatura, a poesia e as viagens. Sua história, que ainda encanta gerações, foi a inspiração para a série "A Imperatriz", da Netflix, que recentemente estreou sua segunda temporada. Confira, a seguir, cinco curiosidades sobre a vida de Elisabeth.
Elisabeth da Áustria nasceu em 1837, em um contexto de grandes transformações políticas. A Baviera, onde cresceu, era um reino católico próspero, que mais tarde se tornaria o maior estado da Alemanha. Ela era a quarta de dez filhos de Maximiliano José, duque da Baviera, e Ludovika, filha do rei Maximiliano I da Baviera.
A historiadora María Pilar Queralt del Hierro conta em "A sombra de Sissi: a trágica história de uma família amaldiçoada" que conforme as filhas de Ludovika atingiam a idade de casar, a mãe começou a organizar seus casamentos, visando alianças vantajosas.
A tia de Sissi, Sophie, era casada com o arquiduque Franz Karl da Áustria e tinha um filho, Franz Josef, que se tornaria imperador da Áustria em 1848, com apenas 18 anos. Considerado um excelente partido, Josef foi inicialmente cogitado como futuro marido de Helene, irmã mais velha de Sissi, cujas qualidades eram vistas como mais adequadas para se tornar consorte imperial.
No entanto, o destino deu outra direção à história. Em 1853, após negociações, Helene foi convidada para passar o verão em Bad Ischl, onde a família imperial se reunia, com o intuito de garantir um noivado. Inicialmente, apenas ela e Ludovika viajariam, mas Sissi, apesar de sua natureza tímida e reservada, acabou se juntando a elas.
Sua presença logo atraiu a atenção de Josef, que, para surpresa de todos, passou a mostrar interesse por Elisabeth, em detrimento de sua irmã. Apesar das tentativas de redirecionar a atenção do imperador para Helene, a preferência por Elisabeth se tornou evidente.
Com isso, Ludovika e Sophie decidiram apoiar o casamento da jovem com o futuro imperador. A questão da relação de parentesco, já que eram primos de primeiro grau, foi resolvida rapidamente com uma dispensa papal. Assim, em 24 de abril de 1854, Sissi casou-se com Franz Josef, tornando-se imperatriz da Áustria.
De acordo com Hierro, o jovem casal teve pouco tempo para desfrutar da união. Embora Josef estivesse profundamente apaixonado por sua nova esposa, suas responsabilidades imperiais o deixavam com pouco tempo para a vida íntima.
Ao longo dos anos, as tensões entre o casal se intensificaram, e a distância emocional se tornou cada vez maior. Em 1885, uma nova figura entrou na vida de Josef: Katharina Schratt, uma atriz vienense.
Apesar disso, Sissi não se opôs ao relacionamento, reconhecendo a solidão e a crescente incompatibilidade de seu casamento. Nos últimos anos de sua vida, ela refletiu de forma direta sobre seu matrimônio, dizendo: "Alguém é vendido quando criança aos 15 anos, faz um juramento que não entende, mas nunca pode desfazê-lo".
A vida de Sissi foi marcada por um controle rígido, com pouca privacidade. No dia seguinte ao casamento, a corte imperial já sabia da consumação da união, refletindo o ambiente de vigilância que dominava o palácio. Ao se estabelecer em Viena, a jovem imperatriz logo sentiu falta da liberdade de sua vida anterior na Baviera, onde sua educação mais livre contrastava com a formalidade e a rigidez da corte vienense.
A etiqueta da corte a sobrecarregava, e suas damas de companhia, muito mais velhas, não conseguiam oferecer a companhia que ela desejava. Com o marido ocupado com os assuntos do Estado, ela se via frequentemente sozinha e isolada.
Sissi enfrentou conflitos com sua sogra, a arquiduquesa Sophie, uma mulher autoritária, que, embora tivesse raízes na Baviera, impôs suas próprias normas rigorosamente. Segundo Hierro, Sophie teve um papel crucial na interferência nos assuntos pessoais de Elisabeth.
Pouco após o casamento, quando a imperatriz deu à luz sua primeira filha, a arquiduquesa insistiu que a criança levasse seu nome e assumiu os cuidados da bebê, alegando que a mãe era jovem demais para tal responsabilidade.
Quando a imperatriz teve sua segunda filha, Gisela, Sophie tentou novamente tomar o controle, mas dessa vez Sissi se opôs, transferindo a filha para seus próprios aposentos. No entanto, sua vitória foi breve.
Em 1857, sua filha Sophie morreu de disenteria durante uma viagem à Hungria, o que mergulhou Sissi em uma profunda depressão. Esse luto a fez renunciar ao cuidado de Gisela, permitindo que sua sogra assumisse novamente essa responsabilidade.
Mesmo o nascimento de seu filho Rudolf no ano seguinte não conseguiu mitigar sua tristeza. A dor da perda continuava presente, e Sissi se afastava cada vez mais das responsabilidades maternas e de seu papel como imperatriz. A historiadora observa que esse sofrimento, que se aprofundava, teve um impacto duradouro na vida de Elisabeth, ampliando o isolamento e a distância entre ela e sua família.
Sissi mantinha uma aparência exterior impecável, algo que ela cultivava com obsessão. Famosa por sua beleza, ela dedicava longas horas para cuidar de si mesma, passando três horas diárias com seus cabelos e uma hora para apertar sua cintura.
Sua cintura tinha apenas cinquenta centímetros, que os espartilhos reduziam ainda mais para quarenta. Para manter essa circunferência tão estreita, ela usava um espartilho especial apertado em três lugares diferente, num processo que chegava a demorar uma hora", detalha o livro "Sissi e o Último Brilho de Uma Dinastia", escrito por Paulo Rezzutti e Cláudia Thomé Witte.
À medida que envelhecia, sua preocupação com as rugas se intensificava, chegando ao ponto de dormir com fatias de vitela crua em seu rosto para tentar retardar o envelhecimento, repercute Hierro.
Além disso, Sissi seguia uma dieta restrita e praticava exercícios rigorosos todos os dias, incluindo caminhadas, passeios a cavalo e levantamento de peso. Sua obsessão por fitness, no entanto, tomou proporções doentias, assemelhando-se aos sintomas de transtornos alimentares modernos.
Com à ausência de proteínas essenciais em sua alimentação, a imperatriz lidou com uma anemia aguda, assim retomando o consumo de carne vermelha. “Para fazer isso sem abandonar seu regime, Sissi mandava espremerem carne de vaca num equipamento e em seguia bebia o suco resultante", acrescenta o livro de Rezzutti e Witte.
A imperatriz também tinha o costume de fumar — o que era, de certa forma, uma afronta ao conceito de que cigarros e charutos eram exclusivos aos homens. De acordo com um registro publicado no jornal Los Angeles Times, em 1890, a imperatriz e a irmã, Maria Sofia, fumavam cerca de 30 a 40 cigarros turcos por dia, além de um charuto após o jantar.
A prática, no entanto, acarretou em outra consequência que aterrorizava Sissi esteticamente: com o fumo, seus dentes ficaram amarelados. Por isso, ela até mesmo recorreu a técnicas de embranquecimento dental que, eventualmente, enfraqueceram sua dentição e, por isso, ela nunca era vista sorrindo ou falando em público, escondendo-os atrás de um leque.
No início de 1889, o príncipe herdeiro Rudolf e sua amante de 17 anos, Marie Vetsera, foram encontrados mortos em um aparente suicídio duplo no pavilhão de caça de Mayerling.
O "Incidente de Mayerling" rapidamente se transformou em um escândalo que repercutiu por toda a Europa, e a morte de Rudolf gerou ao império uma crise de sucessão.
Para Sissi, a perda de seu filho a mergulhou em uma depressão profunda. Após a tragédia, a imperatriz passou a viajar incessantemente, buscando refúgio em Corfu, onde mandou construir seu palácio de verão, o Achilleion.
Em setembro de 1898, Elisabeth visitou Genebra. No dia 10, ao caminhar até a beira do lago para pegar uma balsa para Montreux, ela foi esbarrada por um pedestre. Sentiu uma dor aguda no peito, mas seguiu em frente. Ela havia sido esfaqueada. A imperatriz de 60 anos desmaiou devido à perda de sangue e morreu ainda naquela noite, contou Hierro.
Seu assassino, o anarquista italiano Luigi Luccheni, declarou em sua confissão que não tinha motivo pessoal contra a imperatriz, mas que seu único objetivo era matar um membro da realeza.
Sissi, que havia expressado o desejo de ser enterrada nas margens do Mediterrâneo, teve sua vontade ignorada por Franz Josef, que a sepultou na Cripta dos Capuchinhos, em Viena, onde permanece até hoje.
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