Palco de disputa e de substância enigmática, o nosso Satélite Natural nos dá pistas para uma questão universal que é tão científica quanto filosófica
Vanessa Centamori Publicado em 19/07/2020, às 09h00
Neil Armstrong, Buzz Aldrin e os outros astronautas, como Michael Collins — que não pisaram na Lua — mas que a orbitaram, e foram essenciais para as históricas missões do Programa Apollo, podem garantir que o lado oculto não esconde seres extraterrestres. No entanto, essa zona lunar é tão intrigante quanto se houvesse ETs.
Seja por haver um gel curioso por lá, ou pelo local ser disputado entre a NASA e a agência espacial chinesa, CNSA, o lado oculto da Lua é um cantinho digno de nota. Pois, acima de tudo, nos entrega pistas. São como "pegadas" para solucionar, senão o maior, um dos mais importantes mistérios do universo: de onde nós viemos?
Bê-a-bá
Antes de literalmente "viajar no mundo da Lua", precisamos saber o que é o seu lado oculto. É simples. O satélite do nosso planeta possui dois "lados" — um deles fica sempre virado para a Terra, já o outro nunca é visto por nós terráqueos, ganhando o nome, assim, de oculto, ou ainda, de lado escuro.
Todavia, não é que falte luz por lá. Os dois lados da Lua são iluminados pelo Sol, experimentando o dia ou a noite. A expressão "escuro" se refere apenas ao fato dele nunca ser visto da Terra. O lado se ocorre devido à chamada rotação sincronizada.
O conceito técnico diz que o tempo de rotação da Lua é igual ao seu período orbital. Traduzindo: não vemos o lado oculto, pois o tempo em que a Lua gira em torno de seu próprio eixo é igual ao tempo que ela leva para girar ao redor da Terra. A culpada, portanto, é a sincronia entre a translação e a rotação.
Primeiros encontros
A primeira vez que a humanidade conheceu o lado oposto da Lua foi ainda durante o início da corrida espacial, há 60 anos. O vislumbre foi uma cortesia da sonda Luna 3, da União Soviética, e ocorreu em outubro de 1959, quando os engenheiros russos enviaram a nave até o Satélite Natural.
Na época, as imagens obtidas eram de baixa resolução, por isso, foram editadas em computador, criando o primeiro mapa do lado oculto da Lua. Para se ter uma ideia, apenas 17 das 29 fotos tiradas conseguiram chegar à Terra. Entre as 17, só seis puderam ser visualizadas. Ainda assim, foi grande a revelação: as imagens já cobriam 70% da intrigante região.
Além disso, em 1965, a missão Zond 3, não pousou, mas voou de novo próximo ao lado oculto. Desta vez, foi com uma câmera muito melhor do que a Luna 3, produzindo 23 fotografias muito detalhadas do outro lado lunar.
Questão universal
A composição do lado oculto da Lua é ligeiramente diferente da do lado mais próximo. E em comparação, os dois lados são assimétricos. 31% da parte visível é composta por crateras causadas por atividade vulcânica. Já somente 1% do lado escuro possui essas crateras.
"Devido à relativa falta de processos de erosão, a superfície da lua registra eventos geológicos do início da história do Sistema Solar", revelou em comunicado o cientista planetário Matthiew Laneuville, que é co-autor de um estudo recente, que investigou a a história geológica lunar.
Saber como o nosso Sistema Solar se originou é crucial para entender como surgiu a vida na Terra. Portanto, entender a história do lado oculto da Lua é descobrir a misteriosa questão de onde nós viemos.
Concorrência entre EUA e China
No começo de 2019, a China anunciou que, pela primeira vez na história, o país pousou no lado oculto do nosso Satélite Natural, com a sonda não tripulada Chang'e-4. A aterrissagem ocorreu na cratera de Von Kármán, uma depressão de 180 quilômetros localizada no hemisfério sul da região.
A fascinação dos chineses no local é fazer estudos de radioastronomia, pois a misteriosa área está protegida dos ruídos de rádio vindos da Terra e possui banda de frequência bem baixa. Assim, a China quer elaborar um mapa do céu em radiação de pouca frequência e estudar o comportamento do Sol.
O lado oculto chama ainda a atenção dos americanos da NASA, que também o querem para fins de radioastronomia. Por isso, a agência norte-americana está financiando um projeto para construir um enorme telescópio dentro de uma cratera na zona oculta, chamado de Lunar Crater Radio Telescope (LCRT). A intenção é ser o maior radiotelescópio de abertura do Sistema Solar, sem interferência de transmissões de rádio da Terra.
Gelatina lunar
Uma intrigante substância gelatinosa foi fotografada no lado oculto da Lua no final de julho de 2019. O material brilhava e se especulou que seria até algo úmido. Ou, quem sabe talvez uma substância produzida por um extraterrestre?
Nada disso. Era, na verdade, apenas uma matéria seca, e bastante comum. Em julho deste ano se concluiu que era apenas resquícios de rochas derretidas pelo impacto de um meteorito, formando uma massa verde escura, brilhante e vítrea. A revelação foi publicada em um estudo no jornal Earth and Planetary Science Letters.
Missões da NASA
As missões Apollo 8 e 9, da NASA, levaram humanos a sobrevoarem o lado oculto da Lua. Na primeira delas, o sinal para a Terra foi interrompido por cerca de 10 minutos, dando um grande susto nos astronautas. Porém, tudo deu certo.
Charlie Duke, que esteve na missão Apollo 16 e foi o décimo homem a pisar na Lua, descreveu também um momento em que olhou o computador e notou que estava sem sinal com o nosso planeta. "De repente, houve o nascer do sol, foi o nascer do sol mais dramático que eu já vi", disse Duke.
"Na órbita da Terra, você vê o brilho do sol no horizonte ou na atmosfera do planeta, e fica cada vez mais brilhante. A lua é diferente, no entanto. Há luz solar instantânea com longas sombras na superfície lunar. O lado oposto da lua era muito forte lá atrás. Eu não gostaria de pousar na parte de trás da lua", contou.
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