A família imperial brasileira acumulou o que hoje é tido como o maior acervo egípcio da América Latina
Isabela Barreiros Publicado em 01/08/2020, às 06h00
Durante a primeira metade do século 19, o interesse por artefatos antigos que remontassem ao Egito Antigo se tornou um hábito entre os mais ricos. A prática de colecionar esses itens não ficou restrita à Europa — no Brasil, a família imperial também participou da moda e acumulou o que hoje é considerado o maior acervo egípcio da América Latina.
A coleção teve seu início em 1826, quando o comerciante italiano Nicolau Fiengo chegou ao Rio de Janeiro trazendo consigo peças que foram encontradas na necrópole de Tebas no Egito, pelo explorador Giovanni Battista Belzoni. A coleção foi à leilão e comprada inteiramente por Dom Pedro I. O que começou com cinco múmias humanas inteiras expandiu-se ainda mais com Dom Pedro II, que levou a fama da icônica coleção egípcia.
Conheça algumas das múmias que fizeram ou ainda fazem parte do acervo da família imperial brasileira.
1. Harsiesi e Hori
As principais aquisições de Dom Pedro I no leilão feito no Rio de Janeiro em 1826, com as peças de Nicolau Fiengo com certeza foram as múmias de Harsiesi e Hori. Na verdade, o total de corpos mumificados adquiridos pelo imperador naquele momento foi cinco: eram três adultos e duas crianças embalsamados, guardados dentro de seus sarcófagos e sudários.
No entanto, a maioria dessas tumbas não continha nenhuma identificação, e, ainda hoje, o que se sabe sobre essas pessoas é ínfimo. Apenas em dois dos sarcófagos continham identificação, exatamente os nomes Harsiesi e Hori, que provavelmente foram pessoas que tiveram seus cadáveres eternizados pela técnica ancestral.
2. Kherima
A vinda do comerciante italiano para o Brasil naquele ano foi proveitosa. Além das cinco múmias misteriosas, ele também comprou Kherima, também conhecida como Princesa Kherima ou Princesa do Sol. A impressionante múmia datada dos séculos um a três foi uma mulher que viveu na região de Tebas, na Grécia, durante o Período Romano.
Existem poucas informações sobre sua vida em questão, mas acredita-se que ela tenha sido mumificada quando tinha entre 18 a 20 anos de idade, o que indica uma morte precoce.
Análises realizadas na múmia também permitiram que especialistas percebessem como a técnica utilizada para esse procedimento foi diferente da maioria dos corpos encontrados. Em oposição a todos os métodos egípcios utilizados para envelopar as múmias, como os tecidos de linho, Kherima teve seus membros enfaixados individualmente com bandagens.
A questão se mostra mais interessante ainda quando, em comparação com outras múmias já encontradas, apenas oito seguem o mesmo estilo da princesa. Todas são datadas da mesma época e foram descobertas no mesmo sítio arqueológico — para egiptólogos, isso indica que elas podem ter passado pela mumificação no mesmo ateliê que realizava esse método.
3.Sha-Amun-en-su
Foi Dom Pedro I quem deu início à acumulação da maior coleção de múmias da América Latina, porém seu filho levou a fama de colecionador de itens egípcios. Entusiasta do Egito Antigo, Dom Pedro II passou um tempo no Egito em 1876, ano em que realizou sua segunda viagem pelo Oriente Médio.
Como líder de Estado, ele foi acompanhado pelo então vice governante do protetorado otomano do país, Ismail Paxá, com quem discutiu sobre as maravilhas do local e conseguiu fazer uma incrível troca. Ao dar ao político uma obra sobre a história do Brasil, o monarca foi presenteado com um sarcófago contendo uma múmia.
Era Sha-Amun-en-su, uma importante sacerdotisa-cantora do Terceiro Período Intermediário do Egito. O corpo mumificado foi levado para o Palácio de São Cristóvão, onde passou a compor a coleção particular de Dom Pedro. Estudioso do tema, o imperador analisou as inscrições dos hieróglifos na superfície do sarcófago
A múmia de Sha-Amun-en-su era o item favorito de Pedro II, que adorava o artefato. Dizem que ele, inclusive, conversava com o sarcófago em momentos particulares. Todavia, vale destacar que os itens foram perdidos durante o triste incêndio que destruiu o Museu Nacional em 2018.
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