Baseado em livro de Philip K. Dick, Blade Runner foi lançado em 1982 e se tornou um clássico da ficção científica
Fabio Previdelli Publicado em 25/06/2023, às 00h00
Escrito por Philip K. Dick em 1968, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? é considerado um dos clássicos da ficção científica. A visionária obra cria uma San Francisco sombria e perturbadora habitada por homens e réplicas perfeitas; e ainda leva o leitor a uma reflexão: o que determina nossa condição de ser humano?
"Em uma Terra decadente, coberta por poeira radioativa e devastada por uma guerra atômica, Rick Deckard é um caçador de recompensas. Para melhoras seu precário padrão de vida, Deckard sonha em substituir sua ovelha de estimação elétrica por um animal verdadeiro — um sonho de consumo que vai além de sua condição financeira", apresenta sinopse do livro, publicado no Brasil pela Aleph.
Ele vê a chance de realizar esse desejo ao ser chamado para uma nova batalha: perseguir e aposentar seis androides que assassinaram seus mestres e estão refugiados. Mas as convicções de Deckard podem mudar quando ele percebe que a linha que separa o real e o fabricado não é mais tão nítida quanto acreditava", continua o resumo.
A obra de Dick se tornou tão popular e importante para o gênero que deu origem ao filme Blade Runner, adaptado em 1982 pelo britânico Ridley Scott. Enquanto o livro imagina o futuro de 1992, o filme projeta Los Angeles em novembro de 2019. Mas o que realmente o longa acertou ou errou sobre o ano?
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O personagem de Harrison Ford, Rick Deckard, é um policial designado a rastrear replicantes desonestos — robôs que parecem e agem como humanos — e aposentá-los; ou seja, matá-los.
Os replicantes, da geração Nexus 6, são descritos como "virtualmente idênticos aos humanos", o que dificulta serem diferenciados das pessoas de verdade. Além disso, eles possuem uma "inteligência equivalente aos engenheiros genéticos que os criaram".
Mas fora da ficção ainda não temos robôs hiper-realistas como os androides de Blade Runner. Embora seja inegável o avanço da tecnologia nas últimas décadas, esse ponto ainda é uma ficção para nossa realidade; mas não algo utópico.
Afinal, temos o exemplo da Sofia da Hanson Robotics, que ainda apresenta conversas mais engessadas ou piadas escritas em um roteiro prévio — ainda bem longe de toda reflexão existencial que os replicantes trazem. Vale ressaltar também que a inteligência artificial vem em crescente aprimoramento. Então, quem sabe daqui uns anos?
É praticamente impossível imaginar uma obra de ficção cientifica sobre um futuro tecnológico e não pensar em carros voadores. E com Blade Runner isso não seria diferente. No longa, Deckard usa em um "Spinner" — um carro de polícia que pode decolar verticalmente como um helicóptero e voar como um avião.
O interior desses veículos ainda são cheios de equipamentos tecnológicos, como se fosse uma cabine de avião. Um ponto interessante, recorda a BBC, é que os ocupantes do carro não usam cinto de segurança, item que só se tornou obrigatório na Califórnia depois do lançamento do filme.
Curiosidades a parte, os carros voadores ainda não existem, mas progressos para o feito já estão sendo feitos em países como o Japão e os Estados Unidos, aponta a CNN. Então esse conceito também poderá deixar de ser uma 'loucura' tão grande assim em nosso futuro.
Saindo do campo das coisas possíveis para algo que já é realidade há anos: a chamada de vídeo. No filme de Scott, o personagem de Harrison Ford se dirige a uma espécie de cabine telefônica para fazer uma chamada de vídeo.
Esse é um belo exemplo de uma previsão que a tecnologia atual até mesmo já suplantou. É bem verdade que a comunicação via vídeo surgiu bem antes de Dick escrever seu livro. Na década de 1920, recorda a BBC, o chefe da gigante de telecomunicações AT&T conversou com o ex-presidente americano Herbert Hoover usando sinal de TV e linha telefônica.
Mas a praticidade como pensada pelo filme só se tornou popular no mundo quase um século depois; quando o Skype lançou seu aplicativo em 2003. Hoje, uma série de companhias oferecem a tecnologia a seus usuários, como o Facetime da Apple e as chamadas de vídeo do WhatsApp.
Em Blade Runner, para tentar identificar se alguém é humano ou robô, os investigadores usam um método chamado Voight-Kampff — que consiste em avaliar o aumento involuntário da pupila e sua dilatação. Para isso, um interrogatório é feito com o objetivo de provocar reações emocionais.
Como é de se imaginar, a técnica é muito similar ao que entendemos como um detector de mentiras. O primeiro polígrafo do mundo surgiu em 1921, mas o equipamento ainda hoje é usado por investigadores.
No Reino Unido, por exemplo, seu uso pode acontecer por agentes de segurança em investigações envolvendo suspeitos de abuso sexual. Entretanto, sua credibilidade ainda é bastante contestada — diferente do filme.
Ainda usando o Reino Unido como exemplo, o resultado de uma avaliação por polígrafo não é aceito como prova legal. Por outro lado, nos Estados Unidos, uma empresa chamada Converus já oferece uma tecnologia que monitora a íris para detectar mentiras.
Em Blade Runner chove muito. Tipo, muito, muito mesmo. O cenário também é descrito como escuro e sombrio todo o tempo. Tanto o romance de Dick quanto o filme sugerem que isso aconteceu devido à poluição industrial desenfreada e à precipitação radioativa de uma guerra nuclear.
Vale ressaltar, porém, que Ridley Scott usou da estética mais para esconder falhas nos sets do filme do que qualquer outra coisa, repercute a CNN. Mas é inegável que a situação climática em nosso planeta está longe do ideal.
De volta à ficção, tais problemas fizeram com que as pessoas deixassem Los Angeles. "Não há problemas de moradia por aqui", sugere uma replicante ao longo do filme. "Há vagas para todos", diz em outro momento.
A realidade por lá, porém, também é totalmente diferente. Afinal, Los Angeles da vida real sofre a cada ano com mais gente chegando na cidade. Por outro lado, o Estado da Califórnia passou a liderar, em 2019, o processo de redução das emissões de carbono.
Por fim, Blade Runner também faz referências a colônias fora de nosso planeta, onde os humanos têm "uma chance de começar de novo em uma terra dourada de oportunidades e aventuras".
Nesse ponto, o filme de Ridley Scott estava à frente de seu tempo ao introduzir a ideia de que as ações da humanidade possuem consequências para a Terra. Além disso, a colonização de outros planetas já é assunto recorrentes em discussões, como as propostas pelo bilionário Elon Musk.
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