Muito antes de Pierre de Coubertin, atletas da Grécia Antiga já se reuniam em amplos estádios para participar das Olimpíadas
Edgardo Martolio Publicado em 01/08/2021, às 10h00
É uma tarefa quase tão árdua quanto impossível precisar com exatidão quando os esportes que integram e integraram os Jogos Olímpicos da Antiguidade foram criados ou quando foi praticado pela primeira vez cada um deles.
Os únicos registros oficiais que falam de sua existência em Olímpia, na Grécia, datam de 776 a.C. A celebração dos Jogos Olímpicos também é imprecisa quanto à data de origem, mas duraram até o ano de 394 — isso, sim, é preciso —, quando foram proibidos pelo imperador Teodósio I, de Roma.
Sabe-se também que os Jogos Olímpicos, que tinham começado como festividade de um único dia a cada ano, já eram realizados de quatro em quatro anos, mas duravam um período maior, e podiam até se prolongar o ano todo, com intervalos entre cada esporte.
Os Jogos eram de tamanha importância para alguns imperadores que as disputas tinham o poder de interromper batalhas e combates, paralisar guerras — coisa que nos tempos atuais só Pelé conseguiu, no Congo, na década de 1960, na então sanguinária África. Repassar essa História para entender sua evolução só é possível em pequenas cápsulas, que, assim como os Jogos, pulem de evento em evento, ciclo em ciclo.
Além do que há “documentado”, pode-se continuar repetindo que a criação das Olimpíadas data da Antiguidade, de aproximadamente 2500 a.C., quando os gregos em honra ao deus Zeus (na mitologia grega o pai de todos os deuses), realizavam festivais esportivos. Em 776 a.C. os nomes dos vencedores começavam a ser registrados, quando então se tornavam célebres, em seguida consagravam-se heróis e, posteriormente, se transformavam em verdadeiros mitos.
O termo olimpíada nasceu no ano em que Ifitos, rei de Ilía, fez um tratado de “trégua sagrada” — em toda a Grécia enquanto as Olimpíadas eram realizadas — com Licurgo, rei de Esparta, e Clístenes, rei da Pissa, no templo de Hera, no santuário de Olímpia: o templo mais antigo que ainda sobrevive da antiga cidade greco-romana. Naqueles dias, a participação dos atletas era regida por um estritíssimo código de conduta, e qualquer infração era punida com o máximo rigor, mesmo quando inimigos se enfrentavam.
No início olímpico o prêmio pela vitória era uma folha de palmeira e uma coroa de ramos de uma oliveira existente perto do altar de Zeus. Isso foi resgatado nas Olimpíadas gregas de 2004, concedendo um charme especial a esses Jogos.
Para os homens, a vitória era uma consag ração maior, promovia-os em seus trabalhos, condecorava-os moralmente se eram soldados, e também proporcionava glória à sua cidade de origem, o que garantia que nos quatro anos seguintes seu povo o ajudaria a treinar e o patrocinaria para as Olimpíadas seguintes.
Em 776 a.C. uma chuva de proporções inusitadas desabou sobre a cidade de Olímpia, limitando as competições a apenas uma corrida de 192,27 metros pelo estádio. Surgiu então o primeiro campeão olímpico: o cozinheiro Coroebus de Elis. A História também diz que ele era exímio para preparar os 100 bois dos Jogos, sacrificados em honra a Zeus. Por três jornadas se competia, e nas duas últimas se festejava comendo aqueles bois.
Acertou-se após aquela catástrofe natural que os Jogos seriam realizados a cada quatro anos, durante os meses de julho ou agosto, e que esse período seria chamado de Olimpíada — e não o momento em que acontecem os Jogos, como hoje.
No século 5 a.C. o número de competições chegou a dez: corrida, pentatlo, arremesso de disco, pancrácio, luta livre, pugilismo, salto em distância, lançamento de dardo, corrida de bigas e corrida de cavalos.
O incremento no número de competições fez com que aquilo que inicialmente se disputava em um só dia passasse a ser disputado em cinco.
Nas competições só podiam participar os gregos que fossem cidadãos livres e que nunca houvessem cometido assassinatos ou outros crimes punidos pelas leis. A dois meses dos Jogos, esses cidadãos-atletas viajavam e se concentravam na cidade de Elis, onde se dedicavam integralmente à preparação física e onde ficavam até o fim das disputas.
Os empregos e posições no Exército (a grande maioria era soldado) eram conservados durante esse período. Só eram inscritos aqueles que falavam grego, o que de algum modo excluía os estrangeiros, embora não fossem proibidos de participar. Com o tempo se autorizou a participar dos Jogos os cidadãos das colônias gregas.
A participação de mulheres era restrita às corridas de cavalos, e só as donas dos animais poderiam se inscrever.
Ninguém do sexo feminino podia assistir às disputas dos esportes masculinos, e havia punição para quem desobedecesse. As damas casadas eram condenadas à prisão com castigos severos, e até a pena de morte podia lhes ser imputada caso fossem capturadas em flagrante.
Sempre houve prerrogativas... As sacerdotisas de Dêmetra, assim como os homens, tinham o direito de assistir às provas masculinas.
As mulheres não ficavam em casa. Enquanto os Jogos se desenvolviam, elas, de cabelos soltos e túnicas curtas, participavam de outra competição, paralela e exclusivamente feminina: a Heraea — da qual existe quase nenhum registro.
Conta a lenda que um único evento precedeu as primeiras Olimpíadas, a corrida de stadion, uma prova de velocidade que consistia em percorrer o mais rápido possível uma distância equivalente ao comprimento dos pés de Zeus, ou 190 metros, que era o espaço do Stadion, de onde deriva a palavra “estádio” que usamos hoje.
A motivação original dos Jogos foi a integração do povo helênico. Mas a decadência desse espírito olímpico da Antiguidade começou em 456 a.C., quando os romanos invadiram e dominaram a Grécia. As disputas, antes esportivas, converteram-se em autênticos combates — em muitos casos, de vida e morte.
Os últimos Jogos da Antiguidade foram disputados em 393, quando o imperador romano Teodósio I, com a justificativa da defesa do pudor (muitas das competições mostravam os atletas completamente nus, um dos motivos pelos quais as mulheres não podiam assistir aos Jogos), proibiu a adoração aos deuses e cancelou as Olimpíadas. Nascido na Espanha, Teodósio I, cognominado o Grande, eliminou os últimos vestígios de paganismo e pôs fim àquilo que ele qualificava de heresia ariana, cristianizando o Império.
Suspeita-se que a tradição do nu atlético tenha começado com o belo espartano Megara Orsippus nos Jogos de 720 a.C. Competir nu não era indecência nem gesto grosseiro ou provocador, inicialmente significava um tributo aos deuses, mas, com o tempo, quando começou a traduzir-se como um encorajamento da estética e em casos como um abusivo apreço pelo corpo masculino, Teodósio I o proibiu.
Alguns competidores usavam o kynodesme, que em grego se traduz como “coleira de cachorro” para conter o movimento do pênis (não era mais do que “uma tira de couro amarrada firmemente no prepúcio, para prevenir a exposição da glande”, segundo a melhor definição encontrada, “amarrada ao redor da cintura para expor o escroto ou na base do pênis, curvando-o para cima”). Daqueles tempos há registros de seu gymnos, que em grego significa nu, de onde deriva a palavra ginásio.
Desde 776 a.C. foram realizados 293 Jogos Olímpicos na Antiguidade. Após esse parêntese milenar, a primeira Olimpíada oficial da era moderna foi realizada em 1896 (com 295 atletas de 13 países), na mesma cidade de Atenas, na Grécia, onde se voltou a disputar os Jogos em 2004 (10 625 atletas de 201 países).
Assim, por 1 500 anos os Jogos Olímpicos ficaram adormecidos no mundo, inclusive na própria Grécia. Sua ressurreição já na chamada Era Moderna se deve aos esforços do pedagogo de profissão e esportista de coração, o francês Pierre de Freddy, o Barão Pierre de Coubertin.
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