Após desavenças com Napoleão, Dom João foi forçado abandonar Portugal com ajuda da Marinha da Inglaterra
Na manhã do dia 29 de novembro de 1807, os portugueses acordaram com a notícia que o príncipe regente e toda a corte de Portugal havia fugido para o Brasil. Sob escolta da Marinha britânica, a família real deixou o país, sendo a primeira vez na História que um território se viu órfão de representantes. Até aquele momento, monarcas que foram destronados ou estavam sob ameaças, nunca tinham ido tão longe, ou seja, atravessado o continente.
Sem o rei, o país se viu desamparado, pois toda a economia, a sobrevivência das pessoas, independência nacional e a própria razão do Estado, giravam em torno da figura do soberano. Sem ele, os portugueses se viram sozinhos e, por um tempo, tiveram que enfrentar um país sem governante.
As ameaças de Napoleão
Em 1807, Portugal não era governada por um rei propriamente dito, mas sim por um príncipe regente, Dom João, que assumiu o trono após a sua mãe, Maria I, ser declarada insana e, consequentemente, incapaz de governar. Dom João, por sua vez, não havia sido educado para governar o país, mas como o herdeiro natural ao trono, seu irmão mais velho, José, havia morrido de varíola em 1788, o monarca se viu na obrigação de assumir a coroa.
Como não tinha vocação para governar, boa parte das tarefas da corte e decisões políticas eram delegadas pelos seus ministros. Entretanto, em novembro de 1807, Dom João foi obrigado a tomar uma das decisões mais importantes da sua vida: fugir para o Brasil. Nesta época, Napoleão Bonaparte era considerado o maior estrategista militar do mundo, sendo o imperador francês absoluto da Europa.
Napoleão foi capaz de fazer reis e rainhas do continente se curvarem aos seus pés, após uma sucessão de vitórias. Diversos países se submeteram aos moldes do imperador francês, entretanto, a Inglaterra não se subjugou à Napoleão, apoiando a fuga da família real portuguesa para o Brasil.
Após confrontar a Inglaterra, o imperador decretou o bloqueio continental — medida que impôs o fechamento dos portos europeus ao comércio britânico — que foi acatado por todos os países, menos Portugal. Tal fato desencadeou a fúria de Napoleão, que mandou suas tropas marcharem em direção à fronteira de Portugal, a fim de, destronar o príncipe regente e assumir o controle do país.
Entre aceitar as exigências de Napoleão, ou fugir para o Brasil sob escolta britânica, levando todas suas riquezas consigo, Dom João preferiu a segunda opção. Além disso, a Inglaterra chantageou o monarca que, com medo do país ser bombardeado pela tropa britânica, caso aceitasse o acordo com o Napoleão, — que nem fizeram com a capital da Dinamarca — optou em fugir do país.
A fuga
Os meses que antecederam a decisão foram difíceis, e para isso, inúmeras reuniões com o conselho real foram feitas. No entanto, em pouco tempo, as tropas de Napoleão invadiram o território, obrigando a família real a resgatar a ideia de fugir para o Brasil. Embora fosse o pioneiro das grandes navegações marítimas, Portugal era um país pequeno e sem recursos, se comparado com as outras potências. Portanto, naquele momento, a fuga foi a ideia mais viável para a eles.
Como o plano de fuga já havia sido abandonado, a execução da viagem foi feita de maneira improvisada. No dia 24 de novembro, a corte foi informada pela imprensa comandada por Napoleão, que o príncipe regente havia cessado de reinar no continente europeu. Na madrugada daquele mesmo dia, Dom João ordenou que a sua fuga e a da sua família fosse planejada as pressas.
Os palácios reais de Mafra e Queluz imediatamente foram evacuados e entre 10 mil e 15 mil pessoas acompanharam a família real na viagem ao Brasil. Antes de embarcar em direção a colônia, o monarca teve o cuidado de pegar todas suas jóias e pertences de valor que estavam no cofre real. Divididos em 3 navios, a família real viu, em alto mar, quando as tropas napoleônicas invadiram Lisboa, e partiram em direção ao Novo Mundo.
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