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Matérias / Ainda Estou Aqui

Ainda Estou Aqui: 5 fatos sobre a história real que inspirou o filme

Indicado ao Oscar em três categorias, Ainda Estou Aqui narra trajetória de Eunice Paiva por Justiça de seu marido desaparecido durante a Ditadura Militar

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 02/03/2025, às 12h00

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Eunice e Rubens Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay
Eunice e Rubens Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay

Neste domingo, 2, acontece a cerimônia de entrega do Oscar 2025. A grande expectativa do público brasileiro fica por conta do filme Ainda Estou Aqui, que concorre em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (pelo papel de Fernanda Torres como Eunice Paiva).

Ainda Estou Aqui narra a trajetória de Eunice Paiva em busca de Justiça durante e após os Anos de Chumbo da ditadura militar; buscando pela verdade sobre o desaparecimento de seu marido, o deputado cassado Rubens Paiva

Rubens foi levado de sua casa por agentes da ditadura em 20 de janeiro de 1971, e nunca mais foi visto. Na sede do DOI-Codi do Rio de Janeiro, ele foi torturado e morto — se tornando um dos casos mais emblemáticos de desaparecidos durante o período ditatorial.  Saiba cinco fatos sobre a história real que inspirou Ainda Estou Aqui!

1. O sequestro 

Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi detido em sua casa por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) — que invadiram a residência armados e sem mandado de prisão.

Rubens Paiva não ofereceu resistência e foi dirigindo por conta própria seu carro até a sede do DOI-Codi, na Barra da Tijuca. O ex-deputado foi encaminhado para prestar depoimento e jamais foi visto depois disso.

"[Rubens Paiva] participava de uma rede de informações de troca, de cartas, porque havia muita perseguição política e é nesse contexto que ele é preso, em janeiro de 1971. O telefone da família é encontrado num envelope com duas senhoras que voltavam do Chile, onde tinham visitado, exilados. Militares da repressão encontram esse número, ligam para casa, descobrem o Rubens Paiva, vão até a casa do Rubens Paiva e prendem o Rubens Paiva. No dia 20 de janeiro de 1971, levaram ele para o DOI-CODI e lá ele foi assassinado, nunca mais foi visto, o corpo nunca apareceu", explica a jornalista Juliana Dal Piva, autora 'Crime sem castigo: Como os militares mataram Rubens Paiva' (Matrix), em entrevista à equipe do Aventuras.

Divulgação/Memórias da Ditadura - Rubens Paiva

O Rubens nunca integrou nenhuma organização de luta armada, o que mostra muito como sempre foi uma mentira a ideia de ver o que aconteceu como se fosse uma guerra de dois lados, em que a ditadura reagiu às ações armadas de alguns grupos", prossegue. 

2. A luta de Eunice

Com a prisão de seu marido, Eunice Paiva se viu 'obrigada' a cuidar de seus cinco filhos enquanto lutava para saber o destino de seu marido. Vale ressaltar que, horas depois da prisão de Rubens, ela e sua filha, Eliana, que tinha apenas 15 anos na época, também foram detidas e levadas ao mesmo local que Rubens Paiva

Suas tentativas de contato com o presidente Emílio Garrastazu Médici e outras autoridades não obtiveram respostas satisfatórias; o regime oferecia versões contraditórias sobre o destino de Rubens.

Mesmo assim, Eunice Paiva emergiu como uma voz proeminente contra a opressão do regime militar junto de outras ativistas como Zuzu Angel e Inês Etienne Romeu

Na fase final de sua vida, ela enfrentou o Alzheimer. Eunice Paiva faleceu em 2018 aos 89 anos; se tornando um símbolo da memória pelas vítimas e da luta contra as atrocidades cometidas nos 21 anos que os militares estiveram no poder. 

Eunice Paiva / Crédito: Divulgação

Dias após ser soltar, em março de 1971, Eunice escreveu uma carta denunciando a prisão de seu marido, detalhando as circunstâncias da invasão de sua residência e fazendo um apelo às autoridades por respostas em relação ao destino de Rubens. O documento foi resgatado pela 'Comissão da Verdade do Estado de São Paulo — Rubens Paiva'. Leia-o completo clicando aqui!

Não posso e não quero admitir que, em meu país, se faça desaparecer assim, por tanto tempo, uma pessoa humana", escreveu em um trecho.  

3. A tortura de Eliana

Como já dito, no dia seguinte à prisão de Rubens Paiva, Eliana e Eunice também foram detidas em sua casa e levadas para o DOI-Codi do Rio de Janeiro. Eunice ficou presa por 12 dias e Eliana por 24 horas

Em 2014, Eliane Paiva falou sobre as horas que ficou detida pelos militares em entrevista ao jornal O Globo. "Eu vi só uma vez a minha mãe durante as 24 horas em que eu fiquei presa. A gente foi colocada numa espécie de corredor. Esse corredor, aos poucos, foi se tornando um corredor polonês".

Então, passavam os guardinhas e, ou davam um choque na minha cabeça, e me chamavam de comunista, ou tentavam abusar de mim. E eu não sabia onde estava a minha mãe. Mas o mais terrível desse momento foi quando comecei a ouvir as torturas horríveis que aconteceram nesse país. As pessoas pediam pelo amor de Deus que parassem de bater".

4. O reconhecimento do caso

A luta da Família Paiva pela Justiça de Rubens Paiva só teve sua primeira grande conquista em 1996; quando eles receberam seu atestado de óbito — como também é mostrado em Ainda Estou Aqui —, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que havia sancionado a Lei dos Desaparecidos. 

Eunice ao lado do marido, o deputado Rubens Paiva - Arquivo pessoal

Quase duas décadas depois, em 2014, um relatório divulgado pela Comissão da Verdade, estabelecido na gestão de Dilma Rousseff (também presa e torturada pela Ditadura) esclareceu que após Rubens Paiva ser torturado do DOI, seu corpo foi enterrado e desenterrado algumas vezes; visto que os militares temiam que seus restos fossem encontrados. Como solução, ele foi arremessado ao mar dois anos depois de sua morte


5. O destino dos acusados

Os cinco militares envolvidos no assassinato de Rubens Paiva só foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2014; ou seja, 43 anos após a morte do deputado, conforme repercute o UOL.

Vale ressaltar que nenhum deles foi julgado, e três já faleceram. Tratam-se de José Antonio Nogueira Belham; Rubens Paim Sampaio (já morto); Jurandyr Ochsendorfe Souza (já morto); Jacy Ochsendorf e Souza; e Raymundo Ronaldo Campos (já morto). Conheça mais sobre cada um deles clicando aqui!

Conforme a denúncia, os militares enfrentam acusações pelos crimes de homicídio doloso qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e quadrilha armada. 

"O caso ainda não foi julgado. O STF analisa um recurso do MPF para reconhecer o crime permanente e está dando indicações de que reconhecerá. Faz poucos dias que o STF decidiu analisar a repercussão geral da matéria. O ministro Alexandre de Moraes indicou que compreende, sim, um limite para lei de Anistia em relação a desaparecimento forçado. Mas é preciso aguardar o julgamento do mérito, se o STF vai decidir por isso", explica Juliana Dal Piva.