Ao sobrevoar a maior floresta do mundo, uma aeronave encontrou vestígios de um vilarejo do século 18 na região; confira!
Escondidas sob a vegetação da Floresta Amazônica por cerca de 300 anos, uma cidade e uma vila do século 18 foram localizadas em Rondônia com a ajuda de arqueólogos e quilombolas, utilizando tecnologia a laser.
A descoberta foi divulgada em outubro durante o evento do projeto Amazônia Revelada, que usa o Lidar — sistema de sensoriamento remoto — para mapear a topografia da floresta e identificar sítios arqueológicos com apoio das comunidades locais.
Os locais históricos foram encontrados próximos ao quilombo Real Forte do Príncipe da Beira, em Costa Marques, na fronteira com a Bolívia. A cidade e a vila, habitadas por portugueses e escravizados indígenas e africanos, forneciam alimentos e mercadorias para o forte e para Vila Bela da Santíssima Trindade, antiga capital da província de Mato Grosso.
Segundo afirmou o professor Carlos Augusto Zimpel, arqueólogo da Universidade Federal de Rondônia, em entrevista ao O Globo, a cidade, chamada Lamego, abrigava cerca de 300 pessoas distribuídas em 15 casas, marcadas por construções simples, semelhantes a malocas indígenas ou feitas de pau a pique.
Além de Lamego, os pesquisadores identificaram, a oito quilômetros de distância, a Vila de Bragança, com traçados de ruas e vestígios de oficinas e casas.
A ocupação portuguesa na região começou com o Tratado de Madri, em 1750. No entanto, no início do século XIX, Lamego já havia sido abandonada. Sua existência era conhecida por registros históricos, mas a localização exata permanecia um mistério.
Quilombolas do Real Forte do Príncipe da Beira participaram das pesquisas, autorizando os sobrevoos de mapeamento e contribuindo com conhecimentos orais sobre a região. Elvis Pessoa, um guia turístico quilombola que faleceu em 2022, teve papel importante ao compartilhar detalhes históricos.
O projeto Amazônia Revelada, financiado pela National Geographic e apoiado por instituições como o Inpe e o Museu da Amazônia, tem como objetivo preservar as áreas descobertas e promover o turismo sustentável na região.
As imagens de Lidar revelaram a presença de uma vala artificial que apontava para Lamego. Além disso, encontraram-se mais telhas e blocos de pedra do que o esperado, sugerindo que a cidade era maior do que se pensava inicialmente.
A tecnologia Lidar, instalada em aviões, emite pulsos de luz que, ao serem refletidos no solo ou nas árvores, permitem criar mapas tridimensionais detalhados. Ao Globo, o professor Eduardo Neves, da USP, contou que essa tecnologia revolucionou a arqueologia, comparável à importância do método de datação por carbono.
Até agora, o projeto mapeou 1,6 mil km² de áreas prioritárias, como o arco do desmatamento em Acre, Rondônia e Pará, mas isso representa apenas 3,1% da Amazônia Legal.
Além das vilas coloniais, o Lidar também revelou dois geoglifos geométricos na região, provavelmente feitos por indígenas séculos antes da presença portuguesa. Isso indica um assentamento populoso, reforçado pela concentração de cerâmicas encontradas no local.
Apesar das descobertas, os sítios arqueológicos estão sob ameaça, com queimadas e atividades de garimpo. Em setembro, Rondônia registrou recordes de incêndios florestais, incluindo no quilombo do Forte do Príncipe da Beira, que entrou em estado de emergência.
Diante disso, o projeto busca não apenas proteger ambientalmente essas áreas, mas também valorizar o patrimônio histórico e cultural.