A pintura, que por muito tempo confundiu especialistas, é uma demonstração da genialidade do pintor renascentista. Entenda!
Salvator Mundi é uma pintura a óleo de 66 por 45 centímetros que representa Jesus Cristo segurando um aparente orbe de vidro em uma mão (que simbolizaria o mundo) e abençoando o espectador com a outra.
Feita pelo aclamado Leonardo Da Vinci entre os anos de 1490 e 1500, a misteriosa obra de arte passou várias décadas tendo seu paradeiro desconhecido, ressurgindo pela última vez em 2017 durante uma venda da Christie's, que é uma famosa casa de leilões.
Na ocasião, a Salvator Mundi se tornou a pintura mais cara da história da humanidade, sendo vendida pelo preço recordista de 450 milhões de dólares. Não é apenas o valor do quadro que surpreende: também é alvo de muitos debates, com um dos principais dizendo discutindo à curiosa esfera translúcida.
Isso, pois, o gênio italiano possuía grande conhecimento a respeito de óptica, um campo de estudo da Física que analisa como a luz interage com objetos — o que sabemos porque Da Vinci fez anotações e cálculos a respeito disso em seus diários.
Apesar disso, a maneira como retratou o orbe parece desafiar os conceitos ópticos. Uma esfera de vidro, afinal, causaria uma distorção dos objetos que vemos através dela devido à sua superfície curva e ao fenômeno da refração (no qual a luz possui uma mudança de velocidade ao atravessar diferentes meios de propagação).
O fato do orbe presente em Salvator Mundi não apresentar as distorções esperadas nesta situação chegou a levar alguns especialistas a questionarem se foi mesmo Da Vinci que pintou a obra.
Uma explicação oferecida anteriormente para justificar a situação, conforme repercutiu o portal LeonardoDaVinci.net, foi elaborada pelo biógrafo Walter Isaacson. Segundo ele, o pintor renascentista poderia ter ignorado propositalmente as leis da Física em seu quadro a fim de demonstrar a capacidade de Jesus Cristo de dobrar as regras da natureza.
Um estudo divulgado em 2019 e realizado por uma equipe norte-americana de cientistas da computação, por outro lado, elaborou uma maneira mais convincente de explicar a pintura.
Os pesquisadores criaram uma simulação virtual da esfera de vidro para entender em que circunstâncias ela apresentava as propriedades que possui na pintura, e descobriu que a maneira como Da Vinci pintou o objeto é perfeitamente condizente com os princípios da óptica quando se considera que o orbe, em vez de ser maciço, é oco.
Quando a camada de vidro que a luz precisa atravessar é mais fina, afinal de contas, as distorções são bem menores — exatamente como ocorre em Salvator Mundi.
Essa análise sugere que Leonardo entendeu essas propriedades ópticas das esferas ocas e como evitar distorções óticas na renderização das dobras da túnica do sujeito", explicaram os especialistas em um artigo publicado no periódico científico arXiv.org.
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