Wikimedia Commons - Millie e Christine McKoy
Personagem

Conheça as irmãs siamesas Millie e Christine McKoy

Desde a infância, as gêmeas afro-americanas não só tiveram que enfrentar a vida nos freak shows, como também a dor da escravidão

Vanessa Centamori Publicado em 12/05/2020, às 13h33

Em 1852, ainda bebês, aos 10 meses de idade, as irmãs siamesas afro-americanas Millie e Christine McKoy foram oferecidas pelo ferreiro Jabez McKay por mil dólares para um showman interessado em exibi-las como se fossem aberrações.

Ligadas pela coluna inferior e com a mesma pelve, as irmãs tinham, cada uma, dois braços e duas pernas. Eram duas pessoas independentes, apesar da condição genética diferente - porém, infelizmente, jamais eram vistas com bons olhos diante da sociedade.

Além do preconceito acerca da aparência física, as siamesas eram de uma família de escravos e viviam sem escolha senão obedecer às injustiças da vida. 

Infância sofrida

As irmãs foram afastadas da família sob as ordens de John C. Pervis, que exibia as meninas e pagava uma porcentagem dos lucros para o antigo proprietário das escravas. 

As siamesas Millie e Christine McKoy / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Quatorze meses depois, elas foram negociadas com outro showman, chamado Brower, que era financiado pelo rico comerciante Joseph Pearson Smith. As gêmeas, nas mãos do nobre, fizeram grande sucesso sob o título "The Carolina Twins", na feira estadual da Carolina do Norte, em 1853.

Aos 3 anos de idade, elas apareceram no famoso Museu Americano de P.T Barnum, em Nova York. Durante esse período, Smith foi vítima de um golpe e as crianças foram levadas a força para a Inglaterra, sem a companhia da família. 

De volta ao antigo proprietário 

As siamesas só foram recuperadas por Smith em 1857. O homem de espetáculos entrou com um processo na justiça e as irmãs retornaram a Wadesboro, Carolina do Norte, para onde ele havia transferido os pais e os irmãos das meninas.

Cartaz promocional que apresentava as gêmeas / Crédito: Wikimedia Commons 

 

A esposa de Smith ensinou Millie e Christine a ler, escrever, cantar, dançar e tocar piano; Além disso, elas aprenderam um pouco de alemão e francês. Tais habilidades foram incorporadas durante exibições, que elas passaram a fazer desta vez sob designações como a "Garota de Duas Cabeças" ou o "Rouxinol de Duas Cabeças". 

Emancipação 

Finalmente, em 1 de janeiro de 1863, graças à Proclamação de Emancipação nos Estados Unidos, as gemêas siamesas deixaram de ser escravas e obteram a sua alforria. Resolveram, no entanto, permanecer com os Smith.

Em 1869, uma autobiografia sobre as gêmeas, chamada História e Descrição Médica da Menina de Duas Cabeças, foi lançada. A autoria da história original das gêmeas é creditada a apenas uma delas, mas a narrativa da obra é escrita em primeira pessoa do plural. 

O livro costumava ser vendido durante aparições públicas das irmãs. Até que no verão de 1871, Millie e Christine viajaram novamente para a Inglaterra, onde se apresentaram para a Rainha Victoria, que teria as presenteado com um par de grampos de diamante.

Ao longo dos anos 1880, elas fizeram parte do circo itinerante de Barnum, mas se aposentaram no fim daquela década na região do Condado de Columbus. 

Anúncio que divulgava as apresentações de Millie e Christine McKoy  / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Superação 

A maioria das informações sobre as gêmeas são proveninetes da autobiografia, encontrada por Joan Martell na biblioteca de Whiteville, Carolina do Norte. No entanto, outra obra também descreveu a condição das irmãs. Martell é autora do livro sobre as siamesas, Millie-Christine: Fearfully and Wonderfully Made, publicado em 2000.

A escritora cita uma série de relatórios médicos observando a inteligência acima da média das meninas. Ela menciona ainda extensivamente poemas e cartas das gêmeas para demonstrar sua inclinação literária.

Segundo Martell, as irmãs se transformaram de "pequenas monstruosidades pobres e bebês negros" a "mulheres jovens independentes e ricas que podiam comandar US $25 mil por uma temporada no circuito da feira do condado". 

Como resultado de seus empreendimentos, as siamesas adquiriram a plantação em que nasceram como escravas e a entregaram ao pai biológico, além de fornecerem lares e meios de subsistência para pelo menos nove irmãos. Mais tarde, as garotas fundaram uma escola para crianças negras e apoiaram várias faculdades de modo anônimo.

Millie e Christine McKoy mais velhas / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Momentos finais

 

As irmãs diziam em sua obra original que "não gostariam de ser cortadas, mesmo que a ciência pudesse efetuar uma separação" porque elas tinham "um sentimento em comum, um desejo, um propósito".

Então, permaneceram juntas até a morte. Millie foi a primeira a morrer, de tuberculose, em outubro de 1912. Médicos, incapazes de separá-las, tiveram que receitar a Christine morfina para ajudar a acabar com sua vida rapidamente, sem que ela sofresse.

Ainda assim, alguns relatos dizem que Christine sobreviveu até 17 horas após a morte da irmã. Como resultado do óbito iminente, Millie e Christine McKoy foram enterradas em túmulos não marcados, sendo transferidas em 1969 para um cemitério em Whiteville. A sepultura das gêmeas dizia:  “Uma alma com dois pensamentos. Dois corações que batem como um". 


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