Uma das pegadas de animais encontras na Tanzânia - Divulgação/Tessa Plint e Clayton Magill
Paleontologia

"Uma janela única para o passado": As pegadas de quase 2 milhões de anos descobertas na Tanzânia

As marcas fósseis de animais foram encontradas por acaso em bom estado de preservação e impressionaram os pesquisadores

Alana Sousa Publicado em 26/06/2021, às 07h00

O sítio paleontológico Garganta de Olduvai, localizado ao leste da África, na Tanzânia, é um dos mais importantes do mundo. Repleto de vestígios da Pré-História, a extensa área atrai estudiosos de diferentes lugares, que buscam entender melhor os anos que passaram.

Assim foi o caso de Tessa Plint, especialista em paleoecologia e Clayton Magill. A dupla faz parte da equipe da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, e jamais poderia imaginar no que iria encontrar na viagem ao sítio africano.

Uma descoberta fascinante

Na maioria das expedições à Garganta de Olduvai, pesquisadores esperam encontrar fragmentos de ossos ou dentes de animais que auxiliam a compreender mais sobre a vida na Terra de milhões de anos atrás.

Entretanto, o caso dos especialistas escoceses foi diferente. Caminhando pelo local demarcado do sítio, Plint e Magill se depararam com três pegadas bem conservadas de animais. Sem acreditar no que haviam encontrado, eles fotografaram as evidências e retiraram pequenas amostras para levar ao laboratório.

Tessa Plint ao lado de sua descoberta / Crédito: Divulgação/Universidade Heriot-Watt

 

Os resultados foram publicados em 14 de junho na revista científica Ichnos, e foram repercutidos pela revista Galileu. A descoberta está sendo descrita como algo inédito na região, já que nenhuma pegada de um animal terrestre de grande porte tinha sido localizada antes.

Segundo os especialistas, as marcas fósseis datam de 1,8 milhão de anos atrás, e acredita-se que foram deixadas por antílopes ou até mesmo gazelas. “Estávamos no desfiladeiro de Olduvai para coletar amostras de sedimentos arqueológicos para análises geoquímicas”, disse Plint sobre o objetivo da missão.

“Não estávamos lá para procurar rastros fósseis: encontrá-los foi 100% uma questão de olhar para baixo no lugar certo, na hora certa. Foi um momento muito emocionante”, acrescentou a especialista em entrevista à revista Phys.

Plint ainda enfatizou que a descoberta é rara e sem precedentes. “Foram encontradas pegadas fósseis de pássaros em camadas de rocha geologicamente mais jovens do desfiladeiro de Olduvai, mas nunca pegadas fósseis de grandes animais terrestres”.

Imagem das pegadas descobertas em sítio na África / Crédito: Divulgação/Tessa Plint e Clayton Magill

 

Localizado no Vale do Rift da África Oriental, o sítio anteriormente revelou rastros de ancestrais humanos, algo que revolucionou o estudo pré-histórico para a comunidade científica. Porém, com a descoberta das pegadas de quase 2 milhões de anos, o local pode ajudar a compreender aspectos também da vida animal.

“Pegadas fósseis, ou neste caso, as pegadas fósseis oferecem uma janela única para o passado. Elas têm o potencial de nos contar sobre o comportamento do criador de trilhas, algo que é muito difícil de determinar em animais extintos”, afirmou Plint.

Clayton Magill complementou dizendo que “os rastros fósseis capturam um momento instantâneo no tempo. É uma descoberta que sugere que, se rastros fósseis podem ser preservados nos sedimentos do desfiladeiro de Olduvai, então há potencial para futuras descobertas de animais grandes ou talvez até rastros de hominídeos primitivos nesta área”.

Pegadas de animais / Crédito: Divulgação/Tessa Plint e Clayton Magill

 

A raridade da descoberta se dá também por seu estado de preservação. Isso só foi possível, pois, as marcas foram conservadas em uma camada de cinzas de um vulcão que entrou em erupção há 1,8 milhão de anos.

A esperança para o futuro é que, além de pegadas, o sítio guarde fósseis mais completos de animais extintos e apresente um novo olhar sobre o passado. “Sabemos com certeza que aquele animal estava fisicamente presente naquele ambiente em um momento específico no passado”, finalizou Magill.


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