Montagem com o primeiro imperador da China, Qin Shi Huang, e o exército de terracota ao fundo - Domínio Público via Wikimedia Commons
História

A tumba intocada de Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China

Exército? Rio de mercúrio? Entenda por que a tumba do primeiro imperador da China não pode ser explorada!

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/08/2023, às 12h00 - Atualizado em 11/10/2023, às 12h19

Ao longo da História, por várias regiões do planeta, vastos impérios já surgiram, encontraram a glória e um derradeiro fim. E entre os mais grandiosos que o homem já viu, um que facilmente brilha aos olhos é o antigo império chinês.

No passado, o território que se tornaria no glorioso império chinês era composto por seis reinos independentes, que viviam em guerra havia mais de 200 anos. Porém, no ano de 259 a.C., tudo começaria a mudar: nascia no reinado de Qin o primeiro filho do imperador Zhuangxiang, Qin Shi Huang.

Ao longo de sua trajetória, colaboraria com seu reino nas empreitadas expansionistas e, aproveitando-se de força militar, estratégia e desastres naturais, conquistou todos os outros cinco reinos, proclamando-se não somente rei, como também imperador da China — o primeiro de uma linhagem gloriosa.

Depois de sua morte em 210 a.C., aos 49 anos, Qin Shi Huang foi, então, enterrado em um mausoléu digno de todas as suas conquistas em vida: uma extensa coleção de cavernas subterrâneas, com o tamanho relativo ao de uma cidade, contendo tudo que o imperador precisaria em sua vida após a morte — os antigos chineses acreditavam, assim como os egípcios, que itens e pessoas enterradas com um ente poderiam ser levadas no pós-vida.

No entanto, o impressionante mausoléu de Qin Shi Huang não teria enterrado em seu interior o numeroso exército chinês, nem outras pessoas comuns na rotina do imperador, como concubinas, administradores e servos. No lugar, o líder levou consigo, sim, tudo aquilo de que precisava para ser capaz de conquistar todo o pós-vida, mas criados de terracota.

Réplicas do exército de terracota de Qin Shi Huang / Crédito: Getty Images

 

Descoberta surpreendente

Não se sabe o que impressiona mais, a complexidade do antigo mausoléu, ou o fato de, apesar do tamanho, ele ter passado mais de 2 mil anos intocado. Porém, isso mudaria em 1974, quando um grupo de fazendeiros cavando poços perto de Xi'an, na China, tropeçou no que se tornaria uma das descobertas arqueológicas mais impressionante de todos os tempos: um soldado de terracota.

Curiosos, os homens desenterraram a escultura, mas posteriormente isso se provaria apenas a ponta do iceberg: estima-se que existam, segundo o Live Science, ao menos 8 mil soldados enterrados, ou seja, demandaria de muito trabalho para escavarem todas as esculturas. Porém, não seria tão relevante escavar cada vez mais soldados comuns de terracota, quando se poderia ir direto à tumba central, onde ficaria abrigado o corpo de Qin Shi Huang; exceto pela intervenção do governo chinês.

Mas, na verdade, "é realmente inteligente o que o governo chinês está fazendo", explicou a arqueóloga Kristin Romey ao Live Science em 2012. "Quando entramos na tumba do [rei egípcio] Tut , pense em todas as informações que perdemos apenas com base nas técnicas de escavação da década de 1930. Há muito mais que poderíamos ter aprendido, mas as técnicas naquela época não eram o que temos agora."

Monumento em frente à montanha sob a qual se encontra soterrado o mausoléu de Qin Shi Huang / Crédito: Foto por sylvannus pelo Wikimedia Commons

 

A decisão de explorar a tumba de Qin Shi Huang apenas em um futuro com tecnologias que não danifiquem nada, ou mesmo nunca, cabe ao governo da China. Porém, é compreensível o receio em avançar nas escavações.

Quando começaram a escavar [os soldados] nos anos 70, no minuto em que foram expostos ao ar e à luz solar, o pigmento simplesmente se desprendeu. Agora eles descobriram uma nova técnica em que podem realmente preservar a tinta enquanto escavam", explicou Romey ao Live Science em 2012.

Rio de mercúrio

Como o mausoléu de Qin Shi Huang era uma construção tão colossal quanto seu próprio império, ao interior não contaria apenas com itens relacionados ao poder político, como também para o prazer do imperador chinês. Antigos escritos descrevem que o líder criou todo um reino e palácio subterrâneo, com um teto que imita o céu noturno, cravejado de pérolas como estrelas. Ao mesmo tempo, especialistas acreditam em poços cheios de concubinas de terracota — ainda não descobertas.

Porém, ainda existe outra razão, além das limitações tecnológicas, para não explorar o local: acredita-se que a tumba de Qin Shi Huang ainda seja, também, cercada por rios de mercúrio líquido. Na época, os chineses acreditavam que o metal tóxico tinha a capacidade de conferir a imortalidade — o que hoje se sabe que não.

E a toxicidade do solo ao redor da tumba, que aponta níveis de contaminação de mercúrio extremamente alto, é outro grande empecilho nas escavações da região. No fim, Qin Shi Huang permanece, até hoje, sendo um imperador tão intocável que, mesmo 2 mil anos depois de sua morte, muitos de seus segredos seguem mantidos enterrados no passado.

Antiga representação de Qin Shi Huang / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

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