O 'Documento Especial' mostrou, na TV aberta, jovens surfando sobre trens e até cadáver de adolescente
Wallacy Ferrari Publicado em 13/03/2022, às 09h00
Em seu ano de estreia, o programa 'Documento Especial', transmitido pela Rede Manchete entre os anos de 1989 e 1991, chamou atenção sobre a abordagem crua sobre temas polêmicos.
Contudo, além da marcante reportagem 'Os Pobres Vão À Praia', o ano de 1989 também teve a transmissão original do episódio 'Surfe Ferroviário'. O episódio se tornou, na época, uma referência sobre o caso, retratando os muitos acidentes que ocorriam diariamente sobre os trens nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro.
O programa iniciou fazendo alusão à prática original do surfe, explicando que, longe das condições socioeconômicas de morar perto da praia ou sequer adquirir uma prancha, ela foi adaptada para um formato ainda mais perigoso e radical.
Nela, jovens escalam trens da CPTM e CBTU e desviam de obstáculos no trajeto, como pontes e placas, se agachando e até deitado antes de retomar a posição de surfe. Tudo isso sem nenhum suporte manual.
O único que poderia ser segurado como uma resposta motora de apoio seria os fios de alta tensão, dificultando ainda mais o percurso, visto que encostar neles resultaria em uma violenta morte imediata, capaz de torrar o corpo a ponto do derretimento.
Em âmbito educacional, a reportagem mostra imagens de investigação cedidas pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos mostrando trens que foram afetados por surfistas ferroviários, roupas derretidas, torrões na carcaça do veículo e até um teto de metal aberto, que derreteu com o corpo de um surfista eletrocutado por milhares de volts sobre o trem.
A segunda parte depois do intervalo do programa comenta o embasamento jurídico do surfe ferroviário e mostrando casos de rapazes que sofreram lesões graves com a prática, mas que não tiveram direito a indenização quando o hábito foi comprovado.
Contudo, outros casos eram ganhos ao argumentar que os trens viviam superlotados e que as lesões ou mortes eram causadas por portas abertas durante deslocamento ou empurrões.
Em contrapartida, o porta-voz da CBTU explicou que, além da defasagem, risco de vida e demora nos trens, o surfe nos vagões causava uma perda financeira em indenizações e episódios de tumulto.
Na reportagem, citou um caso em janeiro de 1988, onde um homem morreu e empacou um veículo no meio dos trilhos, atrasando o sistema ferroviário em horário de pico e causando uma revolta popular com dez trens incendiados e estações depredadas, cujo prejuízo foi estimado em US$ 10 milhões de dólares na época.
Pouco antes do final, o choque; a reportagem mostra uma mãe aos prantos após ser informada, em frente a equipe do programa, que seu filho de 16 anos havia falecido, vítima de um acidente enquanto praticava surfe ferroviário.
Não apenas a mulher, que precisou ser segurada por uma pessoa dizendo que estava "poupando ela" da notícia, mas o filho, disposto em um caixão, foi exibido no episódio, o encerrando em tom trágico.
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