Fotografia de Charles Osborne - Divulgação
Soluço

Soluços crônicos: O homem que soluçou por 68 anos

Após sofrer uma queda, Charles Osborne desenvolveu uma condição crônica que persistiria durante quase toda a sua vida

Ingredi Brunato Publicado em 16/07/2023, às 09h00 - Atualizado em 14/12/2023, às 15h23

Em 1922, quando tinha 28 anos, Charles Osborne passou por um acidente de trabalho que mudaria sua vida para sempre. Na época, ele trabalhava em uma fazenda, e estava fazendo um procedimento rotineiro: pendurando um porco no ar para que o animal fosse abatido. 

Quando tentou erguer o suíno de aproximadamente 160 quilos, no entanto, o norte-americano acabou se desequilibrando e caindo. Ele não sofreu nenhuma lesão aparente, mas, daquele dia em diante, começou a ser atormentado por soluços crônicos. 

A condição 

Soluços podem ser definidos por espasmos involuntários do diafragma, que é um músculo localizado entre o abdômen e o tórax. Outro detalhe importante é que essa contração dele leva ao fechamento da glote (o espaço entre as pregas vocais), o que por sua vez produz o típico som emitido por pessoas soluçando. 

O fenômeno pode ser causado por diversos motivos, como comer muito rápido, ingerir bebidas gaseificadas, engolir ar durante a mastigação, respirar errado e outros. Quando alguém tem uma crise de soluços, todavia, ela costuma ter curta duração — ou seja, pode ser um incômodo, mas não é realmente um problema. 

Os soluços são considerados crônicos quando duram por mais de 48 horas, o que ocorre com cerca de 1 a cada 100 mil indivíduos, embora raramente isso persista por meses ou anos. 

As crises duradouras, aliás, podem inclusive ser um sintoma de doenças graves no sistema digestivo do paciente. No caso de Osborne, infelizmente, ninguém nunca conseguiu determinar a causa exata.

Mistério médico

Montagem mostrando Charles Osborne em sua juventude e após a velhice / Crédito: Divulgação

 

Segundo divulgado pela revista People, o homem visitou profissionais de saúde através do território estadunidense, porém sem sucesso. Duas teorias, no entanto, se destacavam na tentativa de explicar sua condição enigmática. 

Um delas é referente a um exame feito por Charles ainda em 1922, logo após sua queda, que revelou o rompimento de um pequeno vaso sanguíneo (que teria a espessura de uma agulha) em seu cérebro. 

Assim, Terence Anthoney, um dos médicos visitados pelo norte-americano, especulou que aquele vaso sanguíneo rompido poderia ser responsável por controlar o diafragma, de forma que sua danificação temporária teria sido o suficiente para irritar neurônios importantes e desencadear anos de desconforto.

A segunda teoria, entretanto, é do neurocirurgião Ali Seifi. Ele acreditava que Osborne poderia ter lesionado seus músculos respiratórios sem saber durante o impacto com o chão. 

Qualquer que fosse a razão, ninguém tinha uma cura, de forma que o homem continuou soluçando durante nada menos que 68 anos de sua vida. A longevidade de sua condição crônica chegou a torná-lo famoso nos Estados Unidos, dado o quão raro é que soluços se estendam por meses, quanto mais décadas. 

Cotidiano soluçante

Assim, Charles acabou precisando aprender a viver com a enfermidade. Ele descobriu, por exemplo, como suprimir o som dos soluços ao fazer respirações estratégicas entre um espasmo e outro. Dessa forma, as pessoas com quem interagia podiam ver seu peito tremendo devido à contração, mas não o ouviam soltar aquele típico "hic".

A técnica de supressão, além de tornar sua condição menos visível, o ajudaria a ter boas noites de sono (durante as quais os soluços incessantes poderiam, de outra forma, impedi-lo de dormir). Além disso, o estadunidense precisou reaprender a se alimentar naquela sua nova situação de constantes contrações involuntárias por parte de seu diafragma

Essas adaptações permitiram que Charles Osborne convivesse com seus soluços por quase sete décadas. Neste período, aliás, ele não deixou que a doença parasse sua vida: teve múltiplos empregos, se casou uma segunda vez e foi pai de 8 filhos.

Conforme informou o New York Post, o diafragma do estadunidense finalmente se acalmaria em 1990. Ele pôde, portanto, desfrutar de um cotidiano desprovido de soluços durante alguns meses antes de falecer em 1991, aos 97 anos. E, até hoje, o recorde mundial do Guinness Book de mais longa crise de soluços já registrada pertence ao norte-americano. 

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