Alimento, conservante e anticoncepcional, o sílfio foi uma valiosa erva romana que desapareceu; entenda!
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/09/2023, às 17h53 - Atualizado em 30/09/2023, às 08h08
Quando se observa a História como um todo, e todos os gloriosos eventos e impérios que reinaram na Terra, um que facilmente chama atenção é o Império Romano. Isso porque foi o responsável por dominar grande parte da Europa e algumas regiões, inclusive da África e da Ásia.
Mas, existem várias maneiras de se observar os antigos romanos. Afinal, eles não foram somente uma grande potência política e militar que conquistou forçadamente as mais diversas regiões do 'velho continente'. O Império Romano também foi um importante berço cultural e intelectual, ainda mais considerando todas as influências que absorveu com sua expansão, como dos gregos e dos egípcios.
Claro que, com tantas influências e contatos diferentes, os antigos romanos se deparavam também com riquezas naturais muitas vezes desconhecidas para eles, como novas plantas, animais e, até mesmo, ingredientes alimentícios.
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Entre esses bens espalhados por toda a extensão do império, havia um em específico que foi adorado pelos romanos. Praticamente escondida no que outrora foi a colônia grega de Cirene — na atual Líbia —, havia uma erva bastante versátil conhecida como sílfio. Surpreendentemente essa erva chegou inclusive a valer mais que ouro no mercado. Entenda!
De acordo com a BBC, lendas antigas contam que o sílfio foi descoberto há mais de 2,5 mil anos, após uma forte tempestade na costa leste de onde hoje é a Líbia. Depois do evento, a erva teria surgido e se espalhado por toda a região, ao longo de todas as suas colinas e planícies.
Embora possa soar estranho que uma planta tenha surgido em abundância na região do norte da África, toda a área de Cyrenaica (a costa da Líbia, que recebia esse nome justamente em referência à cidade de Cirene) era conhecida principalmente pela abundância em água — mesmo hoje, algumas partes recebem 85 cm de água por ano, quase tanto quanto no Reino Unido.
Originalmente, a Cyrenaica foi colonizada pelos gregos antigos, no entanto, em 96 a.C. foi anexada pelos romanos. A partir desse momento, o sílfio existente na região começou a desaparecer — o que demorou 100 anos para se concretizar.
Enquanto muitos podem pensar que, como uma planta, basta cavar um buraco na terra e colocar uma muda que surgirão mais, entretanto, o sílfio surge como uma frustração: descrita como "temperamental", a erva só crescia na região da Cyrenaica. Nem gregos, nem romanos conseguiam plantá-la em outros lugares — o que fazia dela endêmica e ainda mais valiosa. Só poderia ser colhida em sua forma silvestre.
A razão para o grande consumo do sílfio por parte dos romanos não é à toa: embora não seja possível afirmar se ela era saborosa ou não, antigos registros revelam que a erva possuía várias funcionalidades para a sociedade daquela época.
Inicialmente, seu caule e raízes já eram comestíveis. Foram servidos geralmente como um petisco, quando marinado em vinagre. Já se cozida com lentilhas, tinha funções conservantes. Isso sem mencionar que criadores de ovelhas e carneiros cujos animais comiam tal erva, obtinham uma carne mais macia.
Além disso, a seiva desidratada do sílfio fora utilizada para criar um condimento, conhecido como laser, bastante utilizado na gastronomia romana. Porém, o uso foi além do alimentício: a erva era utilizada também como remédio para uma série de condições — incluindo hemorroidas —, e suas flores serviam como matéria-prima para perfumes.
Embora a lista de utilidades já pareça grande, o sílfio possuía mais propriedades: era um poderoso afrodisíaco, e também pode ter sido usado como um dos primeiros anticoncepcionais da História, por seu potencial de "purgar o útero".
Com tantas propriedades, claro que o sílfio se tornaria um queridinho dos romanos, tendo sido, inclusive, eternizado na literatura. E com isso, Cirene também se tornou um dos lugares mais ricos de todo o continente africano — e a erva, tão importante para a região, estampava até mesmo as moedas.
Até hoje, é difícil fazer afirmações com certeza sobre sílfio, visto que a erva praticamente não existe desde os romanos. Porém, várias teorias tentam explicar: desde um problema relacionado às sementes até a possibilidade de ser, na verdade, uma espécie de híbrido que surgiu naturalmente.
Ainda assim, também existem especialistas que acreditam que a erva ainda pode ser encontrada, mas com outro nome, ou talvez com alguma pequena alteração por hibridismo. Infelizmente, é inegável que o sílfio pode nunca ser redescoberto, e assim o Império Romano manteve o legado de sua raridade, e de seu valioso bem.
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