Lenda sobre o homem quem fazia um trajeto a pé de mais de 580 quilômetros, entre os rios Connecticut e Hudson, deixou perguntas que jamais foram respondidas
Fabio Previdelli Publicado em 08/03/2020, às 08h00
O misterioso Leatherman (ou, homem de couro, em tradução literal) tornou-se uma espécie de celebridade na América do século 19. O desconhecido personagem tinha uma peculiaridade um tanto quanto curiosa: frequentemente, ele fazia a pé um trajeto de mais de 580 quilômetros, que ia desde o rio Connecticut até o Hudson. Sua rota era tão regrada que as pessoas podiam marcar no calendário o dia e horário que ele passaria por lá.
A incrível história começou por volta da Guerra Civil Americana. Neste período, muitas pessoas estavam desesperadas para trabalhar, assim como encontrar um lugar amistoso que oferecia apenas um prato quente de comida e um lugar para passar a noite.
Leatherman se tornou uma lenda local. Nunca ninguém descobriu de onde ele veio ou quem ele era. A única coisa que sabiam sobre era seu apelido e que ele sempre se recusava a comer carne às sextas-feiras — o que sugeria que ele era católico romano. Outro fato curioso, é que ele carregava consigo um distinto terno de couro que pesava mais de 15 quilos.
Independente de suas motivações, ele cativava as pessoas por onde passava graças a sua ilustre aparência e a sua pontualidade notável. Dizia-se que era possível saber a hora por causa da exatidão do mesmo. Normalmente, a cada 34 dias ele retornava por cada cidade que passava.
Ao longo de sua rota, ele dormia em cavernas ou estruturas abandonadas de paralelepípedos, onde ele armazenava comida e coisas úteis. Esses locais ficaram conhecidos como “cavernas do Leatherman”, e até hoje são pontos de interesse nessas regiões.
A grande questão era: por que uma pessoa tão enigmática era tão amada? Em 1879, o Estado de Connecticut aprovou a “Lei de Vagabundos”, que permitia a prisão de indigentes, mas, mesmo assim, ele nunca foi preso. É verdade que ele chegou a ser levado pela polícia uma vez, mas eles só estavam preocupados com sua saúde.
O misterioso mendigo viajante se tornava cada vez mais enigmático. Apesar de ter um carisma único, o que o tornava uma celebridade por onde passava, ele quase nunca falava, se comunicando apenas com alguns grunhidos, murmúrios e algumas palavras de alguém que tentava arranhar um inglês. Ocasionalmente, frases em francês podiam ser discernidas de sua fala, o que levou muito a acreditarem que ele era oriundo do país do oeste europeu.
De fato, após a sua morte, ele foi identificado pelo nome de Jules Bourglay que, inclusive, ficou marcado em sua lápide. Porém, isso foi apenas uma teoria infundada que foi refutada pouco tempo depois.
Segundo a lenda desmentida, Jules veio de Lyon, na França. Lá, ele era marceneiro, mas havia perdido todo seu dinheiro devido a uma crise no mercado. Bourglay teria se apaixonada pela filha de um comerciante de couro — mas também acabou lhe perdendo. Desconsolado, ele rumou para a América. Desde então, ele teria vagado pela solidão vestido com o material que seria uma lembrança de sua maior decepção.
Apesar da romantização, esse conto foi provado ser falso, apesar de muitas pessoas continuarem contando essa história até hoje. Quem quer que fosse esse personagem, ele permaneceu enigmático até depois de sua morte.
Ele foi encontrado morto em março de 1889, em um de seus abrigos regulares em Nova York. Novamente, mais uma dúvida foi gerada em torno de seu perecimento. Alguns atribuem seu fim a um misterioso ferimento na cabeça. Outros alegam que ele veio a óbito em decorrência de um câncer causado por seu uso excessivo de tabaco.
Seja lá qual foi o caso, ele recebeu um enterro digno que condiz com seu status de “celebridade” local. Mas quem pensa que o fim de Leatherman também sacramentou o término das curiosidades que o permeiam está muito enganado. Isso só trouxe mais perguntas sem respostas. Ainda hoje, dois questionamentos ainda permanecem: não apenas quem ele era, mas onde ele está?
O viajante foi enterrado no cemitério Sparta em Ossining, Nova York. Em 1953, historiadores locais acrescentaram na lápide dele as seguintes informações:
“Local de descanso final de Jules Bourglay. De Lyon, França
‘O HOMEM DE COURO’, que percorriam regularmente uma rota de 365 milhas através de Westchester e Connecticut, do rio Connecticut para o Hudson. Vivendo em cavernas entre os anos de 1858–1889”.
No entanto, em 2011, seu túmulo foi exumado, na tentativa de mover seus restos mortais para um local mais central do cemitério. Estranhamente, os trabalhadores não encontraram vestígios do corpo no caixão, apenas algumas unhas grandes. Tudo o que sobrou dentro da lápide foi reunida e reenterrada em uma nova lápide, em que desta vez só havia a marcação de “The Leatherman”.
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