Coroado como próximo imperador com apenas 6 anos de idade, a preparação do jovem chegava a contar com funcionários dedicados ao monarca
Wallacy Ferrari Publicado em 21/07/2020, às 11h53
Em meio a crises de impopularidade após a morte de seu maior opositor, o mesmo Dom Pedro I que fez questão de impor a independência do Brasil abdicava do trono mais alto do Estado. Seu desligamento, rodeado de problemas econômicos, sociais e políticos, fez o monarca abandonar o mais rápido possível as terras tupiniquins, partindo para a Europa após entregar o papel da renúncia.
A pressa era tamanha, que o rei não apenas deixou para trás um país desamparado, mas também todos os filhos. O único filho do sexo masculino que ainda estava vivo em 7 de abril de 1831 era o já nomeado Príncipe Imperial Pedro II. Com a mãe falecida quando tinha apenas um ano de idade, tudo apontava para o pequeno como próximo líder de uma nação.
Os membros do governo, no entanto, conseguiram visualizar que um rei de seis anos governando um país que se aproximava de uma guerra civil não parecia a melhor das ideias. Sabendo disso, uma regência com três facções políticas foi criada para governar até 2 de dezembro de 1843, quando Pedro II atingisse a maioridade.
Educação especial
Antes de deixar o país, o pai do rapaz selecionou três pessoas para cuidar dos filhos; José Bonifácio de Andrada era um líder político influente durante a independência, mas passava a ser tutor dos jovens. Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho era a babá das crianças desde o nascimento, sendo considerada a mãe de criação do pequeno. O terceiro era Rafael, um militar negro empregado do paço, muito respeitado e confiado por Pedro I.
José Bonifácio acabou sendo destituído dois anos depois, sem desempenhar a função de maneira satisfatória ao pai. Já os outros dois acompanhariam o pequeno até a fase adulta, ajudando o garoto a estudar ao longo de todos os dias, possibilitando apenas duas horas diárias para descansar e brincar. Apaixonado desde cedo pela leitura, era especialmente educado para que não fosse tão agressivo e impulsivo como o ex-imperador.
Apesar de criado com zelo, era solitário, visto que, além de ter perdido a mãe muito cedo e não ter a presença do pai, o contato com as irmãs era limitado pelas horas de estudo, além de pouquíssimos amigos de sua idade, visto que não comparecia a uma escola. Com isso, os livros se tornariam um refúgio do garoto carente pelo resto de sua vida.
Hora de governar
Se por um lado o garoto era criado com calmaria, a situação política com a regência criada não era harmoniosa. Com as constantes brigas entre as facções eleitas para tomar as decisões federais, a ideia de largar o difícil governo brasileiro era eminente; cada vez mais próximo de completar 18 anos, os membros da regência tinham o desejo de antecipar a maioridade do rei o mais rápido possível.
A decisão não era apenas interna; de acordo com o historiador Antônio Carlos Olivieri, o povo brasileiro fazia questão de apoiar a diminuição, visto que Pedro II era um “símbolo vivo da união da pátria”, possibilitando um posicionamento político do adolescente mais notável e impactante do que de qualquer outra autoridade regente. O jovem foi perguntado em 22 de julho de 1840 se conseguiria cumprir com a função, respondendo timidamente que “sim”.
A Assembleia Geral (então parlamento federal) não aguentou segurar mais um dia sequer, aproveitando a pressão do Partido Liberal junto a população, e no dia seguinte, 23, declarou formalmente o jovem Pedro II maior de idade, com apenas 14 anos. Na época passando por diversas revoltas, o garoto assumia um Brasil em ruínas — e o entregaria em ascensão, 49 anos depois.
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