Muito embora tenha sido bem recebido na estreia, esse clássico da literatura mundial, única obra de Chambers lembrada por leitores e crítica modernos, não lhe angariou fama ou fortuna
M.R. Terci Publicado em 08/09/2019, às 03h00
Já faz 5 anos que a série televisiva True Detective estreou na HBO, com altos níveis de audiência. Aclamada pela crítica especializada, a série narrava a história de dois detetives, obcecados em capturar um serial killer que pratica assassinatos ritualizados no sertão pantanoso de Louisiana.
Logo na estreia, a atenção do público foi cativada pela atuação irretocável de Matthew McConaughey e Woody Harrelson, e também pela atmosfera obscura, prenhe de elementos mitológicos específicos inspirados da literatura fantástica, mais especificamente as narrativas de ficção e horror de Robert W. Chambers (1865 – 1933).
Em True Detective, os sacrifícios eram feitos para o Rei de Amarelo, uma efígie carregada de simbolismo, representada por um deus de chifres em uma propriedade em ruínas apelidada de Carcosa.
Tanto o deus como as ruínas fazem parte da ficção de Chambers, notadamente a entidade cósmica The King in Yellow e a cidade perdida de Carcosa. Desde a estreia da série, o livro, antes pouco conhecida pelo público brasileiro, ganhou notoriedade e várias edições foram lançadas no território nacional desde então.
Venham comigo, pelos caminhos mais escuros da história, descobrir que a fama e fortuna nem sempre carregam um nome ao estreito rol da imortalidade.
A obra-prima do escritor e editor Robert W. Chambers, O Rei de Amarelo, é uma coletânea de contos de horror fantástico publicada originalmente em 1895, que faz alusão a um livro dentro do livro, uma peça de teatro fictícia que leva à loucura e perdição da alma qualquer pessoa que se submeta à sua leitura. Um misto irresistível de beleza, loucura e decadência, considerada um marco no gênero, justamente por conceber outro o gênero, o horror cósmico.
Chambers conseguiu com apenas esse livro o que muitos escritores de ficção fantástica jamais conseguiram: alçou seu nome às cátedras da imortalidade literária. Seu Magnum Opus, projeta, até os dias de hoje uma luz doentia que não cessa de inspirar uma grande variedade de artistas que se deixaram perturbar pelas estranhas imagens evocadas pelo Rei de Amarelo. Sua obra influenciou decisivamente às gerações de escritores consagrados como H. P. Lovecraft, Lin Carter, Karl Edward Wagner, Neil Gaiman e Stephen King.
O que pouca gente sabe é que, muito embora tenha sido bem recebido na estreia, esse clássico da literatura mundial, única obra de Chambers lembrada por leitores e crítica modernos, não lhe angariou fama ou fortuna.
Chambers obteve grande sucesso e enorme fama durante a Primeira Guerra Mundial, escrevendo romances históricos.
Ele viria a conquistar fortuna ainda em vida com uma série de romances água com açúcar, obras comerciais, escritas para satisfazer secretamente o gosto de moças românticas, narrativas picantes de amor, o que na época poder-se-ia considerar literatura hot – dois desses livros venderam mais de duzentos mil exemplares cada, uma marca inédita naquela época. Mas a despeito do sucesso de público, as obras caíram na obscuridade.
Chambers usou a fortuna angariada para se instalar em uma mansão confortável nos Estados Unidos. Morreu em 1933, rico e famoso por conta de seus romances eróticos, dos quais ninguém se lembra.
M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.
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