No final da Primeira Guerra, o Japão se tornou o absoluto caos devido ao encarecimento abusivo do produto essencial
Isabela Barreiros Publicado em 15/09/2020, às 16h19
A alta no preço do arroz é o assunto do momento. Um dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros, ele teve, neste mês, a maior alta acumulada em seu preço desde 2008, segundo o Índice de Preços dos Supermercados, feito pela Apas (Associação Paulista de Supermercados).
Esse encarecimento excessivo — e abusivo — afeta principalmente a parcela mais pobre do povo, que passa a não ter mais como comprar e consumir o produto quase sempre presente nas refeições no Brasil. No entanto, não é a primeira vez que esse o aumento do preço desse alimento em específico trouxe problemas para populações. Em 1918, o Japão se tornou palco de caos devido a essa inflação.
Arroz valendo salários
Pouco antes do fim da Primeira Guerra Mundial, o Japão passou por um cenário caótico quando o governo decidiu enviar ao menos 70 mil tropas para participar do conflito na Sibéria, na Rússia. Esses soldados precisavam se alimentar e, para isso, o Exército Imperial Japonês teve que comprar toneladas de arroz.
Mas os comerciantes sabiam que isso iria acontecer e decidiram fazer enormes estoques com o alimento para que pudessem aumentar o preço de maneira abusiva. A lei da oferta e procura: se tivesse menos arroz para comprar, o valor da mercadoria subiria, e, assim eles poderiam vender muitas remessas mais caras do produto para o as autoridades, que teriam de adquirir o produto de qualquer maneira.
O arroz fazia parte da alimentação básica dos japoneses e pode ser considerada como tal até os dias de hoje. Esse plano acabou fazendo com que a população ficasse praticamente sem a possibilidade de comprá-lo: com preços muito elevados, a parte mais desafortunada do povo não podia pagar o valor colocado na mercadoria.
A atuação do Japão na guerra já estava deixando a situação econômica do país complicada, com a inflação elevada. A tentativa de aumentar a influência do país no continente também colaborava para esse contexto complexo, com o Exército captando novos territórios.
Essa estratégia acabou sendo o estopim para inúmeras manifestações e revoltas que acometeram o país durante os meses de julho a setembro de 1918. Durante esse período, o valor de 20 kg de arroz poderia chegar até mesmo ao salário total recebido por um funcionário público na mesma época. A coisa estava feia.
Revolta do arroz de 1918
O primeiro local a registrar protestos em relação ao aumento abusivo no preço do arroz foi uma pequena vila na cidade de Toyama, localizada na costa do Japão. Em 23 de julho de 1918, a cidade pesqueira de Uozu passou a registrar eventos peculiares. As notícias publicadas pela imprensa local se espalharam muito rápido.
Esposas de pequenos pescadores começaram a tentar impedir a exportação de arroz. O grupo tinha como objetivo se manifestar contra o elevado preço do alimento que, na época, era ao menos 80% de tudo que era consumido no país pela população.
A confusão causada pelo protesto virou notícia, mas, mais que isso, se tornou inspiração. Todos estavam descontentes com o fato de que era praticamente impossível comprar um dos produtos mais importantes para as refeições japonesas. Assim, essa revolta passou a acontecer em inúmeras cidades do país, e em algumas importantes, como Tóquio e Osaka.
As manifestações tornaram-se ações de massa. Pessoas passaram a colocar fogo em estoques de arroz e em instalações da polícia. O caos tornou-se absoluto e a repressão violenta, a regra. De fato, não era mais apenas pelo preço do arroz: os protestos passaram a ter orientação política, especialmente ligadas a reivindicações para direitos sociais.
Essa época, inclusive, foi um momento marcante para a imigração japonesa. Muitos indivíduos, que passavam fome e viviam em situação miserável no país, vieram para o Brasil sob a promessa de que, aqui, poderiam comer arroz todos os dias. Essa grande parcela de pessoas pobres fez com que a situação ficasse incontornável para o governo japonês.
Acredita-se que durante aqueles três meses ao menos 417 revoltas aconteceram ao redor do país, tanto em áreas rurais quanto nas cidades, contando com a participação de 66 mil pessoas. Muitas delas, cerca de 25 mil, foram presas e 8.200 acabaram sendo condenadas por crimes variados e punições também diversas. De multas à pena de morte, muitos pagaram por protestarem.
Para tentar acalmar a situação, assumindo total culpa pelo momento difícil, o primeiro-ministro japonês Terauchi Masatake decidiu renunciar ao seu cargo em 29 de setembro de 1918. Era declarado o colapso de seu governo, mas o preço do arroz passou a ser mais estabilizado a partir de ações específicas das autoridades. As intervenções periódicas colocaram o arroz nos pratos dos japoneses novamente.
+Saiba mais sobre o Japão através das obras abaixo disponíveis na Amazon
Marcha Para a Morte, de Shigeru Mizuki (2018) - https://amzn.to/2H3iLyB
Hiroshima e Nagasaki: 32 Curiosidades Sobre o Maior Bombardeio Atômico da História, de Editora Mundo dos Curiosos (ebook) - https://amzn.to/2Uwxs5i
História secreta da rendição japonesa de 1945: Fim de um império milenar, de Lester Brooks (2019) - https://amzn.to/2NYoWYq
História concisa do Japão, de Brett L. Walker (2017) - https://amzn.to/2RMhosT
Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.
Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp
Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W
Dom Antônio de Orleans e Bragança recebia a "taxa do príncipe"?
Banco Central sob Ataque: Veja a história real por trás da série da Netflix
Outer Banks: Série de sucesso da Netflix é baseada em história real?
O Rei Leão: Existe plágio por trás da animação de sucesso?
Ainda Estou Aqui: O que aconteceu com Eunice Paiva?
Ainda Estou Aqui: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme