Província canadense de Colúmbia Britânica lançou plano de combate à propagação de vírus que vem se espalhando pela América do Norte
Éric Moreira Publicado em 15/02/2024, às 11h13
Nos últimos anos, uma doença que vem preocupando autoridades na América do Norte e da Escandinávia é a doença debilitante crônica (CWD, na sigla em inglês), também conhecida como "doença do cervo zumbi". Tanto que, recentemente, a província canadense de Colúmbia Britânica, no extremo oeste do país, lançou uma estratégia para combater e controlar o vírus à medida que se propaga pelo norte do continente.
As autoridades da província ordenaram nesta semana o teste de qualquer cervídeo atropelado encontrado na região, depois que dois casos foram confirmados no fim de janeiro em um veado-mula e em um veado de cauda branca no distrito de Kootenay. Além disso, também foram impostas restrições à movimentação destes animais, bem como a eliminação de alguns deles.
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Conforme noticiado pelo The Guardian, a doença é provocada por um vírus que afeta o cérebro e o sistema nervoso do animal hospedeiro — até então, sendo exclusiva a cervídeos —, deixando-o babando, tropeçando, letárgicos e com um olhar vazio. Por essa razão ficou popular o termo "doença do cervo zumbi."
No Canadá, a doença já foi confirmada em diversas populações de veados e criação, em Saskatchewan, Alberta e Quebec, além de veados selvagens em Manitoba. Também já foi identificada em três alces selvagens, segundo a Agência Canadense de Inspeção de Alimentos.
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Atualmente, ainda é muito discutido se a CWD pode ser transmitida ou não para os humanos, de forma semelhante como já foi registrado com a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como "doença da vaca louca". Porém, até agora, "não há evidências diretas de que a doença possa ser transmitida aos humanos e não houve casos da doença em humanos", segundo boletim da província canadense.
No entanto, Hermann Schätzl, reitor de investigação da escola de veterinária da Universidade de Calgary, afirmou após pesquisas com macacos que a transmissão da doença para primatas é possível. Para descobrir isso, macacos foram alimentados com tecido cerebral infectado para simular o consumo a longo prazo de carne de veado infectada.
Em nossos modelos experimentais, é muito provável que a CWD possa infectar humanos. Isso já aconteceu antes? Não há nenhuma evidência positiva onde se possa dizer que um ser humano teve esta doença priônica devido ao consumo de carne de veado", disse Schätzl ao The Guardian. "Mas isso acontecerá no futuro? Muito provavelmente, sim."
O pesquisador também conta que a rápida propagação do vírus no norte do continente e na Escandinávia, juntamente ao fato de o vírus poder se tornar mais variável com o tempo, deve ser razão para preocupação.
"Se a doença debilitante crônica atingir os seres humanos, poderá passar de ser humano para ser humano? Esse é o pior cenário: que você tenha transmissão, um pouco como a gripe aviária [transmitida entre] humanos ou como a Covid dando o salto para os humanos", acrescenta.
No caso dos macacos deliberadamente infectados com a CWD, mais indicadores do vírus foram encontrados na medula espinhal que no sistema nervoso central em si. "A questão é que ninguém olha realmente para lá. E aí fica a pergunta: se procurássemos isso nos lugares típicos, veríamos? Eu não acho. Suspeito que se pareceria mais com uma doença atípica."
Por fim, Schätzl afirma que o longo período de incubação de doenças por príons — agente infeccioso composto por proteínas, como é o caso da CWD — pode ser mais uma razão para preocupação. Isso porque, se um ser humano for infectado, "provavelmente não veríamos nada e levaria muitos, muitos anos a aparecer — e isso é um problema."
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