Filho da famosa estilista Zuzu Angel, o jovem guerrilheiro encontrou um fim brutal nas mãos das Foças Armadas durante a ditadura militar brasileira
Alana Sousa Publicado em 28/03/2021, às 12h00
Uma mãe em busca por seu filho. O desaparecimento repentino em meio a uma ditadura militar violenta que assolava o Brasil. O desejo nunca alcançado de saber o paradeiro do jovem sumido. A história de Zuzu Angel, famosa estilista morta em um acidente misterioso em 1976, no estado de São Paulo, foi marcada acima de tudo pela incessante procura por Stuart Edgar Angel Jones, raptado pelas forças militares.
Stuart tinha uma carreira promissora pela frente, era estudante de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de ter ganhado duas vezes o campeonato de remo pelo Clube de Regatas Flamengo, quando ainda era adolescente.
Entretanto, quando as Forças Armadas deram um golpe no então presidente João Goulart, em 1964, ele viu sua vida mudar. Largou a faculdade e foi fazer parte de um grupo de luta armada contra a ditadura. Ingressou no grupo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), nomeado em homenagem a morte do revolucionário Che Guevara.
Vivendo em ‘aparelhos’, refúgios para os militantes contra o Golpe de 64, Jones se viu envolvido em um dos maiores feitos da MR-8: o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 4 de setembro de 1969.
O motivo era realizar um protesto contra a ditadura militar em rede nacional. Então, para a soltura de Elbrick, o governo deveria aceitar ler uma carta dos revolucionários em que denunciavam os crimes do exército, além disso, pedia-se a libertação de 15 presos aliados ao grupo.
Ainda que as Forças Armadas tenham acatado ao plano e tudo tenha saído da forma planejada, logo em seguida da soltura do embaixador, militares iniciaram uma caçada a todos aqueles que estariam envolvidos no rapto.
Para o Centro de Informações do Exército (CIE), Stuart era, sem dúvidas, um dos participantes do sequestro. Segundo repercutido pelo site Memórias da Ditadura, o jovem era “parte da Frente de Trabalho Armado responsável pelo sequestro do embaixador norte-americano”.
Por dois anos, Jones continuou a resistir contra a repressão da ditadura, até que tudo mudou em 1971. Ainda segundo o Memórias da Ditadura, acredita-se que a prisão de Stuart tenha ligação com a entrada de Carlos Lamarca, um dos principais procurados pelo exército, conhecido como Capitão Vermelho, no MR-8.
O líder revolucionário havia deixado o grupo Vanguarda Popular Revolucionária e passado a liderar o Movimento Revolucionário 8 de Outubro. Assim, uma das prioridades do governo militar era capturar Lamarca; logo, a maneira mais simples de chegar até ele era por seus seguidores.
Em maio de 1971, Stuart foi capturado e levado pelos agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) para a Base Aérea do Galeão, local de tortura e prisão para opositores do regime.
Atraído para um aparelho no Grajaú, em São Paulo, Jones caiu em uma armadilha, conforme foi confessado por Alex Polari, guerrilheiro que testemunhou a tortura e momentos finais de Stuart Edgar Angel Jones.
Colocado em um porta-malas de um opala, o jovem foi levado à base, onde sofreu com os mais violentos tipos de agressão. Primeiramente foi amarrado em um carro e arrastado pelo local, quando o veículo parava, Stuart era obrigado a colocar a boca no escapamento quente do carro e respirar aos gases que por lá saíam. Seu torturador, Abílio Alcântara, exigia o local exato de Carlos Lamarca, mas Stuart Edgar se recusou a falar.
De sua cela, Polari conseguiu observar grande parte das torturas, dizendo ainda que Stuart havia sido deixado noite adentro, agonizando sozinho. As revelações foram feitas por Alex em uma carta entregue a Zuzu Angel, no Dia das Mães.
Embora tenha unido forças para pressionar as autoridades americanas e brasileiras, devido a sua reputação internacional, a estilista morreu sem saber o que de fato acontecera com o corpo de seu filho.
A obra Desaparecidos Políticos (1979) de Ronaldo Lapa e Reinaldo Cabral sugere duas versões para o paradeiro do corpo de Jones. Uma delas afirma que seu cadáver foi jogado em alto-mar por um helicóptero da Marinha, enquanto a outra sugere que Stuart foi enterrado como indigente em um cemitério do Rio de Janeiro.
De acordo com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), agentes da aeronáutica sabiam que os presos enviados da Base do Galeão para a Base Aérea de Santa Cruz jamais voltavam. Seria o destino mais provável de Stuart.
Documentos revelados em 2013 pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) auxiliam a entender — e confirmar — a morte do guerrilheiro. Um texto nomeado nº 1008, de 14 de setembro de 1971, apresenta relatos de autoridades militares sobre a prisão de Jones, as informações estão sob o título: “Stuart Angel Jones — Falecido”; podendo ser consultadas no Arquivo Nacional.
Já a papelada, chamada de “Informação nº 4.057” apresenta o nome de Stuart Jones em uma longa lista de 89 militantes mortos na mesma época. Conforme divulgado pela CNV e repercutido pelo Memórias da Ditadura: “Recomenda-se a continuação das investigações para localização e identificação dos restos mortais de Stuart Angel Jones e a identificação dos demais agentes envolvidos”. Seu corpo segue desaparecido.
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