Na década de 1950, Hussein Onyango Obama, avô de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, foi preso e torturado no Quênia
Éric Moreira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 01/10/2022, às 09h00
A Revolta dos Mau-Mau foi um movimento ocorrido ao longo do processo de descolonização do Quênia — que foi colonizado pela Grã-Bretanha — e iniciada pelo grupo intitulado como 'Mau-Mau', em 1952. Eles eram uma organização clandestina que surgiu entre os Kikuyus, grupo étnico do Quênia, e pretendiam unicamente libertar seu país dos europeus.
No entanto, como a vida é cheia de surpresas e sempre parece ter todo tipo de gente em todo lugar, uma figura — que veio a receber um pouco mais de notoriedade só muitos anos depois — que sofreu nas mãos dos britânicos chama bastante atenção: Hussein Onyango Obama, mais facilmente reconhecido como avô de Barack Obama.
De acordo com o Times, como informado pelo The Guardian, o avô do ex-presidente dos Estados Unidos foi preso e torturado por soldados britânicos no Quênia, durante a Revolta dos Mau-Mau.
A alegação, ainda, foi narrada ao longo de três páginas do jornal e ilustrada com fotografias em preto e branco dos campos de detenção britânicos da década de 1950.
Hussein Onyango Obama, avô paterno de Barack Obama, serviu no exército britânico na Birmânia durante a Segunda Guerra Mundial e depois encontrou trabalho no Quênia como cozinheiro militar. Porém, assim como muitos outros veteranos de guerra, ele decidiu retornar à África posteriormente, na esperança de conquistar maior liberdade.
No entanto, logo suas aspirações se transformaram em ressentimento: a vida tranquila que teria no Quênia foi logo conturbada pela ocupação britânica na região. Foi então que ele se envolveu com o movimento de independência Mau-Mau e, em 1949, foi preso pelos britânicos — provavelmente sob a acusação de ser membro de uma organização proibida.
Ao longo de dois anos detido, Hussein Obama foi submetido a diversos métodos de tortura, como informam os autores Ben Macintyre e Paul Orengoh. Dentre os meios utilizados para torturar prisioneiros, destaca-se os chamados "alicates de castração", os quais soldados eram influenciados a utilizar em alguns casos.
Os guardas africanos foram instruídos pelos soldados brancos a chicoteá-lo todas as manhãs e noites até que ele confessasse", disse Sarah Onyango Obama, ex-esposa de Hussein, ao Times.
O comportamento de soldados britânicos em países colonizados é objeto de ações legais no Reino Unido até os dias de hoje, devido a tamanha a brutalidade empregada, relatada pelas vítimas, além do grande número de pessoas que buscam reparações por tortura e maus-tratos sofridos há mais de 50 anos. A Comissão de Direitos Humanos do Quênia, por exemplo, segue coletando evidências sobre o episódio.
Visto isso, claro que as torturas sofridas não seriam facilmente esquecidas por Hussein, o que o deixou com um forte sentimento anti-britânico. E isso, claro, que teve ainda outras consequências: seu neto, que veio a se tornar presidente dos Estados Unidos e um dos homens mais poderosos e influentes do mundo, Barack Obama, também nutria sentimento anti-colonialismo britânico.
O posicionamento do ex-presidente dos Estados Unidos, inclusive, lhe rendeu até mesmo certa fama negativa entre alguns comentaristas e veículos estadunidenses mais conservadores, em especial na época que se candidatou à presidência, o que veio a lhe render o apelido de "insurgente Mau-Mau".
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