Pintura rara de Sally Hemings - Wikimedia Commons
Personagem

A polêmica de Sally Hemings, escrava e mãe dos filhos de Thomas Jefferson

Durante mais de um século, historiadores negavam que os descendentes da escravizada eram frutos de uma relação abusiva com seu dono

André Nogueira Publicado em 03/02/2020, às 13h09

Sally, apelido de Sarah Hemings, foi uma escrava que realizava trabalhos forçados na fazenda do ex-presidente dos EUA, Thomas Jefferson, com quem teve seis filhos e uma espécie de romance após a morte da primeira-dama Martha Jefferson, em 1782. A vítima era parte da "herança" deixada pela mulher do politico, chegando à Mansão Monticello quando criança.

Sally era a filha mais velha de um relacionamento forçado entre o agricultor John Wayles e a sua escrava Betty Hemings. Tendo parte do sangue europeu, ela era meia-irmã da esposa de Jefferson. Por conta dessa relação, ela foi escolhida para acompanhar Mary, filha mais nova de Thomas, em uma viagem para Londres e, depois, para Paris, onde o ex-presidente trabalhava como Ministro dos EUA.

Sally passou dois anos na França, mas nunca deixou o status de escravizada. Dizendo ter uma relação amorosa com a mulher, Jefferson nunca a concedeu a alforria. Do bizarro relacionamento entre essas partes, nasceu a controvérsia Jefferson-Hemings, conhecida nos EUA. Discute-se ainda hoje a procedência dos seis últimos filhos do presidente, que se falava serem filhos legítimos dele com a escrava.

Thomas Jefferson / Crédito: Wikimedia Commons

 

Com minuciosas análises documentais, traçou-se a hipótese de que todos era seus filhos e, em 1998, foi possível realizar-se um estudo do DNA da linhagem masculina de Jefferson, que demonstrou correspondência dos genomas dele com os descendentes de Eston, último filho de Sally. A partir de então, ficou comprovada a paternidade do ex-presidente.

Os filhos de Hemings mantiveram-se escravizados pela família Jefferson, e treinados para serem artesãos. Apenas quando a mãe já era idosa, e quando os quatro filhos que sobreviveram já eram adultos, eles foram alforriados. Beverly, Harriet, Madison e Eston passaram a viver livres nos EUA, sendo que três deles conseguiram acessar escolas para brancos, devido sua ascendência.

Com a saída das crianças da casa de Jefferson, Sally também foi libertada, passando a viver junto a seus filhos Madison e Eston em Charlottesville, na Virgínia, chegando a presenciar o nascimento de um neto. Hoje em dia, a controvérsia que envolve seu nome foi praticamente resolvida, e coloca Sally como um famoso símbolo das relações abusivas entre senhores e escravos nas fazendas dos EUA.


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