Desde os anos 2000, pesquisadores vem descobrindo mais sobre o misterioso povo que habitou os primórdios da região
Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 10/08/2021, às 14h51
Quando falamos sobre Egito Antigo, o mais comum é pensarmos em pirâmides, faraós, múmias e um período marcado por grandes avanços na ciência, como astronomia, medicina e farmacologia. O grande apogeu da região provavelmente deu-se durante o reinado dos grandes faraós, mas eles não foram os primeiros a habitar o território.
Os reis governaram durante muito tempo, desde cerca de 3.100 a.C., até 30 a.C., quando a morte de Cesarião, filho de Cleópatra renegado por Júlio César, marcou o fim do ciclo do Egito Ptolomaico. Durante todos esses anos, construíram monumentos gigantescos, conhecimentos inigualáveis e um legado que persiste até a atualidade.
Ainda assim, é importante ressaltar que eles não fizeram tudo isso sozinhos. Antes deles, outros indivíduos habitaram a região que viria a ficar conhecida como o grande Egito Antigo. Esses moradores, porém, não são tão conhecidos e continuam cercados de mistérios mesmo nos dias de hoje.
Um grupo de pesquisadores, batizado de expedição pré-histórica conjunta, recebeu autorização do Conselho Superior de Antiguidades do Egito para realizar escavações no deserto ocidental do país. Os membros são Joel D. Irish, da Universidade Liverpool John Moores, e Jacek Kabacinski e Agnieszka Czekaj- Zastawny, ambos da Academia Polonesa de Ciências.
As escavações começaram no começo dos anos 2000 e, desde então, os cientistas já publicaram inúmeros artigos em periódicos internacionais, em que relataram suas descobertas. Alguns deles estão na African Archaeological Review, The Anthropology of the Fetus e Archaeologia Polona.
Os pesquisadores ficaram surpresos que não conseguiram encontrar muito material sobre as pessoas que habitaram o Egito antes do período dos faraós. Como explicaram em um artigo ao The Conversation, a falta de estudos aconteceu principalmente porque os sítios arqueológicos neolíticos são quase inacessíveis.
Os locais que remontam ao período histórico estão frequentemente abaixo das planícies onde acontecem as enchentes do rio Nilo, ou nos desertos que ficam ao seu redor, o que dificulta ainda mais as escavações, que não chegaram a ser realizadas. Entre 2001 e 2003, isso mudou com o trabalho da equipe de arqueólogos.
Eles estudaram seis locais de enterro, localizados nas proximidades de um lago extinto em Gebel Ramlah. A partir disso, os cientistas obtiveram informações importantes sobre os misteriosos habitantes, que foram a sustentação para a sociedade que viria a se formar na região séculos depois.
Nos três primeiros cemitérios, foram identificados artefatos curiosos, alguns feitos de cerâmica, mas outros formados por cascas de conchas e pedras, por exemplo. No entanto, os mais interessantes com certeza foram as joias descobertas feitas de cascas de ovos de avestruz. Outros itens como ferramentas cosméticas e armas de pedra também foram revelados.
Isso tudo fora os 68 esqueletos e restos de animais, que foram essenciais para as análises da população que viveu na região na época. As conclusões dos pesquisadores foram que o antigo povo tinha uma “baixa mortalidade infantil, alta estatura [mulheres tinham 1,6m e homens 1,7m] e vida longa”. Naquele tempo, as pessoas viviam mais de 40 anos, o que era considerado muito.
Entre 2009 e 2016, os pesquisadores escavaram mais dois cemitérios, que revelaram características diferentes dos três anteriores. Além de mais esqueletos — o total era de 130 indivíduos —, o local contava com pouquíssimos artefatos. Nas análises, os arqueólogos perceberam também que eles sofriam com mais mortalidade infantil, vivam menos e eram mais baixos, em completo oposto.
A principal hipótese é de que essas diferenças sejam explicadas por status social, em enterros separados para a elite e outros para os trabalhadores. Eles apontam que essa é “a primeira evidência do tipo no Egito”.
Além disso, foram encontradas mais mulheres que homens, o que pode indicar poligamia, ainda que a falta de referência de casas individuais e grande número de enterros sugira que aquele seja um cemitério de parentes. Ou seja, a estrutura familiar das pessoas que viveram naquela época ainda é ambígua para os estudiosos.
Outra característica interessante é que o local guarda o “cemitério de bebês mais antigo do mundo” já que o maior dos dois cemitérios apresentava um local restrito apenas para crianças com menos de três anos, especialmente bebês e fetos.
Como é possível perceber, as pessoas que viveram antes dos faraós no Egito com certeza foram muito interessantes. Os pesquisadores ressaltam que eles tiveram um “nível de sofisticação muito além de simples pastores”, com comportamentos, tecnologias e arquiteturas refinadas.
O povo desenvolveu cemitérios formais, santuários, uma arquitetura cerimonial, domesticou gados e cabras, processou plantas silvestres e até mesmo desenvolveu círculos de calendários — que os arqueólogos dizem se parecer um pouco com um “mini Stonehenge”.
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