A ossada da imperatriz revelou uma versão diferente da causa de sua morte, entretanto, confirmou sua angústia nos dias finais
André Nogueira Publicado em 12/05/2020, às 11h37
Depois de uma vida dura e humilhante, a imperatriz Maria Leopoldina morreu amargurada sob circunstâncias ainda muito discutidas. Sabe-se que ela passou o fim da vida abalada psicologicamente diante das muitras traições nada veladas de Dom Pedro I com a Marquesa de Santos, que chegou a atuar como dama de companhia da austríaca. Pedro reconhecera a filha bastarda e viajava com Domitila, casando grande tristeza na esposa, que se sentia cada vez mais abandonada.
Uma vez, Leopoldina escreveu à irmã que “o monstro sedutor (Domitila) é a causa de todas as desgraças”. Entrando em profunda depressão, a imperatriz envelheceu isolada, apenas querendo gerar um herdeiro e encontrar felicidade (Pedro II nasceria em 1825, resolvendo a primeira parte). No entanto, depois do nascimento do filho, a saúde dela começou a se deteriorar.
A Habsburgo, então, passou a sofrer com cólicas, sangramentos, vômitos e até delírios. Com sua grande popularidade, Leopoldina passou a ser acompanhada por multidões preocupadas com a saúde da imperatriz. Em constante piora, sua saúde consternava o povo.
Caindo em devoção, Leopoldina se alegrava com as procissões católicas que a acompanhavam, entretanto, sabia que seus dias estavam contados. Em 11 de dezembro de 1826, ela morreu, por motivos não declarados, mas muito discutidos até hoje.
Na época, foi especulado que a Marquesa de Santos havia colaborado com o médico que cuidou da imperatriz para envenená-la até a morte. Outros passaram a especular até mesmo que Dom Pedro agredira a esposa durante uma discussão conjugal causada por suas traições, a jogando de uma escada no Palácio da Boa Vista.
O médico legista Luiz Roberto Fontes colaborou com a historiadora Validrene Ambiel, que estudou a situação forense da família real, e, em 2012, concluiu que a morte de Leopoldina foi causada por uma grave doença, negando a hipótese das mazelas causadas por agressões do marido, famosas no senso comum.
"O que temos condições de dizer, hoje, é do que a imperatriz não morreu. Se houve mesmo uma briga por causa da traição de Dom Pedro I, ela não tem a ver com a morte de dona Leopoldina", comentou Fontes numa palestra ao Museu do Instituto Adolfo Lutz. Segundo ele, ela teria morrido de uma infecção desconhecida que causou um aborto e seu consequente falecimento.
Essa informação foi possível através de uma exumação das ossadas de Pedro I, Leopoldina e Amélia que, a partir de tecnologias recentes, possibilitaram a compreensão da situação dos corpos da Família Real Brasileira. Tomografias e ressonâncias foram realizadas nos restos, que estavam enterradas no Monumento à Independência, em São Paulo, revelando dados inéditos.
A pesquisa foi comandada pela historiadora e arqueologia Valdirene do Carmo Ambiel, que tinha como principal questão as famosas denúncias de que Dom Pedro agrediu a esposa.
Ao contrário do que se conhecia, não era Leopoldina que tinha marcas de fraturas na ossada: mas sim Dom Pedro. Não que ele tenha sido agredido pela esposa, mas porque ele sofreu dois acidentes de cavalo, em 1823 e 1829, que comprometeram seu pulmão. Como o monarca morreu de tuberculose, esse comprometimento agravou o estado de saúde do imperador.
Já o fêmur de Leopoldina, que dizem ter sido quebrado diante da queda na escada, estava intacto. O caso do acesso de raiva que levaria o imperador a chutar a esposa grávida caiu em dúvida após a constatação.
Além disso, outra revelação também intrigou os pesquisadores: ao contrário do que se acreditava a partir de cartas e quadros, Leopoldina era uma mulher magra e não tão baixa, característica ocultada diante das diversas gestações da imperatriz.
A partir dessas informações recentes, é possível compreender que, por mais que dom Pedro pudesse ser um agressor negligente e adúltero, não foi o suposto acidente da escada que matou Leopoldina.
Mais prudente seria defender a hipótese de que, com o parto de Dom Pedro II, o corpo fragilizado de Leopoldina favoreceu uma infecção que se agravou com a sua debilidade psicológica. De alguma maneira, o imperador ainda carrega certa culpa, mas o dolo se dissolveu em uma questão de má condução de um casamento marcado por traições.
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