Em 'Meu Filho Dahmer', Lionel Dahmer, pai do 'Canibal de Milwaukee', relata as obsessões, os comportamentos e como crimes afetaram sua família
Fabio Previdelli Publicado em 23/06/2024, às 14h00
Em julho de 1991, a polícia de Milwaukee, nos Estados Unidos, prendeu Jeffrey Dahmer em seu apartamento após um rapaz chamado Tracy Edwards conseguir fugir do local e denunciar o serial killer. No local, as autoridades encontraram fotos polaroides de pessoas desmembradas e, num refrigerador, sacolas com carnes humanas e até mesmo uma cabeça decepada.
Entre 1978 e 1991, Dahmer assassinou 17 homens e rapazes. Seus crimes ainda incluíam casos de estupro, necrofilia e canibalismo. A descoberta do caso gerou um alarde local e logo sua repercussão projetou o caso internacionalmente.
Por seus crimes, apenas no estado americano de Wisconsin, onde fica Milwaukee, Jeffrey Dahmer foi condenado por 15 de seus 16 crimes — todos com pena perpétua. A 16ª pena de prisão perpétua ocorreu posteriormente, no estado de Ohio.
O palco que o caso ganhou refletiu não apenas em Jeff, em suas vítimas e parentes, mas também na família do criminoso. Em 1994, Lionel Dahmer, pai do assassino, publicou o livro 'A Father’s Story' (que em 2023 foi lançado no Brasil, pela DarkSide Books, com o título 'Meu Filho Dahmer'), no qual fala sobre sua relação com o filho, refletindo seus comportamentos e contando como os crimes afetaram suas vidas. Alerta: os próximos parágrafos apresentam informações sensíveis.
Não éramos apenas pais — nunca mais seríamos. Agora, éramos os pais, eu, especialmente, de Jeffrey Dahmer. Jeffrey, não Jeff. Jeffrey Dahmer era outra pessoa, um nome público e formal para um homem que, apesar de tudo, ainda era, ao menos para mim, Jeff, o meu filho", narra.
Em 25 de julho de 1991, Jeffrey Dahmer foi oficialmente indiciado pelas primeiras quatro acusações de assassinato em primeiro grau — outras surgiram com o passar do tempo. Seu julgamento começou oficialmente em 13 de janeiro do ano seguinte, atraindo grande atenção midiática.
Nos meses que seguiram o julgamento, Lionel ainda tentava entender o que acontecia com seu filho, uma criança, embora problemática em vários aspectos, quieta, indiferente, frágil e que não aparentava ser capaz de cometer aqueles atos horrendos.
"Nos meses posteriores ao julgamento, enquanto eu tentava mergulhar na mente de Jeff, passei a olhar para o atestado psiquiátrico de outro jeito; de uma maneira bastante diferente da forma como eu ouvi enquanto o julgamento estava acontecendo", escreveu o pai de Jeff em 'Meu Filho Dahmer'.
"Na época, apenas dispensei a informação, enxergando-a como mera evidência técnica, observações que não tinham qualquer envolvimento com minha própria vida. Dessa forma, eu poderia me distanciar do que aquela prova psiquiátrica poderia significar — tanto para Jeff quanto para mim", prossegue.
Lionel explica que, quanto mais explorava a mente perversa do filho, mais identificava suas próprias conexões com ele. "Logo se tornou óbvio que o tema do controle estava presente em praticamente todos os aspectos da natureza de Jeff".
O pai do 'Canibal de Milwaukee' relatou que esse ponto havia sido abordado com certa frequência durante o julgamento. Tanto a acusação quanto a defesa de Dahmer apontaram a necessidade do assassino por controlar suas vítimas.
O controle, como vim a perceber, era muito mais que só uma engrenagem. Era parte vital da máquina que o movia, por isso estava visível em quase todos seus atos", relata.
Lionel escreve que até mesmo as primeiras fantasias sexuais de Jeff envolviam o controle: "Ele se via 'deitando' com alguém perfeitamente imóvel". Mas a sede de Dahmer não era por submissão, afinal, ele não ansiava em ser forçado, não queria que os outros impusessem suas necessidades sexuais. "Em vez disso, queria controlá-los por inteiro, mesmo que fosse preciso usar violência para obter esse tipo de controle".
A primeira vez que Lionel relata que Jeff decidiu ter esse controle numa relação aconteceu quando o filho se sentiu atraído por um atleta. Assim, Dahmer levou consigo um taco de beisebol. "Por isso, ficou à espreita, esperando que passasse por ele para acertá-lo como o taco, deixá-lo inconsciente primeiro, para só então 'se deitar' com ele".
Até mesmo quando Jeffrey começou a frequentar as saunas, Lionel aponta que o serial killer drogava todos os homens que conhecia por esses espaços. Jeff sentia prazer em deitar ao lado de seus corpos e escutar os ruídos de seus órgãos funcionando.
Conforme essa obsessão por controle se agravava, passava a funcionar como um elemento necessário de sua satisfação sexual. Tanto que, na maior parte dos casos, ele não era capaz de chegar ao orgasmo a menos que seu parceiro estivesse inconsciente", narra Lionel em seu livro.
Mas havia um grande problema nesse prazer: por mais que as vítimas fossem drogadas, hora ou outra elas acordariam e, portanto, voltariam a agir conforme suas próprias vontades. "A essa altura, Jeff havia desenvolvido uma necessidade tão psicótica de controle que a mera presença de vida estava se tornando algo ameaçador. Por isso, decidiu se concentrar nos mortos".
Ainda no livro, Lionel Dahmer escreve que, certo dia, o filho buscou na sessão de obituários e descobriu que um rapaz de 18 anos havia acabado de falecer. Era a oportunidade perfeita para satisfazer seu desejo.
Assim, ele planejou desenterrar o cadáver e levá-lo até sua casa "a fim de desfrutar daquele nível de controle que só poderia ser conseguido com uma pessoa morta".
"Nessa época, essas fantasias envolvendo controle absoluto eram as únicas coisas que meu filho tinha. Hoje sei que a necessidade de controle e permanência, além da introversão, era uma das características que tínhamos em comum", explica.
Entretanto, Jeff foi o único e levar esses traços para a barbárie e o perverso em níveis inimagináveis. "Ele chegou a elaborar um tosco experimento científico de lobotomia com homens que havia drogado, pois, se não passassem por esse procedimento, logo voltariam à consciência, um estado que Jeff achava inaceitável para outro ser humano".
Lionel explica que enquanto as vítimas ainda estavam vivas, Jeffrey perfurava seus crânios e injetava ácido muriático em seus cérebros. "O experimento costumava matá-las instantaneamente, embora uma delas tenha conseguido sobreviver por dois dias".
"A tentativa de Jeff de criar seus próprios 'zumbis' nunca funcionou; entretanto, ele tinha outros planos. Ele ainda mantinha consigo os cadáveres de suas vítimas, corpos que esfolava e eviscerava, preservando alguns pedaços e devorando outros, mas sempre com a intenção de vivenciar essa necessidade de controle total", finaliza.
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