Ao dar forma à sua imaginação, o renomado pintor suíço combina esferas da realidade com diversas características da abstração
Izabel Duva Rapoport Publicado em 12/09/2021, às 08h00
"No aqui e agora, não sou de modo algum tangível”, escreveu o pintor suíço Paul Klee (1879-1940) em seu diário, por volta de 1910. Já nessa época, fascinado pelo transcendental, ele reproduzia com frequência, em suas obras, símbolos celestes ou imagéticos — e, por isso, ficou conhecido como o artista plástico da introspecção ou distante do mundo real.
Klee também gostava de escrever. Na década de 1920, após a Primeira Guerra Mundial, o artista passou a chamar atenção por seus textos sobre teoria da arte — que passavam longe da “restauração do naturalismo”, uma das premissas da arte nazista (só que seguindo as concepções de “superioridade ariana”).
Não à toa, Klee (que também era alemão) e vários outros artistas que faziam parte da Bauhaus (principal centro de difusão das vanguardas nas artes visuais e na arquitetura da época), entre outros movimentos modernos, foram perseguidos pelo regime hitlerista, que os considerava “degenerados”.
Com estilo individual, mas influenciado por tendências artísticas diferentes, como o expressionismo, cubismo e surrealismo, Klee era fortemente inventivo e suas obras, difíceis de serem classificadas. Muitas eram completamente abstratas, com formas geométricas, além de letras, números e setas.
Outras traziam figuras de animais e de pessoas, mas geralmente combinando a racionalidade com a transcendência. Em sua antologia 'Confissão Criadora', de 1920, afirmou: “A arte não reproduz o visível, mas torna visível”.
Paul Klee amava gatos. E, não raro, prestava homenagem aos felinos em suas obras. Nesta, produzida em 1928, o animal olha com visão hipnotizante, direta e reta, para o espectador. “Há gatos cujos olhares são apreciados por flores armadas”, disse o artista, referindo-se à vigilância sempre atenta do animal.
A liberdade de usar linhas, cores e formas na mesma obra de arte — ou de praticar o “puro cultivo dos meios”, como o próprio Klee costumava dizer, permitia a ele criar imagens que tratam menos da percepção e mais do pensamento. Neste caso, o pássaro não está na testa do gato, mas em sua mente ou imaginação.
Os trabalhos de Klee, cujas formas são simples, refletem o humor seco do artista e a sua perspectiva às vezes infantil (ele acreditava que as crianças eram fontes da criatividade). As obras costumam trazer também a sua musicalidade na vida: filho de mãe cantora e de pai professor de música, cresceu numa família cheia de melodia.
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