Um dos únicos bustos do escravo - Wikimedia Commons
Roma Antiga

O trágico fim de um revoltado: Onde foi parar o corpo de Espártaco, o escravo que desafiou Roma?

Depois de duras vitórias contra a capital dos latinos, o escravo trácio sofreu uma forte derrota em 71 a.C. Entretanto, seus restos ainda representam um desafio para a arqueologia

André Nogueira Publicado em 21/03/2020, às 09h00

Durante a crise da República Romana, uma série de revoltas dos mais diversos setores da sociedade tomou a capital, contra o sistema de exploração que imperava. Um dos mais famosos líderes desses levantes foi Espártaco, um escravo que comandou milhares na busca pela liberdade.

Com muita dificuldade, os generais romanos conseguiram destruir violentamente as chances de vitória da revolta espartaquista, chegando ao massacre final ocorrido em Lucania em 71 a.C. que deu fim à tentativa de mudança social empreendida por gladiadores e trabalhadores rurais. Porém, dessa situação, fica uma dúvida: onde foi parar o corpo do líder Espártaco?

Após diversas vitórias que encurralaram o Senado romano, os patrícios foram obrigados a empreender campanhas crúeis e estratégicas contra o levante. Após semanas de discussões, foi destinada ao general Crasso a missão de esmagar os espartaquistas, o que resultou numa nova batalha entre milhares em campo aberto. Espártaco da ira do militar, pois, numa demonstração de que não desistiria, capturou um comandante romano.

Estátua de Espártaco / Crédito: Wikimedia Commons

 

Então, deu-se início à Batalha de Lucania, uma violenta luta que resultou no massacre dos escravos revoltosos, cujos corpos destroçados tomaram a planície que protagonizou a disputa. Em sua descrição do ocorrido, Plutarco afirma que Espártaco teria tentado tomar diretamente a posição de Crasso, sendo barrado por uma dúzia de soldados e como consequência, executado. 

De acordo com a narrativa, Espártaco teria sido inicialmente ferido na coxa, em meio à luta, e mantido em posição ofensiva de joelhos, guerreando até o final. Rapidamente, foi assassinado com uma lança, junto aos seus partidários. No final, 36 mil escravos foram mortos numa demonstração de poder completo de Roma.

A realidade é que os romanos não sabiam como era a face de Espártaco, então ele nunca foi identificado entre tantos cadáveres largados no chão enquanto os centuriões conferiam o cenário da vitória. A situação era apocalíptica: poucos sobreviventes conseguiram fugir das mãos dos inimigos e 6 mil feitos prisioneiros, enfrentando um destino trágico.

Esses sobreviventes foram crucificados ainda vivos e dispostos em intervalos ao longo da Via Appia, principal estrada de Roma, que se estendia até a Cápua. Era uma forma dos romanos demonstrarem aos escravos que a revolta contra seus senhores acabaria em sangue. Porém, até hoje, a arqueologia não conseguiu identificar os restos de Espártaco entre os crucificados, tampouco entre os mortos em batalha, com a maioria sendo lançada em valas comuns.

Perseguição de Crássus a Espártaco / Crédito: Wikimedia Commons

 

Por que ele nunca foi encontrado?

Na arqueologia, é muito raro que se identifique ou mesmo que se encontre preservado o corpo de um indivíduo que não foi sepultado tradicionalmente. Mortos em batalha apresentam um desafio ainda maior. Mesmo entre comandantes, é quase impossível que se encontre, com certeza, os restos de alguém como Espártaco.

Não só o escravo nunca foi identificado entre as ossadas da Batalha de Lucania, como outro fator agrava esse quadro: era comum no mundo antigo que os vencedores queimassem, destroçassem ou lançassem os corpos dos derrotados aos pássaros para que fossem comidos. Ou seja, não sabemos sequer as condições em que os ossos do revoltoso podem estar.

A morte de Espártaco, por Hermann Vogel / Crédito: Wikimedia Commons

 

O trabalho de identificação de soldados mortos em batalhas só ganharia outra face no século 20, quando os militares passaram a carregar identificações em placas metálicas em seus uniformes, e mesmo isso não tornou o esforço simples. Um ótimo exemplo é a Batalha de Somme, na Primeira Guerra, onde 300 mil morreram e muitos ainda não foram identificados, entre os milhares de corpos que ainda se deterioram na terra.


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