Nos Estados Unidos e na Europa, milhares de pessoas passaram a temer epidemias presentes em livros
Alana Sousa Publicado em 06/10/2019, às 10h00
Uma onda de pânico aterrorizou os Estados Unidos e a Europa durante o final do século 19 e começo do século 20. A razão inusitada por trás do caso era o medo de doenças mortais que seriam supostamente causadas por livros.
Após a morte da bibliotecária, Jessie Allan, na cidade de Omaha, em Nebraska, as pessoas começaram a acreditar que sua doença teria sido contraída de algum livro, em seu local de trabalho. A verdadeira causa da morte era tuberculose, comum na época, e que viria a assustar moradores por alguns anos.
“Sua morte deu origem a uma nova discussão, a possibilidade de infecção de doenças contagiosas através de livros da biblioteca”, escreveu o Library Journal sobre o caso, publicado pela American Library Association, em outubro de 1895.
Atualmente já quase esquecido, o Susto dos Livros disseminava a ideia de que germes estariam presentes nas obras emprestadas das bibliotecas. O que fazia com que o público ficasse não somente assustados, mas também longe das livrarias públicas.
Em uma época marcada por epidemias como tuberculose e varíola, a ideia de que livros também poderiam trazer doenças fatais causou um surto de ansiedade na população. O escritor Gerald S. Greenberg, que estuda o tema, escreve que havia um medo em “contrair câncer entrando em contato com tecido maligno expectorado nas páginas”.
Não só as pessoas comuns acreditavam no susto dos livros, médicos afirmavam que possuíam conhecimento que os rumores eram reais. Logo o pânico se espalhou para além dos Estados Unidos e tomou conta da Grã-Bretanha.
Foi preciso até mesmo criar uma lei para tratar do problema. No Reino Unido, a Seção 59 da Lei de Alterações sobre Atos de Saúde Pública da Grã-Bretanha. 1907, afirmava: “Se alguém sabe que está sofrendo de uma doença infecciosa, não deve levar nenhum livro ou usar ou fazer com que qualquer livro seja levado para uso em qualquer biblioteca pública ou em circulação”. Nos EUA, haviam alertas promovidos pelos Estados para impedir a propagação de infecções.
Foram realizados estudos para desinfetar os livros, desde usar animais como cobaias até vaporizar as páginas doentes. Assim concluíram que, havia sim um risco, mesmo que pequeno, de infecção pelos exemplares.
Os jornais cobriram a situação com fervor, o que deixava a sociedade com uma “fobia de livros”. Em 1900, a situação chegou em seu ponto extremo. Na Pensilvânia foi interrompida a distribuição de livros. Na Grã-Bretanha, e em partes dos EUA, milhares de obras foram incineradas.
Segundo Greenberg, o pânico foi lentamente diminuindo. Eventualmente as pessoas começaram a notar que os bibliotecários não eram mais afetados que o resto da população. O setor ameaçou organizar protestos para defender as instituições, e de repente os rumores não pareciam tão ameaçadores.
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