Durante muito tempo, o esqueleto permaneceu controverso: enquanto alguns afirmavam que ele era caucasiano, outros atestavam sua ancestralidade indígena
Isabela Barreiros Publicado em 01/11/2020, às 06h00
Quando um crânio foi percebido por dois jovens universitários em um terreno próximo do rio Columbia em Kennewick, Washington, nos EUA, a primeira reação foi chamar a polícia. O legista Floyd Johnson foi convocado e levado até o local, onde ficou intrigado com o que os estudantes haviam encontrado.
Não era possível dizer do que se tratava. Assim, logo em seguida, o arqueólogo James Chatters foi convidado pelo especialista para que ele pudesse dar mais uma olhada no local. Não foi ao acaso que ele foi chamado: Johnson imaginou que talvez aquilo pudesse ser mais antigo que parecia. Tudo isso aconteceu no dia 28 de julho de 1996.
O que eles não esperavam, porém, é que aquele crânio daria abertura para que eles desenterrassem mais 350 ossos e fragmentos do mesmo indivíduo, formando um esqueleto quase completo. A descoberta mostrou-se ainda mais importante após as análises de datação de carbono realizadas no corpo: ele tinha pelo menos 9 mil anos.
Homem de Kennewick
Chatters então começou a fazer exames nos ossos para conseguir entender mais sobre o indivíduo. Ele concluiu que aquele provavelmente era um homem que morreu entre os seus 40 a 55 anos, com 1,7m à 1,76 m de altura e “bastante musculoso com uma construção esguia”.
O pesquisador também investigou a possível etnia do homem, dizendo que ele tinha “presença de traços caucasianos [e uma] falta de características nativas americanas definitivas". Ele assumiu, portanto, que se tratava de um homem com características “caucasóides”, o que não necessariamente quer dizer branco ou europeu.
Conhecido posteriormente como o Homem de Kennewick, o esqueleto se tornou um dos mais importantes e controversos de todo os Estados Unidos. Muitos cientistas e até mesmo curiosos começaram a tecer argumentos sobre a raça do antigo indivíduo.
O que aflorou o debate ao seu nível quase máximo foram os pedidos de inúmeros grupos nativo-americanos de repatriação do corpo. Membros das nações afirmavam que aquele era um ancestral indígena e deveria ser enterrado a partir de um ritual característico de sua origem.
A controvérsia da raça
Conforme analisado por Chatters, o primeiro a investigar o esqueleto, faltavam "características definitivas da raça mongolóide clássica à qual pertencem os nativos americanos modernos". Para ele, muitos traços vistos no crânio "são definitivas dos povos caucasóides dos dias modernos”.
Durante muito tempo, a narrativa dos cientistas foi a de o homem não poderia estar ligado a nativos-americanos vivos, por ser um esqueleto muito antigo. Mas, em 2015, um laboratório dinamarquês chegou a uma conclusão mais definitiva que as anteriores. Eles afirmavam: "o Homem Kennewick está mais próximo dos nativos americanos modernos do que de qualquer outra população do mundo".
Os testes, portanto, apontavam que o indivíduo muito provavelmente possuía uma ancestralidade indígena. Ainda assim, percebia-se que o crânio do homem era diferente especialmente em relação ao formato de outros nativos americanos vivos.
Para resolver esse enigma, os pesquisadores Christoph Zollikofer e Marcia S. Ponce de Leon, da Universidade de Zurique, na Suíça, realizaram a continuação da pesquisa, comparando cabeças de inúmeros nativo-americanos. A conclusão foi a seguinte: a gama de formatos é muito grande, e o Homem Kennewick não está fora dela.
Durante o estudo, eles os cientistas perceberam ainda que o indivíduo tinha uma proximidade genética maior com o agrupamento nativo de Colville, mas, como não existem mais crânios do mesmo período para completar a análise, isso ainda permanece em aberto.
Como estava confirmado que o DNA do Homem Kennewick era nativo-americano, a Câmara e o Senado dos EUA cederam em setembro de 2016 aos pedidos das nações indígenas para que o esqueleto fosse enterrado conforme eles desejassem.
Os restos mortais do importante homem foram retirados do Museu Burke, em Seattle, nos EUA, em 17 de fevereiro de 2017 e já no dia seguinte foram enterrados com a presença de mais de 200 membros de grupos nativos-americanos do Platô de Columbia.
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