Segundo historiador, um 'suposto' incidente foi usado como pretexto para os americanos entrarem na guerra
Fabio Previdelli Publicado em 09/01/2021, às 10h00
Em 2 de agosto de 1964, o destroier americano USS Maddox estava em missão de vigilância e espionagem na costa do Vietnã do Norte quando foi surpreendido por três lanchas torpedeiras da marinha daquela parte do país.
Com a ajuda de aviões norte-americanos de sua força tarefa, eles acabaram conseguindo danificar duas lanchas inimigas.
Dois dias depois, agora com o destroier USS Turner Joy ao seu lado, o Maddox reportou novamente a presença de torpedeiras inimigas vindos em sua direção. Porém, o fato nunca foi confirmado. Mesmo assim, o incidente teve repercussão mundial.
Até então, o Estados Unidos só dava apoio político, financeiro e treinamento militar para os vietnamitas do sul, porém, com o suposto ataque sofrido, o Congresso do Estados Unidos assinou um ato, a Resolução do Golfo de Tonquim, autorizando legalmente o presidente Lyndon Johnson a entrar na guerra contra os comunistas do norte.
Ao todo, entre 1957 e 1975, 58.226 americanos morreram no conflito, já as vítimas vietnamitas ultrapassam a marca de 1 milhão. Mas a Guerra do Vietnã poderia ter sido evitada?
Segundo documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, que vieram a público só em 2005, a presença das torpedeiras vietnamitas nos ataques de 4 de agosto não só não foram constatadas, como houve uma fraude nos documentos que confirmavam sua presença.
Conflito evitável?
Apesar da informação só ter caído em conhecimento público em 2005, o episódio já havia sido descoberto e vinha sido mantido em sigilo desde 2001.
Na ocasião, um historiador da NSA revelou que agentes do órgão americano distorceram dados críticos propositalmente durante o incidente no Golfo, de modo a dar crédito a versão americana de que os destroieres teriam sido atacados naquele 4 de agosto.
A tese já era bem discutida entre historiadores nos anos anteriores a revelação. Muitos deles checaram a conclusão de que não houve nenhum ataque e de que as interceptações feitas pela NSA foram ‘apenas’ mal interpretadas.
Porém, o levantamento feito por Robert J. Hanyok, historiador da NSA, afirma que os dados não foram encarados equivocadamente, mas que foram modificados propositalmente.
Matthew M. Aid, historiador independente que discutiu a pesquisa de Hanyok com atuais e antigos agentes da NSA e da CIA, que analisaram o estudo, disse que só resolveu tornar público a descoberta por julgar que ela deveria ter sido divulgada há muito tempo.
"Este material é relevante para as discussões que, como americanos, temos travado sobre a Guerra do Iraque e a reforma dos serviços de inteligência", disse Aid em entrevista que foi repercutida naquele ano pela Folha de S. Paulo.
A descrição de Matthew sobre as conclusões feitas por Robert foi confirmada por um funcionário do órgão de inteligência, que preferiu ter sua identidade mantida em anonimato.
Os dois disseram que Hanyok acreditou, em um primeiro momento, que realmente houve uma falha na interpretação das comunicações norte-americanas. Um engano honesto.
Porém, após meses de pesquisas em arquivos da NSA, ele concluiu que funcionários de escalão médio da agência descobriram o erro quase imediatamente, mas decidiram o acobertar e falsificaram documentos para que parecessem constituir provas de um ataque.
O suposto conflito foi usado por Lyndon Johnson para convencer o Congresso a autorizar a ação militar do país no Vietnã. Apesar do vazamento, dois outros historiadores que já escreveram extensamente sobre o Golfo de Tonquim, disseram não ter conhecimento do trabalho de Hanyok, mas afirmam que a descoberta é intrigante.
"A ideia de que teria sido cometido um logro proposital pela NSA me surpreende", diz Edwin E. Moise, da Universidade Clemson. "Mas eu me surpreendo com frequência”.
Já John Prados, do Arquivo Nacional de Segurança, em Washington, fala que se as conclusões de Robert estiverem corretas, "isso intensifica o aspecto trágico da Guerra do Vietnã". Além do mais, "seria mais uma prova de que as informações dos serviços de inteligência, tão frequentemente tratadas como o Santo Graal, muitas vezes revelam não ser nada disso — como aconteceu no Iraque".
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