Organizada pela cantora, a passeata saiu em defesa das raízes musicais brasileiras
Giovanna de Matteo Publicado em 05/11/2020, às 13h00 - Atualizado em 11/09/2022, às 09h00
Foi no dia 17 de julho de 1967, em meio à ditadura militar, que o centro de São Paulo recebeu uma multidão de pessoas que marchavam contra a guitarra elétrica. A passeata, liderada pelo ícone da MPB, Elis Regina, ao lado de outros nomes famosos como Geraldo Vandré, Zé Keti, e até mesmo Gilberto Gil, tomou conta das ruas.
Passando pelo Largo São Francisco e chegando enfim ao Teatro Paramount, onde ocorreria o programa Frente Ampla da MPB, centenas de pessoas levantavam seus cartazes com dizeres “Defender O Que É Nosso” e “Passeata da MPB”.
Eles gritavam contra a adoção desse instrumento estrangeiro à musica nacional, com a justificativa que esse novo gênero, que embutia o elemento rock e uma "eletricidade" nunca vista antes no Brasil, poderia "manchar" as raízes da música brasileira.
A passeata, na verdade, fazia parte de um esquema para promover o mais novo programa que levava o nome de “O Fino da Bossa”, que seria estrelado por Elis Regina.
Caetano Veloso e Nara Leão presenciaram todo o movimento, de cima da varanda do Hotel Danúbio, estavam embasbacados com a ideia insana da limitação musical.
Caetano, sendo um dos representantes do Tropicalismo, uma nova onda cultural que tinha a ideia de trazer elementos estrangeiros e criar um novo gênero que apesar de moderno ainda sim seria brasileiro, não acreditou quando percebeu que Gil, que também fazia parte do mesmo movimento, estava do lado dos manifestantes.
Afinal, como ele poderia defender a Tropicália, que se aproveitava da guitarra, e ao mesmo tempo participar daquela passeata?
Em entrevista para O Estado de São Paulo, em 28 de janeiro de 2012, Gil relembrou o movimento e explicou os motivos que o levaram a participar do episódio:
"Eu participava com ela [Elis] daquela coisa cívica, em defesa da brasilidade, tinha aquela mítica da guitarra, como invasora, e eu não tinha isso com a guitarra, mas tinha com outras questões, da militância, era o momento em que nós todos queríamos atuar. E aquela passeata era um pouco a manifestação desse afã na Elis”.
O artista também comentou sobre a decisão de Caetano em não participar do evento:
"Caetano não quis participar porque aquilo tinha um resultado negativo, negava uma série de coisas que a ele interessava afirmar naquele momento. No meu caso, eu saí desse jogo. Não quis fazer esse jogo, se eu fosse colocar como termo da equação essas questões e tirar a Elis da equação eu não teria ido.
Gil continuou:
Mas eu fiz o contrário, eliminei todos os outros termos da equação e deixei ali só a Elis. Determinei meu ato, pautei meu ato por aquela questão. A questão era ela. Eu nada tinha contra a guitarra elétrica” contou o artista.
Por outro lado, os militares da ditadura se aproveitavam da ideia para promover uma perseguição contra os músicos que utilizariam a guitarra elétrica como forma de luta contra a censura e a favor da liberdade de expressão.
O rock, o estilo psicodélico, o hippie e as "canções de protestos" que viriam embutidas com a adesão da guitarra ameaçavam a ordem, as morais e os bons costumes tanto defendidos pelo governo da época.
De qualquer modo, a guitarra viraria, a partir desse momento, um símbolo de resistência contra a ditadura, e os tropicalistas não se deixaram abalar pelos obstáculos erguidos. Em julho de 1968, o álbum de estúdio "Tropicália ou Panis et Circensis" viria a abrir, enfim, uma nova era da música no Brasil.
Assista a entrevista de Caetano Veloso sobre o episódio.
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