Até recentemente, os historiadores pensavam que sabiam a quem pertencia o cadáver, mas uma descoberta mudou essa percepção
Ingredi Brunato, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 02/10/2022, às 08h00 - Atualizado em 09/12/2022, às 08h54
Em 1949, um terremoto abalou a cidadezinha de Guano, no Equador. O desastre natural reduziu às ruínas a chamada Igreja da Assunção, um templo local que havia sido construído no século 16. O que a princípio pareceu uma perda, todavia, acabou revelando uma descoberta arqueológica curiosa.
Isso, pois, em meio aos escombros do antigo templo, um grupo de pesquisadores encontrou um caixão contendo os restos mortais mumificados de um membro do clero (o que podia ser identificado a partir de suas vestimentas).
Ao que tudo indicava, havia sido uma mumificação acidental: durante o enterro, foi jogado cal sobre o corpo, o que ocasionou sua incrível preservação, conforme informações do portal Atlas Obscura.
Curiosamente, havia também um ratinho dentro do caixão. Não se sabe, contudo, se a presença do roedor era proposital — se tratando, por exemplo, de um animal de estimação do homem religioso — ou se foi apenas por coincidência que ele acabou sendo sepultado com o cadáver.
As investigações da época concluíram que haviam encontrado o local de descanso do frei Lázaro de la Cruz de Santofimia, um monge espanhol franciscano que viveu no século 17.
Seu sepultamento no interior da capela faria sentido de acordo com as tradições locais, uma vez que, para a interpretação da época, isso poderia lhe permitir continuar "cuidando" do templo mesmo após sua morte.
Novas análises realizadas pelo Instituto Nacional do Patrimônio Cultural (INPC), porém, descobriram que o corpo pode, na verdade, não pertencer a Lázaro.
Conforme divulgado por um comunicado no início do mês de agosto de 2022, a pesquisa recente revela que as roupas usadas pelo cadáver da Igreja de Assunção teriam sido usadas durante o período entre 1735 e 1802, que é posterior à morte do frei.
Assim, os restos mortais pertenceriam, na verdade, a um outro membro do clero. Sua identidade, até o momento, permanece um mistério. Tudo que os cientistas sabem é que era um homem mestiço com "ascendência mais europeia do que indígena", o que foi apontado por um teste de DNA.
Se encontrarmos outro registro que diga que a data em que marcamos a morte de São Lázaro está incorreta, ou que alguém faz uma nova datação por carbono e temos datas coerentes [com a datação das vestimentas], isso sempre pode ser revisto. No momento indica que, de fato, não é São Lázaro", explicou Maria Ordónez, a diretora do INPC, segundo repercutido pelo portal El Telégrafo.
Um último detalhe curioso a respeito do corpo encontrado no templo do Equador é que, em 2019, um outro estudo descobriu, através da análise dos tecidos incrivelmente bem-preservados da múmia, que o homem enterrado em Guano teria sofrido com artrite reumatoide em vida.
Essa é uma doença inflamatória crônica que atinge ossos, cartilagens, tendões e ligamentos, causando muita dor. Ela hoje afeta pessoas ao redor do mundo inteiro, porém nem sempre foi assim.
“É uma patologia muito comum hoje em dia, mas a sua origem é americana, antes da chegada de Cristóvão Colombo”, afirmou Philippe Charlier, um médico legista francês, em entrevista à agência France Presse na ocasião.
O pesquisador afirmou ainda que o estudo do cadáver equatoriano poderia fornecer um "elo perdido" para a trajetória da disseminação dessa condição. “É uma múmia extremamente importante para a história das doenças”, concluiu.
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