Grande escândalo político na década de 1970 nos Estados Unidos, o caso Watergate tem, até hoje, muitos de seus detalhes como um mistério
Éric Moreira Publicado em 05/05/2024, às 11h00
Neste ano, completa-se 50 anos de um dos momentos mais controversos da política dos Estados Unidos: a renúncia de Richard Nixon, em 9 de agosto de 1974. Isso ocorreu após dois anos de investigações naquilo que ficaria conhecido como o caso Watergate, que acabou por se tornar um caso paradigmático de corrupção no governo americano.
Tudo começou com a campanha eleitoral de Nixon em 1972, quando ocorreu uma invasão à sede do Comitê Nacional Democrata, no chamado Complexo Watergate. Na ocasião, cinco pessoas foram presas tentando fotografar documentos e instalar escutas no escritório do Partido Democrata — lembrando que Nixon era do Partido Republicano.
Foi então que os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein começaram a investigar o caso, que já pareceu suspeito, obtendo informações de um informante conhecido pela alcunha de Garganta Profunda — que anos depois revelou-se ser o agente do FBI Mark Felt.
E assim eles descobriram ligações entre a invasão ao escritório do Partido Democrata com a Casa Branca (lembrando que Nixon estava se candidatando para se reeleger, sendo presidente dos EUA desde 1968).
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Durante a investigação, foram apreendidas fitas gravadas de conversas entre Nixon e outros membros de seu governo, que demonstravam que ele conhecia as operações ilegais contra a oposição.
No entanto, o que chamou atenção foi que em meio às 3.700 horas de gravações, foi a remoção de cerca de 18 minutos e meio de uma conversa gravada apenas três dias depois das prisões de Watergate.
As gravações de conversas entre Nixon e outras figuras do governo já eram de conhecimento do presidente, tendo ocorrido inclusive com presidentes anteriores, e por isso a ocultação desses menos de 20 minutos se tornou a maior razão para suspeita do caso. Foi então que, em 24 de julho de 1974, Nixon foi obrigado pela Suprema Corte dos Estados Unidos a apresentar as gravações originais.
Foi assim que, finalmente, foi confirmado o envolvimento do presidente na ação criminosa contra a sede do Comitê Nacional Democrata. Como consequência, isso levou à abertura de um processo de impeachment contra Nixon, e, em 9 de agosto daquele ano, ele renunciaria ao cargo.
Embora o caso Watergate tenha sido finalizado, como já mencionado, foram feitas 3.700 horas de gravações de conversas de Nixon e outros membros do governo. Isso fez desse regime o mais bem documentado da história da humanidade — como parâmetro, John F. Kennedy gerou 260 horas de fitas, e Lyndon Johnson, 800 horas —, totalizando 950 rolos de fita.
Embora clipes das fitas tenham sido reproduzidos nos julgamentos ocorridos na década de 1970 (o que espantou a população, pois, além do escândalo de corrupção, também descobriram que o presidente tinha um linguajar cheio de palavrões), foi só em 1988 que os primeiros segmentos de áudio foram divulgados publicamente.
Elas só foram ouvidas em sua totalidade, porém, em 2000. E aqui está o mistério: embora páginas de transcrição das conversas já existissem, a verdade é que algumas das gravações eram tão turvas, que seria impossível haver uma transcrição completamente precisa delas.
A revelação mais significativa das fitas de Nixon é que elas capturam o que é ser presidente", disse ao New York Post o historiador Luke Nichter, co-editor, junto de Douglas Brinkley, de dois volumes de transcrições de fitas de Nixon. "Um presidente passa a maior parte do tempo reagindo aos problemas".
Assim, ainda hoje, 50 anos após o escândalo de Watergate, a totalidade dos conteúdos das fitas segue um mistério para grande parte da população, visto que somente cerca de 10% do tempo total das fitas foram transcritos. "Aprendemos muito nas fitas de Nixon sobre o que os outros pensavam, mas nem sempre o que Nixon pensava. São uma história com meio, mas nem sempre com começo ou fim", finaliza Nichter.
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