Montagem mostrando Gilberto Orejuela e Pablo Escobar - Getty Images e Divulgação/Vídeo
Personagem

O rival de Pablo Escobar: Conheça a trajetória de Gilberto Orejuela

Apelidado de "O Enxadrista", Gilberto possuía uma abordagem inusual ao tráfico de drogas

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/06/2022, às 09h00 - Atualizado em 27/08/2022, às 12h00

Quando se pensa em narcotraficantes colombianos, a primeira figura a vir à mente é a do famoso Pablo Escobar, conhecido por sua riqueza ostensiva, vida amorosa perturbada, e, é claro, a violência descarada com o qual administrava seu cartel de drogas. 

O chefe do cartel de Medellín, contudo, possuía um rival sutil, um homem que viria inclusive a superá-lo nos negócios, mas que ainda assim permaneceu menos conhecido que o primeiro no imaginário popular. 

Era Gilberto Rodríguez Orejuela, que nunca teve problema em viver à sombra de Escobar, muito pelo contrário: enquanto as forças policiais e os membros da rede de tráfico de Medellín travavam uma sangrenta guerra, o colombiano podia se concentrar em administrar suas atividades criminosas.

Ele faleceu no início deste mês, no dia 1° junho de 2022, aos 83 anos, segundo anunciado pela prisão federal de Butner, no estado norte-americano da Carolina do Norte. Àquele ponto, o colombiano já estava encarcerado há quase três décadas. 

Jovem empreendedor

Segundo relembrado por uma matéria de 2022 do The New York Times, Orejuela nasceu na cidade de Mariquita, filho de um pintor e uma dona de casa. A certo ponto de sua infância, sua família mudou-se para Calí, onde ele viria a montar seu cartel de cocaína. 

Aos 15 anos, o colombiano abandonou os estudos e começou a trabalhar como balconista em uma farmácia. Desde o princípio, ficou claro sua aptidão para administração de um negócio, que o levou a se tornar gerente do estabelecimento, e, aos 25, abrir sua própria farmácia.

Essas mesmas habilidades lhe seriam de grande utilidade quando entrou para as gangues criminosas de sua cidade, e, juntamente de seu irmão mais novo, Miguel, criou o cartel da Calí.

Cartel profissional

Rodríguez tinha uma postura mais empresarial que seus concorrentes, preferindo manter a fidelidade de seus aliados através de táticas como a do uso de propina, por exemplo, ainda de acordo com o The New York Times. 

Já quando usava de violência, preferia que isso fosse feito de forma discreta. Diferente de Escobar, o chefe do cartel de Calí não estava interessado em realizar grandes demonstrações de poder, e sim manter suas operações de comercialização de drogas longe da atenção das autoridades.

Foi esse comportamento mais calculista, aliás, que lhe rendeu o apelido de "O Enxadrista", em uma referência aos entusiastas do complexo jogo de tabuleiro.

Outra característica da administração do narcotraficante é que ele permitia que os membros de sua organização criminosa tivessem maior autonomia, não sendo tão focado na questão da exigência de lealdade, que era um aspecto de relevância dentro do cartel de Mandellín. 

É preciso ainda mencionar uma tática de importância fundamental que recebeu bastante investimento por parte de Gilberto, que foi a espionagem das forças policiais, prática que lhe permitiu por vezes estar um passo à frente dos oficiais que queriam capturá-lo. 

Quanto mais alto se vai, maior é a queda

É possível dizer que as estratégias do mafioso foram bem-sucedidas: na segunda metade da década de 80, o império de Orejuela e seu irmão já ultrapassava o de Medellín, situação que apenas foi beneficiada pela morte de Escobar durante uma operação policial em 1993.

Com a desintegração do principal cartel concorrente, Calí passou a dominar 90% do mercado de cocaína europeu, e 80% do norte-americano, ainda segundo o The New York Times. 

Infelizmente para o criminoso, a morte de seu adversário também significou que a polícia colombiana podia voltar suas atenções para as negociações de outros narcotraficantes, o que culminou em sua prisão em 1995, no ápice de sua riqueza e influência. 

Vocês ganharam. Eu me rendo. Calma, rapazes. Não me matem. Eu sou um homem da paz", teria afirmado o lendário "Enxadrista" quando os oficiais invadiram seu esconderijo, um cômodo que ficava oculto por uma televisão em uma de suas residências.

A verdade é que Rodríguez já estava cansado de seu jogo de gato e rato com os serviços de segurança nacional naquele momento de sua vida.

Durante sua trajetória profissional, ele por vezes investiu os lucros do tráfico de drogas em outros negócios, diversificando suas atividades comerciais, que incluíam uma rede de mais de 400 farmácias, e após o assassinato de Escobar havia comentado para diversos comparsas que estava pensando em abandonar inteiramente a comercialização de narcóticos. 

O poderoso chefe do cartel Calí teria inclusive considerado se entregar às autoridades como forma de negociar uma sentença menor, também segundo o The New York Times. 

Ninguém consegue aguentar tanta pressão", afirmou mais tarde o colombiano durante conversas com os promotores que elaboravam as acusações contra ele. 

Bandido aposentado 

Gilberto e seu irmão, Miguel, ficaram inicialmente encarcerados em uma prisão da Colômbia, com o primeiro sendo liberado de forma antecipada devido a bom comportamento em 2002. 

Em 2006, contudo, os dois foram enviados para cumprir suas penas nos Estados Unidos, onde o antigo narcotraficante que rivalizava Escobar passou por um novo tribunal e pegou 30 anos de prisão por conta das operações de tráfico e lavagem de dinheiro que teria prosseguido comandando de sua cela no país de origem. 

Nos anos mais recentes, ele começou a passar por problemas graves de saúde, chegando a ter dois ataques cardíacos, e pegando covid-19 em 2021. Vale mencionar, todavia, que a cadeia que mantinha o "Enxadrista" não divulgou qual foi a exata causa de sua morte no último mês de junho. 

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