Boneco de Adolf Hitler e capa do livro Mein Kampf - Divulgação e Getty Images
Holocausto: da memória à reflexão

O livro Mein Kampf, bonecos nazistas e racismo

O livro de Hitler, apesar de ser uma obra repugnante e racista, tem importância histórica

Marcio Pitliuk* Publicado em 02/09/2022, às 15h34 - Atualizado em 12/09/2022, às 12h35

O livro 'Minha Luta', de Adolf Hitler, como literatura é pobre, mal redigido e primário, há suposições de que o verdadeiro autor tenha sido Rudolf Hess ou que foi escrito a quatro mãos (no caso, quatro patas), pois ambos estavam na mesma prisão quando o livro foi realizado.

Foi um sucesso de vendas no seu lançamento. Praticamente todas as famílias alemãs tinham um exemplar, o que colaborou para aumentar o antissemitismo e a idolatria a Hitler.

Além de um texto de extremo racismo, incentivava o povo alemão a aceitar que a guerra era a única alternativa para o sucesso da Alemanha. Em Minha Luta, Hitler apresentou todas as suas ideias megalomaníacas, preconceituosas e destruidoras, não deixou duvidas quanto as barbaridades que desejava praticar. Ali estava sua plataforma de governo.

A questão de liberar a venda de Mein Kampf, o nome original do livro, é de difícil resposta. Proibir a publicação de um livro é um ato de censura e os nazistas praticaram isso. Assim que chegaram ao poder, organizaram imensas queimas de livros de autores judeus, comunistas ou que contrariavam a ideologia do partido e as diretrizes nazistas.

Fogueiras do ódio

Não apenas livros, também obras de arte foram para as fogueiras e o povo alemão comparecia em massa nesses eventos, como se fosse uma grande festa. Isso era parte da propaganda nazista comandada por Joseph Goebbles. Muitos traziam de casa, da biblioteca ou da escola as obras declaradas heréticas, a queima de livros era celebrada com muita alegria, cantos nazistas, e famílias inteiras participavam dessa celebração ao ódio. Anos depois, passaram a queimar não apenas os livros, também os autores.

A obra de Hitler é uma apologia ao nazismo, o pior sistema politico que existiu, pois pressupõe a destruição da oposição, de quem pensa diferente e das minorias que eles consideravam como inferiores, os “Untermenschen”, ou seja, os sub-humanos. Para os nazistas, existe uma “escala racial”, onde os alemães, ou seja, os arianos, estão no topo, e os judeus, na base.

Permitir a livre circulação do livro pode aumentar o preconceito e a intolerância? É possível. É muito provável que alguém seja levado a acreditar nessas mentiras escritas por Hitler que não passavam de Fake News. Pessoas preconceituosas e intolerantes existem em toda a parte, e como são ignorantes, caso contrário não seriam racistas, Minha Luta pode trazer os argumentos que buscam para “embasar e sustentar” seus discursos do ódio.

Por outro lado, para quem estuda o nazismo, a Segunda Guerra, os movimentos políticos da época e as teorias raciais, Mein Kampf tem sua importância histórica e deve ser estudado. Como acomodar essas duas alternativas?

Recentemente, na Alemanha, o livro foi liberado com comentários que orientam o leitor a não acreditar que as palavras de Hitler sejam verdade. Essa pode ser uma solução. No Brasil o livro está proibido. Existe outro livreto antissemita famoso, 'Os protocolos dos sábios do Sion', um panfleto apócrifo, mentiroso, escrito na Rússia Czarista, que acusava os judeus de organizarem um complô mundial para conquistar o mundo. Este livreto é proibido no mundo todo, menos em alguns países árabes, e assim deve ser mantido, ao contrário de Minha Luta, não traz nada de interessante para ser estudado.

Qualquer outro material de cunho nazista, como a suástica e bonecos de líderes nazistas, sem dúvida nenhuma devem ser proibidos. Hitler, Goebbles, Goering ou qualquer outro desses criminosos não são super-heróis, nem bonecos decorativos para serem expostos em prateleiras ou tratados como ícones de adoração. Nesse caso, não há nenhum interesse a ser aproveitado. São reproduções de pessoas diabólicas, assassinos em massa que devem ficar no lixo da história.


*Marcio Pitliuk é escritor, cineasta, membro do Conselho Acadêmico da StandWithUs Brasil e curador do Memorial do Holocausto.

 

O site Aventuras na História iniciou uma parceria com a StandWithUs Brasil, que trabalha para lembrar e conscientizar sobre o antissemitismo e o Holocausto e usar as suas lições para gerar reflexões sobre questões atuais. Semanalmente, você verá reflexões importantes sobre o tema, além de entrevistas com sobreviventes do nazismo.

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