"Hoje seríamos amigos como fomos até o fim da vida dele. Namoro já não existia mais, mas o amor permaneceu e permanece até hoje. A morte não apaga essas coisas de dentro da gente”, disse Ney
Isabela Barreiros Publicado em 19/01/2020, às 09h00
Não é novidade que muitos artistas brasileiros estiveram envolvidos romanticamente — e também sexualmente — entre si. Alguns dos casos foram quase completamente esquecidos, tanto por serem quase irreais quanto por terem durado pouco. Ainda assim, a intensidade quase sempre faz parte desses relacionamentos.
Cazuza e Ney Matogrosso estavam inseridos nesse contexto. Os artistas se conheceram em 1979, quando o primeiro tinha apenas 17 anos e o outro era 22 anos mais velho, aos seus 39 anos e com um sucesso já estabelecido com a banda Secos e Molhados. Cazuza ainda não havia trilhado sua icônica carreira na música — naquela época, ainda era conhecido apenas por ser filho de João Araújo, o fundador da gravadora Som Livre.
"No início não dei muita bola para ele não", disse Ney Matogrosso em entrevista à revista Época. O cantor ainda contou ao portal 29horas como eles se conheceram. Segundo Ney, a história começou com um beijo.
“Ele foi na minha casa com uma amiga e a certa altura a gente foi fumar um baseado, tomamos um Mandrix, e lá pelas tantas ele me perguntou se eu daria um beijo nele. E dei. Não significava nada dar um beijo naquela época. Só que quando a gente deu esse beijo o mundo se apagou ao redor, ficamos nós dois dentro daquilo. E não nos largamos mais”, comentou.
No relato, é possível perceber como a relação dos foi intensa. E é assim que o cantor define o caso: "durou pouco, mas foi muito intenso". Foram apenas quatro meses de namoro, mas “o amor permaneceu e permanece até hoje”. "Hoje seríamos amigos como fomos até o fim da vida dele. A morte não apaga essas coisas de dentro da gente”.
No livro Vira-lata de raça: Memórias, lançado em 2018, Ney Matogrosso e Ramon Nunes Mello coletam memórias para narrar a trajetória do próprio Ney. Dos anos 1970 até os dias de hoje, os dois conseguem retratar a importância de um cantor como ele no Brasil. A obra inclui ainda um capítulo para tratar especificamente do relacionamento com Cazuza.
Durante o programa da Globo, Conversa com Bial, o assunto também veio a tona. “Depois do Cazuza, eu admiti que poderia me apaixonar por alguém e viver com aquela pessoa. Depois dele, tive um relacionamento de 13 anos. E ele morreu de ciúme. Ele queria me fazer pirraça depois”, revelou o cantor. Segundo ele, Cazuza foi seu verdadeiro amor, que confessou que foram poucos em sua vida.
O caso acabaria com o progressivo envolvimento do carioca com as drogas, em especial a cocaína. “A gota d’agua foi que, após sumir por alguns dias, Cazuza reapareceu com outro cara, um traficante — e nós discutimos. Eu disse que não queria ele sujo, fedorento, acompanhado de um traficante em minha casa. Cazuza cuspiu em mim e eu bati na cara dele, o expulsei, e a história de amor acabou. Mas uma semana depois fizemos as pazes e estávamos entrando de mãos dadas num restaurante, como velhos amigos”, explicou Ney.
Por ainda existir amor entre os dois, eles se mantiveram próximos até a morte de Cazuza. “Fiquei junto com ele até o fim da vida dele, eu ia lá para massagear os pés dele. E acho que a esses sentimentos a morte não dá fim”.
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