Em nova série documental da Netflix, Meijer é apontado como doador de esperma em série que gerou dezenas de filhos enganando famílias; mas o que aconteceu com ele?
Fabio Previdelli Publicado em 11/07/2024, às 18h02
No início do mês estreou na Netflix a série documental de três episódios 'O Homem com Mil Filhos', que narra a história real de Jonathan Meijer — um doador de esperma que gerou centenas de crianças ao redor do mundo, e as consequências de suas ações.
A produção da plataforma de streaming conta como casais e indivíduos foram enganados por Meijer, que mentiu sobre a quantidade de doações que fez; e levanta preocupações sobre as implicações de crianças terem centenas de irmãos — como o aumento do potencial de consanguinidade e o chamado 'incesto acidental'.
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Apesar de todas as acusações, Jonathan Meijer se recusou a participar da série. Em seu canal no YouTube, ele se defende, apontando que foi pai de, aproximadamente, 550 filhos; e não de mil, como alegado no documentário.
Conforme o The New York Times relatou no ano passado, ao longo de 16 anos, Jonathan Meijer serviu como doador de esperma, gerando centenas de crianças e violando diversas diretrizes holandesa — que, principalmente, impedem que os doadores produzam mais do que 25 crianças e limitam as doações para 12 mães diferentes, segundo a Associated Press.
Por conta disso, a Sociedade Holandesa de Obstetrícia e Ginecologia o proibiu de doar esperma no país em 2017. Mas Meijer continuou com a prática para receptores em outras nações.
Desta forma, em 2023, o Tribunal Distrital de Haia, na Holanda, proibiu Meijer de doar mais esperma. A decisão foi tomada depois que uma mãe — que teve um filho concebido pelo esperma de Jonathan — entrou com o pedido junto ao Dutch Donor Child Foundation, uma fundação que representa outros pais.
Todos esses pais agora se deparam com o fato de que as crianças em sua família fazem parte de uma enorme rede de parentesco, com centenas de meio-irmãos, que eles não escolheram", disse o tribunal, ainda de acordo com a AP, acrescentando que as supostas ações de Meijer "podem ter consequências psicossociais negativas para as crianças".
Em nota, a mãe que entrou com o processo, identificada apenas como Eva, celebrou a decisão: "Espero que essa decisão leve à proibição de doações em massa e se espalhe como uma mancha de óleo para outros países. Devemos ficar de mãos dadas em torno de nossas crianças e protegê-las contra essa injustiça".
Além disso, o Tribunal Distrital de Haia também impôs uma multa de 100 mil euros (R$ 590 mil) para caso Jonathan Meijer violasse a determinação.
Na série documental da Netflix, várias pessoas que receberam doações de Jonathan afirmam se sentirem traídas e violadas. Um dos casais, identificado como Suzanne e Natalie, afirma que Meijer contou que havia doado apenas para cinco famílias.
Em outra parte, a produção levanta as implicações por trás da prática do doador, como as questões levantadas por uma mãe chamada Kate (nome ficcional): "O que acontece psicologicamente com essas crianças que têm 700, 800, 900 irmãos e irmãs?", ela questiona. "Como elas vão conseguir lidar psicologicamente com essa informação?".
Outro ponto apontado por outra mãe, Natalie, é que os meio-irmãos que não sabem que são parentes podem se sentir naturalmente atraídos um pelo outro. "Há uma familiaridade que meio que traz atração", explica Rachel Goldberg, terapeuta licenciada e especialista em infertilidade e reprodução de terceiros, ao Today. "E isso pode ser muito difícil de lidar".
Mesmo com as graves acusações, Jonathan Meijer se recusou a participar do documentário. Mas, em seu canal no YouTube, ele rebate algumas alegações. Ao próprio Today, em entrevista por e-mail, ele disse que "tecnicamente não mentiu" e que "seguiu as diretrizes de todos os grandes bancos de esperma comerciais internacionais que não informam os receptores sobre a quantidade de descendentes que um doador produzirá".
Eu estava fazendo uma coisa melhor, dei aos pais um número estimado, isso foi melhor e forneceu mais informações do que eles obteriam em qualquer clínica", alegou.
Por conta do documentário, Meijer ainda apontou que está considerando processar a Netflix por calúnia, além de negar veementemente as alegações do documentário de que ele enganou famílias ou agiu de forma antiética.
Em um de seus vídeos, publicado em 27 de junho, ele refutou a afirmação de que seria pai de mil filhos, alegando que o número real seria de 550. Em outro, o sujeito compartilhou suas reações iniciais sobre o primeiro episódio da série, apontando que a produção o retratou de forma imprecisa e o promoveu com uma "narrativa" injusta de "traição".
Meijer também não se escondeu sobre as alegações "difíceis" de que ele "mentiu para os destinatários", conforme um comentário em seu vídeo sugeriu. "Como doador privado, dei aos pais um número aproximado para que eles soubessem que eu não estava doando apenas uma vez ou exclusivamente", se defendeu.
Meijer ainda falou abertamente sobre sua visão de que ele realmente pensa que ajudou as famílias através de suas doações. "Me sinto muito feliz por ter sido um doador e estou feliz que cada criança nasce saudável e torna a vida das famílias completa".
"As famílias me escolhem não pela minha aparência, mas porque sou um doador muito bom, sempre gentil, atencioso e sempre disponível para ajudá-las quando a ovulação era devida", continuou, acrescentando que, em sua visão, deu uma "oportunidade valiosa" às famílias que ajudou de forma privada, ajudando-as a evitar o custo e a burocracia de passar por uma clínica.
A respeito sobre a falta de veracidade da quantidade de doações, Jonathan Meijer disse ao Today que não vê com bons olhos compartilhar com as famílias a frequência com que ele doava.
Pais que exigem que o doador diga com que frequência ele doa estão a um passo de controlar quem ele pode ajudar", apontou. "Em seguida, eles exigem que ele não doe para certos grupos de pessoas (de outra religião ou cor de pele) porque isso seria 'doloroso' para seus filhos".
Por fim, o sujeito também se defendeu da sugestão de que a doação de esperma teria virado uma espécie de "vício" para ele, conforme sugeriu o diretor do documentário, Josh Allott, em uma entrevista ao Tudum, da Netflix.
"Fingir que isso era um vício — eu realmente não vejo a parte viciante", disse Meijer em um vídeo recente. "Eu ganho uma recompensa, e é espiritual, mas não era realmente viciante".
Em um de seus vídeos recentes, compartilhados no YouTube, Jonathan Meijer compartilhou que estava em Zanzibar, na Tanzânia; sem dar maiores detalhes de sua estadia por lá.
Já o diretor, Josh Allott, disse ao Tudum que se encontrou com Meijer para conversar com ele sobre sua participação no documentário. "Nós o abordamos várias vezes para ser entrevistado e lhe demos o direito de responder no final. Ele se recusou".
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