Pintura do delfim Luís Carlos - Domínio Público via Wikimedia Commons
Monarquia

O estudo que desvendou teorias sobre o filho de Maria Antonieta

Em 2004, foi sanada uma dúvida que havia persistido por séculos a respeito do destino de Luís Carlos, o herdeiro do trono francês

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 10/10/2021, às 08h36

O fim da monarquia francesa foi brutal. O povo tomou as ruas, cabeças rolaram e o sistema de governo do país foi remodelado. A história da França — e da Europa como um todo — foi mudada para sempre. 

A despeito do aspecto definitivo da Revolução Francesa, porém, nem todos ficaram convencidos que a dinastia havia sido extinta da face da Terra.

Até porque, embora as mortes do rei Luís XVI e sua esposa, Maria Antonieta, tenham sido públicas, o óbito de seu filho, Luís Carlos, aconteceu nos bastidores, uma vez que o jovem herdeiro do trono teria morrido na prisão quando tinha apenas dez anos de idade. 

Foi o que bastou para alguns começassem a se questionar se o menino de sangue azul não havia sobrevivido de alguma forma, e estava apenas aguardando nas sombras até o momento oportuno de reaparecer no palco da História e tomar a coroa.

Mesmo quando isso não aconteceu, contudo, a lenda de que o delfim (o título dado aos herdeiros da coroa francesa) sobrevivera à Revolução persistiu, tornando-se um verdadeiro mistério nacional.

Séculos depois, no ano de 2000, os cientistas finalmente puderam solucionar esse enigma, segundo foi relembrado por uma matéria da BBC deste ano. 

A resposta está no coração

Para desvendar o mito que atiçara a curiosidade da França durante gerações, os pesquisadores examinaram o DNA presente em um fragmento do herdeiro que não tinha sido enterrado. Tratava-se de um coração.

Era, segundo a narrativa oficial, o órgão que um dia batera no peito de Luís Carlos, retirado durante sua autópsia por Philippe-Jean Pelletan, médico que pretendia enviá-lo para os descendentes que restavam da dinastia. 

O coração foi mantido preservado dentro de um vidro com álcool na casa do profissional por algum tempo, no entanto, nunca chegou no destino pretendido. Fora roubado inúmeras vezes no curso da História, e também passou por inúmeras mãos.

Neste milênio, porém, o órgão se encontrava na Catedral Basílica de Saint Denis, e estava disponível para ser examinado pela ciência.

Fotografia mostrando coração que se dizia ser do delfim / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

A ideia era de que, caso os genes encontrados nos restos mortais fossem compatíveis com os de Maria Antonieta, estaria confirmado que o coração era mesmo do delfim, e ele morrera como contava a História, sozinho e desnutrido em uma cela na França. 

"O fato de que isso poderia nos dar respostas que procuramos por séculos foi de fato um desafio ao qual eu não poderia dizer não", explicou Jean-Jacques Cassiman, um professor de genética que ocupou papel de destaque na investigação científica. 

Amor de mãe

Para fazer essa comparação genética, naturalmente, era necessário que os estudiosos tivessem o DNA da esposa de Luís XVI em mãos, um desafio à parte, este apenas superado graças à descoberta de um colar que havia pertencido à mãe da monarca, Maria Teresa da Áustria

O motivo pelo qual essa joia possuía um valor histórico tão alto é porque a imperatriz austríaca usava os medalhões do colar para simbolizar cada um de seus 16 filhos. E, dentro de cada peça, havia um fio de cabelo.

Dessa forma, os pesquisadores simplesmente precisaram fazer um sequenciamento genético do fio encontrado no medalhão que representava Maria Antonieta

Pintura mostrando Maria Antonieta / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

A conclusão atingida pelos especialistas foi de que o DNA do coração e o do cabelo eram compatíveis. Antes de bater o martelo e confirmar de uma vez por todas que Luís Carlos não escapou da prisão, porém, a equipe envolvida no estudo ainda fez uma outra verificação. 

"Procuramos então um descendente que ainda estivesse vivo e fosse qualificado. E encontramos: a ex-rainha da Romênia que ainda estava viva", relatou Jean-Jacques Cassiman, que liderou a investigação científica, também conforme repercutido pela BBC. 

O resultado, mais uma vez, confirmou que aquele coração pertencia ao delfim da França, colocando assim um ponto final a uma dúvida que havia durado quase três séculos. 

Em 2004, o Ministério da Cultura da França permitiu que fosse realizado um funeral simbólico na Basílica de Saint-Denis. O evento surreal permitiu que a população francesa do século XXI afinal enterrasse o herdeiro francês em sua memória nacional. 


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