Pouco antes do início do conflito, o 'Schindler britânico' conseguiu resgatar crianças que seriam levadas aos campos de concentração — porém, jamais se considerou um herói
Fabio Previdelli Publicado em 18/10/2020, às 08h00 - Atualizado em 23/12/2022, às 15h27
Um verdadeiro herói que jamais quis ser visto como tal. Assim, preferiu guardar em segredo o bem que fez ao próximo, ou melhor, a 669 deles. Pouco antes da Segunda Guerra, o britânico Nicholas Winton ajudou a resgatar crianças judias da morte certa nos campos de concentração nazistas.
A operação ficou conhecida como Kindertransport. No entanto, por pouco, a história de Winton não caiu no esquecimento. Muito porque ele não queria, é verdade, entretanto, isso não apaga em nada o bem que ele fez.
Trabalhando como corretor, aos 29 anos, o britânico pensava em passar suas férias de 1938 descansando na Suíça. Porém, por obra do destino, acabou mudando seu percurso e viajou até Praga, na atual República Tcheca, ocupada pela Alemanha nazista. Lá, se encontrou com um amigo que estava envolvido em um esquema para resgatar judeus do Holocausto.
Durante os meses que se seguiram, o britânico de origem judia — que teve seu batismo em Igreja Católica e o seu sobrenome original alterado —, desenvolveu um sistema para libertar crianças judias que foram separadas de seus familiares pelos nazistas.
Durante o processo, ajudou a regatar 669 delas que viviam no país. Todas elas fugiram de trem para a Inglaterra. Apesar do alívio da fuga, elas mal sabiam, mas jamais voltaria a encontrar com seus pais novamente.
Já em seu país natal, Nicholas esperava por elas e contava com a ajuda de sua mãe, Bárbara Wertheim, que recebia os refugiados e encontrava novos lares para essas crianças.
O número poderia ser maior, no entanto, quando os nazistas invadiram a Polônia, em 1º de setembro de 1939, onde começou a Segunda Guerra Mundial, o translado se tornou impossível. Com isso, um trem que ajudaria mais de 250 crianças jamais chegou em solo britânico. Nenhuma delas sobreviveu.
Apesar do fim de seu esquema, a trajetória de Winton na Segunda Guerra não acabou. Ele se juntou à Força Aérea Real, servindo como piloto pelos próximos anos. Ao final do conflito, se casou, teve filhos e continuou vivendo normalmente. Foi nessa fase que começou a trabalhar com causas relacionadas aos direitos humanos.
O ato heroico de Nicholas Winton ficaria adormecido na história se não fosse por sua mulher. Em uma visita ao sótão de sua casa, em 1988, Greta encontrou alguns arquivos, como um álbum com fotos de crianças, telegramas, cartas e uma lista com nomes e datas. Quando procurou saber do que se tratava tudo aquilo, descobriu que aqueles eram os registros de todas as crianças que ele ajudou a resgatar.
Desde quando sua história se tornou pública, Winton passou a receber diversas condecorações e homenagens. Uma delas, inclusive, foi entregue pela própria Elizabeth, rainha da Inglaterra, em uma cerimônia em seu Palácio.
Naquele ano, Winton foi convidado para participar do programa That’s Life da BBC. Ele não sabia, mas a atração, naquele dia, contaria sua história de vida.
Em um primeiro momento, a apresentadora avisou que a mulher sentada ao seu lado era, na verdade, uma das crianças que ele havia resgatado. Nesse instante, a emoção tomou conta de todos. Ainda atônito com o reencontro, Nicholas escutou a apresentadora dizer: “Se alguém na plateia teve a vida salva por Nicholas Winton, fique de pé, por favor”.
Instantaneamente, as pessoas ao se redor se levantaram (veja no vídeo abaixo). Elas estavam diante da pessoa que fez o impossível durante a Segunda Guerra. Depois de todo esse tempo, só havia uma palavra a ser dita para Winton: “Muito obrigado”.
Em uma entrevista ao Fantástico, em 2005, quando tinha 96 anos, o repórter Geneton Moraes Neto perguntou o motivo de ele ter guardado segredo por todo esse tempo. “Eu não fiquei em silêncio, apenas eu não tinha o que dizer sobre o que fiz”, respondeu.
Não me vejo como um herói, para ser herói, alguém precisa fazer algo de perigoso. Eu não fiz. O que fiz foi algo que os outros achavam impossível, mas eu tinha de tentar, para saber se eu conseguiria ou não”.
“Mas fazer algo que todos consideram impossível não é um ato heroico?”, indaga o jornalista. “Não é um ato heroico, meu lema é: ‘Se algo é obviamente impossível, então deve haver uma maneira de fazer’”.
Sir Nicholas Winton faleceu em 1º de julho de 2015, aos 106 anos, enquanto descansava tranquilamente em sua cama.
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