Em 2004, arqueólogos da Áustria se surpreenderam ao encontrar sepultura com dois humanos e um cavalo, pensando se tratar de um casal; mas a verdade não é bem essa
Éric Moreira Publicado em 02/06/2024, às 09h00 - Atualizado em 03/06/2024, às 15h36
Em 2004, arqueólogos que escavavam o antigo cemitério oriental da cidade romana de Ovilava (onde hoje é Wels, na Áustria) se surpreenderam ao encontrar uma sepultura que abrigava dois esqueletos abraçados em cima dos restos mortais de um cavalo. Na época, logo pensou-se que eles se tratavam de amantes medievais.
A princípio, com base na profundidade e orientação da sepultura, os arqueólogos pensaram que a sepultura poderia pertencer ao povo bávaro germânico, que ocupou aquela região no início do século 16. Vale mencionar inclusive que, nessa época, plena Idade Média, não era incomum que humanos fossem enterrados com cavalos, o que reforçaria a teoria.
Porém, mais recentemente, um novo estudo apontou que estes dois esqueletos não pertenceriam realmente a amantes, e inclusive poderiam ser bem mais antigos do que se pensava. O estudo foi publicado neste mês de maio no Journal of Archeological Science: Reports. Entenda!
Segundo os pesquisadores, que agora realizaram uma datação por radiocarbono e testes genéticos nos restos mortais, estes dois esqueletos, na verdade, não eram do período medieval, mas sim do período romano, por volta de 200 d.C., segundo a revista Smithsonian.
É o primeiro enterro de mãe e filha geneticamente comprovado na Áustria na época romana", pontua a co-autora do estudo, Sylvia Kirchengast, antropóloga evolucionista da Universidade de Viena, ao WordsSikeKick.com.
Vale mencionar que na época romana, os residentes da cidade de Ovilava eram sepultados geralmente em necrópoles, ao lado de fora das muralhas. Porém, o enterro curiosamente foi descoberto em um cemitério importante, o que chamou atenção, pois dois esqueletos abraçados poderia sugerir "uma estreita ligação social e emocional entre os dois".
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Com base no remanescente de DNA extraído dos ossos, os dois esqueletos também não seriam de amantes, pois eles eram biologicamente muito parecidos, indicando que fossem parentes de primeiro grau — possivelmente irmãos ou mesmo pais e filhos — e mulheres.
Então, a partir de uma análise do desgaste dos dentes e articulações dos esqueletos, concluíram que um deles morreu com 40 a 60 anos, e com algo entre 20 e 25 anos. Considerando que, na época, era muito improvável que duas irmãs tivessem uma diferença de idade de 20 anos, muito provavelmente a dupla era de mãe e filha, sendo a mais jovem que abraçava a mãe.
Com essas recentes descobertas, novas compreensões sobre a identidade dos esqueletos são reveladas, mas o cavalo ainda é um mistério. Segundo Dominik Hagmann, autor principal do estudo, já que os romanos não tinham o costume de serem enterrados com cavalos, possivelmente elas seriam figuras de elite de origem não romana.
Até onde sabemos, é extremamente incomum que os romanos sejam enterrados com cavalos. Eles não eram um 'povo-cavalo'", explica Dominik Hagmann ao WordsSideKick.com.
O que o autor do estudo suspeita, por fim, é que o túmulo pertença a alguma cultura celta que perdurou mesmo durante o Império Romano, ao menos por algum tempo. Os celtas, vale mencionar, tinham o costume de enterrar pessoas ao lado de animais de companhia, como cães ou cavalos. O esqueleto da mulher mais velha, inclusive, tinha sinais de passeios frequentes a cavalo.
Agora, o que resta aos pesquisadores é tentar desvendar a causa da morte das duas mulheres. Possivelmente a filha pode ter sofrido com um problema na coluna chamado espinha bífida, e a mãe estaria desenvolvendo osteoartrite. O cavalo, por sua vez, parecia estar em boa saúde quando morreu, aos oito ou nove anos. Ainda com esses dados, não há como confirmar a causa da morte de nenhum dos três.
"Eles devem ter morrido de uma forma ou de outra ao mesmo tempo, caso contrário não poderiam ter sido enterrados desta forma… ao mesmo tempo. Até onde pudemos determinar, não havia sinais de violência, então eles podem ter morrido de alguma doença ou epidemia", concluem os pesquisadores ao All That's Interesting.
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