Representação de Jesus Cristo - Getty Images
Personagem

Não branco e de cabelos curtos: Jesus Cristo nada se parece com a imagem que conhecemos

Com o tempo, a representação de Jesus assumiu um padrão que, agora, é questionado por estudiosos de sua trajetória

Pamela Malva Publicado em 15/01/2020, às 15h45

Em toda a história das artes plásticas, uma das representações mais produzidas foi a de Jesus Cristo, pintado por eras, desde o romantismo, até o barroco e o modernismo. O rosto do filho de Deus já foi reproduzido pelas pinceladas de Caravaggio, Goya e Michelangelo.

Mesmo assim, grande parte das obras traz a imagem de Jesus como a de um homem branco, de longos cabelos castanhos e olhos azuis. Essa combinação, de maneira geral, é uma representação eurocêntrica de um homem que não foi realmente descrito em palavras.

A própria Bíblia nunca descreveu a aparência de Cristo, dando prioridade para seus feitos e seus diálogos enquanto andava pela Terra. Na verdade, a única coisa citada nos Testamentos sobre a aparência de Jesus era a sua idade aproximada, aproximadamente 30 anos.

Estudos modernos e reconstruções faciais consideram a fisionomia e o físico de judeus que viviam na mesma época de Jesus para traçar sua mais provável aparência. E ela pouco lembra as representações nas pinturas que conhecemos.

Reconstituição facial forense de Jesus de Cícero Moraes / Crédito: Wikimedia Commons

 

Nesse sentido, considerando o corpo de qualquer outro judeu que caminhou pelas terras que o filho de Deus, cientistas chegaram a algumas conclusões. Jesus muito provavelmente era moreno, tinha uma baixa estatura — cerca de 1,60 m, como mostram esqueletos de judeus daquela época — e cabelos curtos.

Na Epístola aos Coríntios, o Apóstolo Paulo deixa claro que, naquela época, era “uma desonra para o homem ter cabelo comprido”. Por isso, atualmente, estudiosos acreditam que Jesus não deixava seus fios longos como nas imagens comumente retratadas.

A partir de seus estudos sobre a fisionomia dos judeus que viviam no Oriente Médio no século 1, Cícero Moraes, um designer gráfico brasileiro, criou uma reconstituição facial forense de Jesus. Para ele, o filho de Deus “ era certamente moreno, considerando a tez de pessoas daquela região e, principalmente, analisando a fisionomia de homens do deserto, gente que vive sob o sol intenso”.

Em seu livro What Did Jesus Look Like? (Como Jesus era?, em português), Joan E. Taylor, professora do Departamento de Teologia e Estudos Religiosos do King's College de Londres, concorda com o artista brasileiro. “Acredito que ele tinha cabelos de castanho-escuros a pretos, olhos castanhos, pele morena. Um homem típico do Oriente Médio”, afirma.

A Incredulidade de São Tomé, de Caravaggio / Crédito: Wikimedia Commons

 

Nesse sentido, a historiadora acredita que, através dos anos, as imagens de Jesus deixaram de representar o ser humano de 30 anos que de fato caminhava por Jerusalém. Elas, na verdade, procuravam retratar Cristo, um ser celestial, o filho de Deus, a figura divina.

De onde, então, surgiram as representações de Jesus barbudo, de olhos azuis? Tudo começou no Império Bizantino, quando os artistas procuravam relacionar a imagem de Cristo diretamente com as imagens de seus reis e imperadores — assim, Jesus assumia um físico parecido e uma figura semelhante, forte e invencível.

No entanto, com o passar do tempo, outras civilizações tentaram retratar Jesus da forma mais parecida com sua sociedade possível. Em Macau, colônia portuguesa na China, o filho de Deus tinha olhos puxados. Na Etiópia, muitas obras mostram o homem com traços negros. E, no Brasil, Cláudio Pastro, por exemplo, pintava Cristo com feições populares brasileiras.


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