Graças ao 'superpoder' inusitado de uma enfermeira escocesa, cientistas descobriram em 2022 uma caraterística muito importante do Parkinson
Ingredi Brunato Publicado em 03/09/2023, às 12h00
Em setembro de 2022, um fascinante estudo a respeito de uma maneira inédita de diagnosticar o mal de Parkinson foi publicado no periódico científico Journal of the American Chemical Society.
A doença, que é degenerativa e não tem cura, afeta o sistema nervoso central do paciente, causando rigidez muscular, tremores, lentidão e outras dificuldades motoras. Outro detalhe relevante é que Parkinson é geralmente detectado através de um exame de ressonância magnética (RM), que tem o potencial de revelar lesões no tecido do cérebro.
Segundo descobriu o artigo científico de 2022, no entanto, também é possível diagnosticar o distúrbio neurológico com um teste simples que leva apenas três minutos para ser realizado e fornecer o resultado.
O método, muito mais simples e rápido que uma ressonância magnética, consiste em uma amostra de pele — em que um cotonete é passado na pele das costas do paciente.
Estamos tremendamente entusiasmados com estes resultados, que nos levam mais perto de fazer um teste de diagnóstico para a doença de Parkinson que possa ser usado na clínica", apontou a professora Perdita Barran, líder da interessante pesquisa, em um comunicado publicado no site da Universidade de Manchester.
O material que é efetivamente analisado durante esse novo teste é o sebo do indivíduo, isso é, a secreção oleosa que é produzida naturalmente pelo organismo humano. Em pessoas portadoras do mal de Parkinson, ocorrem alterações na composição dessa secreção.
Um dos aspectos mais curiosos da pesquisa é que ela foi inspirada por Joy Milne, uma enfermeira da Escócia que alega conseguir sentir "o cheiro da doença".
A mulher possui uma condição chamada hiperosmia hereditária, que pode ser definida como uma hipersensibilidade a odores, e identificou pela primeira vez esse cheiro diferenciado provocado pelo distúrbio neurológico em seu falecido marido, que tinha Parkinson. O odor, segundo ela, lembra mofo.
Eu ficava dizendo a ele 'Você não está tomando banho direito'. E ele ficou muito bravo com isso no começo", contou ela em uma entrevista à Sky News.
Ela sentia o cheiro principalmente na nuca do parceiro e em outras dobras do corpo. Essas são zonas onde o sebo tende a se acumular por serem lavadas com menos frequência.
Milne só entenderia o motivo por trás do odor anos mais tarde, quando seu marido já vivia com o Parkinson há anos, e o casal se uniu a um grupo de apoio para lidar com as dificuldades geradas pelo estágio avançado do distúrbio. Ao entrar na sala, a enfermeira percebeu que os outros portadores da doença possuíam o mesmo cheiro que presenciava no parceiro.
Durante uma fase preliminar de seu estudo, os pesquisadores da Universidade de Manchester entregaram à mulher camisetas usadas por indivíduos com e sem Parkinson, ao que ela foi capaz de identificar todos que sofriam com a condição.
Um detalhe peculiar, no entanto, é que Joy Milne disse que uma das pessoas do grupo de controle tinha o mesmo cheiro que ela associava ao Parkinson. Conforme repercutiu a revista Galileu, oito meses mais tarde este voluntário acabou sendo diagnosticado também com a enfermidade.
Já o estudo final, que coletou amostras de pele de indivíduos saudáveis e as comparou com as daqueles que sofrem com a doença, envolveu 150 voluntários, 79 deles com Parkinson, e 71 no grupo de controle.
Quando fazemos isso, encontramos mais de 4 mil compostos únicos, dos quais 500 são diferentes entre pessoas com Parkinson em comparação com os participantes do controle", explicou médico Depanjan Sarkar, que também participou da pesquisa.
Essa mudança na composição do sebo de pessoas com a condição ocorre antes mesmo dos primeiros sintomas do mal de Parkinson aparecerem, sendo extremamente útil para o tratamento precoce — que, por sua vez, tem o potencial de desacelerar a progressão do distúrbio neurológico, assim estendendo a expectativa de vida dos pacientes.
+ Confira o comunicado liberado pelos cientistas que fizeram o estudo clicando aqui;
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