Artefato romano devolvido por americana - Divulgação/Museo Nazionale Romano
Arqueologia

A mulher que roubou — e devolveu — um artefato romano que deu a seu amado

A americana pode ter sido inspirada por outra história de devolução, em que os objetos furtados de Pompeia eram acusados de serem "amaldiçoados"

Isabela Barreiros Publicado em 27/11/2021, às 08h00

Durante a pandemia de covid-19, que acomete o mundo desde 2020, muitas pessoas que visitaram as ruínas de Pompeia nas últimas décadas decidiram repensar suas ações de devolver artefatos que haviam roubado do lugar histórico.

Uma delas foi uma jovem chamada Jess, que havia levado uma peça do sítio arqueológico italiano como “lembrancinha” enquanto fazia uma viagem turística na região em 2017 para dar de presente ao namorado.

A americana furtou um fragmento de mármore de Pompeia para dar ao amado, mas repensou a atitude e resolveu entregar a pedra à administração do Museu Nacional Romano em dezembro do ano passado.

“Para Sam, com amor. Jess, Roma 2017", escreveu no artefato histórico.

Arrependida de ter roubado um pedaço de história tão importante, Jess escreveu uma carta pedindo perdão às autoridades italianas pela atitude e, principalmente, “por ser uma norte-americana tão idiota”.

“Eu me sinto péssima não apenas por roubar este item de seu lugar de direito, mas por colocar algo escrito nele”, escreveu na correspondência. Ela explicou que até tentou apagar o que havia escrito com marcador preto, mas que, infelizmente, não foi possível.

“Foi um grande erro da minha parte e só agora, como adulta, é que percebo o quão impensado e desprezível isso foi”, completou a americana.

Embora Jess tenha devolvido a relíquia italiana que roubou enquanto visitava as ruínas em 2017, não se sabe de onde o objeto foi retirado. O mármore é originário de pedreiras da Ásia Menor e pode ter sido utilizado para a construção do Fórum Romano, importante local do antigo Império Romano, mas ainda não há certeza.

Outras devoluções

Tudo começou quando uma turista canadense, identificada como Nicole, decidiu devolver, em outubro do ano passado, os artefatos romanos que havia roubado do sítio arqueológico de Pompeia quando turistou pelo local há 15 anos.

Ela passou a insistir que as relíquias fossem levadas de volta a seu local de origem, pois, segundo ela, estavam “amaldiçoadas”. A mulher enviou uma carta confessando o que havia feito para uma agência de viagens da região junto aos objetos furtados.

Em 2005, a canadense levou da cidade dois mosaicos, pedaços de uma ânfora e uma peça de cerâmica, que ela acredita estarem sendo fonte de seu “azar”.

A mulher explicou na correspondência que, na última década, passou por problemas financeiros e lutou contra o câncer de mama duas vezes. “Somos boas pessoas e não quero passar essa maldição para minha família ou filhos”, escreveu Nicole.

“Nós os levamos sem pensar na dor e no sofrimento que essas pobres almas experimentaram durante a erupção do Vesúvio e sua terrível morte”, relatou. “Lamentamos, por favor, nos perdoe por fazer esta escolha terrível. Que suas almas descansem em paz”.

Para a administração do Museu Nacional Romano, é possível que a história de devolução de Nicole tenha inspirado Jess a devolver o artefato que havia roubado de Pompeia anos mais tarde.

“Talvez ela tenha ouvido falar da mulher canadense. O ano de 2020, dizimado pela pandemia de Covid-19, fez com que as pessoas refletissem, além de mexer com a consciência”, afirmou Stéphane Verger, diretora do National Roman Museum.

“O fato é que três anos após o roubo, ela o devolveu — é um gesto simbólico muito importante. Isso teve um impacto em mim precisamente porque ela é jovem — ela entendeu que havia cometido um erro”, completou.

O museu ressaltou em um comunicado publicado no Facebook que roubar artefatos históricos e arqueológicos é crime e custa caro não só juridicamente, mas também socialmente e historicamente, pois muito se é perdido quando esses objetos são danificados.


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