A autoproclamada 'moça livre' Leila Diniz teve uma vida intensa, sendo fiel aos seus ideais mesmo com a perseguição da ditadura brasileira
Ingredi Brunato Publicado em 02/09/2020, às 09h51 - Atualizado em 22/06/2022, às 16h36
No último dia 14 de junho completaram-se 50 anos da morte súbita de Leila Diniz, atriz brasileira à frente de seu tempo que fez tudo que estava ao seu alcance para manter-se livre, mesmo vivendo em meio ao período da ditadura militar.
A artista faleceu tragicamente em um acidente de avião que não deixou sobreviventes. Ela tinha apenas 27 anos de idade, e deixou para trás sua filha, uma bebê que tinha apenas 7 meses de vida.
Na esfera profissional, em que foi dançarina e atriz, Diniz cativou espectadores com seu talento e personalidade vibrante, mas, ao mesmo tempo, na esfera pessoal se envolveu em inúmeras polêmicas devido às suas falas sem filtro.
Em vida e em morte, Leila Diniz impactou a população brasileira, deixando sua marca em nossa cultura a despeito de quão curto foi o tempo que teve disponível para tanto.
Leila Diniz foi uma atriz de novela e cinema, além de uma figura de relevância para a sociedade brasileira durante a ditadura militar. Ela era “uma moça livre”, como a própria se chamava, embora vivesse em um regime repressivo.
Um dos episódios que melhor ilustra sua natureza irreverente é uma entrevista que Leila deu ao jornal “O Pasquim” em 1969, em que conta sua opinião sobre assuntos como amor e sexo. Opinião essa que é recheada de palavrões — que precisaram ser censurados pelo jornal, sendo trocados por asteriscos - e defende “amor livre” e “liberdade sexual da mulher”.
Um pouco depois dessa entrevista, que gerou grandes polêmicas na sociedade da época, a ditadura reagiu tornando a censura à imprensa ainda maior. Embora a medida não tenha tido esse nome oficialmente, a população sabia ligar os pontos, e logo passou a chamar a mudança de “Decreto Leila Diniz”.
A atriz brasileira era filha de um banqueiro e de uma professora de Educação Física. Eles se separaram quando ela tinha quatorze anos. Depois disso, Leila decidiu fugir de casa e passou a morar com os avós.
Começou a trabalhar já no ano seguinte, como professora de jardim de infância em Ipanema, mas só fez sua entrada no mundo do estrelato depois que se casou com o cineasta Domingo de Oliveira, aos dezessete anos.
Leila Diniz começou pequeno: fez participações em peças de teatro infantis e foi modelo de propaganda, porém não demorou muito para começar a receber seus primeiros papeis em novelas da Globo.
O papel pelo qual ela ficou mais conhecida, no entanto, foi um filme de 1966 dirigido por ninguém menos que Domingo de Oliveira, de quem ela se divorciou em 1965, após apenas três anos casada com o cineasta. Ela foi a protagonista do Todas as Mulheres do Mundo, que foi um grande sucesso de público, e segundo alguns disseram, era uma declaração de amor de seu ex-marido.
Considerada uma mulher à frente do seu tempo por muitos, as ideias e opiniões que Leila expressou durante sua vida a fizeram ser criticada tanto pela porção conservadora da sociedade, quanto pelo movimento de esquerda que se delineava no período.
Outro episódio pelo qual Leila é muito lembrada, ocorreu quando foi até a praia grávida, com um biquíni considerado 'pequeno' na época. Apesar de todas as críticas, porém, a atriz não mudou a forte personalidade. Manteve seu espírito livre, suas opiniões sem filtro e seus biquínis do tamanho que tinha vontade.
Leila Diniz morreu com apenas 27 anos, em 1971, durante um acidente de avião que não deixou sobreviventes, quando voltava de uma viagem para a Austrália, onde havia recebido um prêmio no festival de cinema de Melbourne.
O cunhado da atriz com a profissão de advogado foi no local do desastre aéreo, a fim de recolher possíveis restos mortais da brasileira, e encontrou um diário seu, que em sua última página preenchida continha uma frase incompleta: “Está acontecendo alguma coisa muito es…”.
Uma curiosidade cruel é que Leila só estava naquele voo porque tinha decidido voltar antes da data prevista, por ter ficado com saudades de sua filha, Janaína, que tinha então sete meses. Sua morte, assim como sua vida, abalou a população brasileira.
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