Retrato de Maria Amélia - Wikimedia Commons
Personagem

Maria Amélia, a filha esquecida de d. Pedro I que foi impedida de colocar os pés no Brasil

Órfã de pai aos três anos, a princesa Flor passou sua vida toda na Europa e morreu de maneira trágica antes de se casar com seu grande amor

Fabio Previdelli Publicado em 19/05/2020, às 11h23

Maria Amélia Augusta Eugênia Josefina Luísa Teodolinda Heloísa Francisca Xavier de Paula Gabriela Rafaela Gonzaga, ou simplesmente A princesa Flor, foi a única filha do segundo casamento de seu pai, dom Pedro I.

Nascida na França, ainda estava na barriga de sua mãe, D. Amélia de Beauharnais, quando o ex-imperador do Brasil rumou para Portugal tentar recuperar a coroa de sua filha mais velha, dona Maria II, que havia sido tomada pelo seu irmão mais novo, dom Miguel I.

Dona Maria Amélia na infância, ao lado de sua mãe, dona Amélia / Crédito: Wikimedia Commons

 

Pedro I tem êxito em sua missão e consegue derrotar e exilar o irmão de Portugal. Entretanto, o conflito afetou sua saúde: havia contraído tuberculose. Meses depois, o ex-imperador, já em seu leito de morte por complicações da enfermidade, recebe sua caçula para um último afago: "Sempre fale a esta criança do pai que a amava tanto... não se esqueça de mim... sempre obedeça sua mãe... esses são os meus últimos desejos”. No início daquela mesma tarde, Maria Amélia vira órfã de pai com apenas três anos de idade.

Sua mãe, então viúva, jamais voltou a se casar e dedicou a vida a supervisionar a educação da filha. Apesar da certa instabilidade que tinham morando no Palácio das Janelas Verdes, não pertenciam à família real portuguesa.

Além do mais, a Princesa Flor jamais viajou para o Brasil e o governo brasileiro relutou por muitos anos a reconhecê-la como membro da Casa Imperial, afinal, havia nascido em território estrangeiro.

Essa briga política se agravou pois, na época, d Pedro II ainda era menor de idade e o país era governado por uma regência, que acreditava que D. Amélia poderia influenciar nos negócios de Estados e, de certa forma, minar o poder central. Assim além de não ser reconhecida como uma princesa brasileira, Maria Amélia também foi impedida de colocar os pés no Brasil.

Casamento

“Uma garota de beleza impressionante e inteligência cultivada”, foi assim que o historiador. Montgomery Hyde descreveu a jovem Maria Amélia. Religiosa, inteligente e astuta, ela era dona de uma personalidade forte e marcante. Com uma educação refinada, era uma artista nata, muito hábil em desenhos e pinturas, além de ser uma pianista talentosa.

A Princesa Flor também adorava poesia e falava fluentemente português, francês e alemão. "...tem, sem saber, um talento excepcional para a dialética, uma habilidade que faria a fortuna de um jovem estudante de direito”, declarou uma de suas professoras.

A motivação da jovem por sabedoria, em grande parte, tinha como fruto o seu falecido pai. Apesar de nunca ter superado inteiramente a perda do progenitor, nutria um grande carinho por ele. “E meu pai, que me olha do céu, estaria satisfeito com sua filha?".

Desenho de autoria de dona Maria Amélia / Crédito: Wikimedia Commons

 

Sua vida amorosa começa a ganhar cor em 1852, quando o arquiduque Maximiliano da Áustria, que na época servia a marinha austríaca, lhe fez uma visita durante uma breve passagem por Portugal.

Os dois já se conheciam de uma anterior reunião familiar em Munique, em 1938. Afinal, Max era filho de Sofia da Baviera, meio-irmã de Augusta Amália, que por sua vez era avó materna de Maria Amélia. Os dois também tinha ligações por parte do arquiduque, que era irmão mais novo da Imperatriz Leopoldina, o que lhe tornava primo dos meio-irmãos da Princesa Flor.

Com todos esses laços, os dois se entrelaçaram e logo ficaram noivos. Porém, a união do casal jamais chegou a se concretizar oficialmente, já que Maria Amélia morreu de maneira prematura.

A morte prematura da Princesa Flor

Em fevereiro de 1852, Maria Amélia contrai escarlatina — uma doença infecciosa e contagiosa. Passa-se os meses e os sintomas não passam, muito pelo contrário, ela desenvolve uma tosse persistente, um dos sintomas da tuberculose.

Em agosto, decide deixar o Palácio das Janelas Verdes para se tratar na Ilha da Madeira. O local tinha fama de curar casos como o dela, como a mesma observou: "as febres desaparecem, dizem eles, como que por magia!". Ao se despedir da família, parece sentir um presságio do que está por vir. "Não é verdade, Maria, que você não vai me esquecer?".

A princesa dona Maria Amélia em seu leito de morte / Crédito: Wikimedia Commons

 

No último dia daquele mês, desembarca em Funchal, capital da Ilha, junto de sua mãe. Apesar da esperança, sua saúde só se deteriora. No início de 1853, já estava acamada e tinha consciência de que viva seus últimos momentos. "A minha força diminui dia a dia; eu posso sentir isso... estamos chegando ao começo do fim!".

Assim, na madrugada do dia 4 de fevereiro, após o padre lhe administrar os últimos sacramentos, ela conforta sua mãe em seu leito de morte. "Não chore ... deixe que a vontade de Deus seja feita; que Ele possa vir em meu auxílio em minha última hora; que Ele possa consolar minha pobre mãe!". Por volta das 4 horas da manhã ela já não apresentava mais nenhum sinal vital.


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